Out 9, 2019 | Artigo, Dioceses, Migrantes
Observações sobre a migração em Portugal
A convite da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) e da Caritas Portuguesa, na data de 23 a 29 de setembro/2019, fizemos um giro por algumas regiões e dioceses de Portugal. O programa incluía a visita à sede da Conferência Episcopal, em Lisboa, para entrevista com a rádio ecclesia e com a rádio renascença; espaço aberto no programa “tarde em família”, do canal Canção Nova de televisão, no Santuário de Fátima; lançamento do livro “Mala da Partilha”, na Assembleia Legislativa de Santarém e, na mesma cidade, reunião com um grupo de agentes pastorais da diocese, com a presença do bispo; visita a uma escola politécnica da cidade de Bragança, celebração em Amora, diocese de Setúbal…
Dessa experiência resultam algumas observações no que diz respeito ao tema da mobilidade humana. A primeira tem a ver com a história de Portugal como país de emigração, seja esta originária do território continental ou das ilhas atlânticas. Ao longo dos séculos, tem sido um povo em frequente diáspora, como tantos outros pelo mundo. Inúmeras pessoas e famílias deixaram o seu território, trocando-o por países como o Brasil, a Venezuela, os Estados Unidos, o Canadá, a Alemanha, a Inglaterra, a França, a Suíça, Luxemburgo, Bélgica, África do Sul, Angola, Moçambique, Austrália, entre outros.
Atualmente, enquanto a população de Portugal oscila em torno de 10 milhões de habitantes, estima-se em cerca de 5 milhões o número de portugueses que residem fora do país. Muitos deixaram a própria terra com o sonho de construir um futuro menos precário, tanto nos países centrais e mais desenvolvidos da Europa e América do Norte quanto em outras nações emergentes. Outros, sós ou acompanhados pela família, tentavam escapar ao recrutamento militar e às guerras pela manutenção das colônias africanas. Convém não esquecer que Portugal foi o último país a abandonar o sistema de colonialismo. Com isso, durante algumas décadas, sangrou sua juventude, ou nos referidos combates ou na fuga para escapar a eles.
Nas últimas décadas, contudo, especialmente com o fim da ditadura militar e do colonialismo, por uma parte, e com os vultosos investimentos da União Europeia, por outra, Portugal vem se tornando um país de atração, para o qual afluem considerável número de imigrantes. Entre os lugares de origem, destacam-se, em primeiro lugar, as ex-colônias, hoje países lusófonos da África: Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné. Mas também têm entrado em Portugal boa quantidade de brasileiros, romenos, ucranianos e de outros países do leste europeu. Para não poucos deles, Portugal é visto como lugar de passagem, trampolim para outros países da Europa e até para os Estados Unidos.
A grande maioria desses migrantes trabalha na construção civil, no emprego doméstico ou nos serviços em geral, tais como limpeza pública e privada, cuidado com idosos e/ou doentes, restaurantes e hotéis, lojas e bares, hortifrutigranjeiros, e assim por diante. Outros aventuram-se por conta própria, como autônomos, tanto no microcomércio quanto na venda ambulante dos mais diversos tipos de produtos. Um exemplo emblemático da presenta de estrangeiros em Portugal: das 700 crianças inscritas esse ano na catequese da Paróquia Bem-aventurado João Batista Scalabrini, em Amora, diocese de Setúbal, na grande Lisboa, ao redor da metade são filhas de imigrantes ou imigrantes elas mesmas.
Também é ilustrativo o caso de uma escola politécnica da cidade de Bragança, ao norte de Portugal, na fronteira com a Espanha. Ali promovemos um encontro com cerca de uma centena de alunos e professores. Esse estabelecimento de ensino contava no momento com nada menos do que 2 mil alunos, distribuídos em mais de 70 etnias distintas. Os alunos originam-se, entre outros lugares, das regiões lusófonas do continente africano, dos países do leste europeu, da América Latina e do Oriente Médio.
Pe. Alfredo J. Gonçalves, cs – Rio de Janeiro, 2 de outubro de 2019
Set 30, 2019 | Artigo, Dioceses, Migrantes, Santa Sé
105º Dia Mundial Do Migrante e do Refugiado
NÃO SE TRATA APENAS DE MIGRANTES
Trata-se de todos nós do presente e do futuro da família humana
O 105º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado – DMMR 2019, pela primeira vez celebrado a 29 de setembro, continua o seu firme propósito de sensibilizar para as potencialidades e necessidades do fenómeno migratório. O Santo Padre pede em primeiro lugar à Igreja, Povo de Deus, e também a todos os cidadãos de boa vontade, que se deixem interpelar pelo tema “Não se trata apenas de migrantes”.
Ao longo de sete meses a Secção Migrantes e Refugiados confiou às Conferências Episcopais do Mundo, uma campanha multimédia em diferentes línguas, a fim de que fosse amplamente difundida, a partir da palavra de Deus, do Magistério e de boas práticas, foi ilustrando que urge e é possível sonhar e construir um outro lugar, uma sociedade renovada.
A mensagem Pontifícia foi sendo apresentada gradualmente em subtemas, que vale a pena guardar e certamente nos acompanharão ao longo deste ano pastoral: trata-se dos nossos medos, da caridade, da nossa humanidade, de não excluir ninguém, de colocar os últimos em primeiro lugar, da pessoa toda e de todas as pessoas, no fim trata-se de um caminho que nos exorta à reflexão e conversão, a fim de que edifiquemos a cidade de Deus e do Homem, de forma consciente e comprometida.
Este itinerário que parte do pessoal, atravessa o comunitário até ao nível dos Estados-Nação, visa romper as diversas etapas dos conceitos de fronteira: nacionalismos populistas, leis restritivas e excludentes, xenofobia e racismo, medos, individualismos e indiferenças que atualmente se erguem e ameaçam o nosso futuro enquanto família humana.
Aceitando o desafio da Secção Migrantes e Refugiados – SMR, de colaborar com as Conferências Episcopais do Sul, a Comissão Episcopal da Pastoral Social Mobilidade Humana – CEPSMH, através das suas estruturas nacionais – Obra Católica Portuguesa de Migrações – OCPM e Cáritas Portuguesa, tomou a liberdade de convidar o Pe. Alfredo Gonçalves, sacerdote scalabriniano, e assessor para a mobilidade humana da Conferência Nacional de Bispos do Brasil, a proferir várias conferências para um público diversificado em várias Dioceses e a conceder entrevistas aos meios de comunicação social.
De 23 a 29 de Setembro, as dioceses de Setúbal, Bragança e Santarém com a colaboração de secretariados diocesanos de migrações e caritas diocesanas, puderam contar e beneficiar de uma grelha de leitura da mensagem do Papa, e um método para diagnosticar e tratar as migrações como uma oportunidade para o desenvolvimento pessoal, comunitário até à escala planetária.
No dia 24, em Setúbal na paróquia de Amora – salão da Igreja Scalabrini, o Pe. Alfredo Gonçalves apresentou aos paroquianos o seguinte itinerário: Trata-se da nossa identidade, trata-se de mudanças históricas, trata-se das desigualdades sociais, trata-se de uma legislação anti-migratória, trata-se da nossa casa comum.
No dia 27, em Bragança, no Instituto Politécnico: o itinerário proposto aos estudantes e professores de cursos profissionais foi o método dos 4 “R”. i) Rostos, ii) Rotas, iii) Raízes e iv) Respostas. Para cada ‘R’ existe uma pergunta que nos permite fazer o diagnóstico local e global: Quem são as pessoas? De onde vem para onde vão? Porquê se movem? Que respostas podem dar? E como fazê-lo?
Ao procurar responder a cada uma das perguntas resulta um diagnóstico que se traduz: numa fotografia – Quem? Num mapa – De onde? E para onde? e numa radiografia – Porquê? Que nos permite pensar e desenhar respostas adequadas às necessidades locais e globais, e perceber como podemos envolver e interligar os diversos atores essenciais: Estados, Sociedade Civil, ONG, Cidadãos Migrantes, Instituições Religiosas, na construção de um mundo mais justo e fraterno
No dia 28, em Santarém na presença do seu bispo, D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, na sala dos Atos da Casa Diocesana, a conferência, manteve como pano de fundo a mensagem pontifícia, apresentando os desafios pastorais dela resultante. Em presença estiveram vários responsáveis nacionais e diocesanos pela pastoral dos migrantes, social e educação cristã.
Importa frisar que após uma breve contextualização histórica, concluímos que a questão social e a questão migratória enquanto objeto da solicitude da Igreja nascem juntas, o que nos conduz a entender e atuar sobre a complexidade migratória de forma articulada e colaborativa.
As migrações, embora sempre tenham existido, são sinal dos tempos hodiernos, e apenas a ponta do iceberg, de algo muito maior, intenso e complexo que nos permite de uma forma interdisciplinar perceber as mudanças e encruzilhadas sociais desta globalização que exclui, descarta e mata os mais vulneráveis.
Como ultrapassar as dimensões de fronteira? Como construir pontes? Para que as pessoas tenham direito a uma vida digna e justa? Como salvar as vidas ameaçadas por leis e nacionalismos exacerbados, por culturas e religiões que alimentam a xenofobia e o racismo, por medos, egoísmos e indiferença? Como criar consciências mais maduras, pessoas mais capazes de se abrir aos outros, relacionar-se sem medo do confronto e do diálogo? Enfim pessoas capazes de se aventurar e arriscar criando espaços físicos e mentais que permitam o encontro e o convívio, possibilitando pessoas mais capazes de se abrir ao transcendente.
O migrante foi-nos apresentado como critério de salvação é ele quem nos pergunta onde está a caridade, onde está a humanidade? É na medida que eu me envolvo/comprometo que eu me salvo.
A celebração deste DMMR, agora no início do ano pastoral é um convite e uma oportunidade para colocar verdadeiramente os migrantes e refugiados no coração da Igreja, isto é na nossa agenda pastoral Diocesana e paroquial, como anseia e exemplifica o Papa Francisco. Serve este dia para nos recordar a transversalidade das migrações com outros sectores da pastoral, reconhecendo força e a responsabilidade do trabalho colaborativo e interligado. A complexidade e a intensidade das migrações assim o exigem, é urgente romper fronteiras e construir pontes, dentro das nossas estruturas eclesiais.
As pessoas em contexto de mobilidade humana contribuem para nosso amadurecimento na fé e compromisso de transformação eclesial e social. Com elas aprendemos o dom e a riqueza da diversidade, seja através da nossa Diáspora portuguesa, de modo particular os que celebram 25, 40, 50 anos de vida comunitária, os que regressaram ou estão a ponderar regressar, os imigrantes que escolheram o nosso país para recomeçar, cuidar da saúde, realizar-se pessoal e profissionalmente, os estudantes internacionais, os refugiados e requerentes de asilo que buscam um lugar seguro, as vítimas de tráfico, deslocados internos.
Como nos diz o Santo Padre na sua imensa ternura e sabedoria: “Queridos irmãos e irmãs, a resposta ao desafio colocado pelas migrações contemporâneas pode-se resumir em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Mas estes verbos não valem apenas para os migrantes e os refugiados; exprimem a missão da Igreja a favor de todos os habitantes das periferias existenciais, que devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Se pusermos em prática estes verbos, contribuímos para construir a cidade de Deus e do homem, promovemos o desenvolvimento humano integral de todas as pessoas e ajudamos também a comunidade mundial a ficar mais próxima de alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável que se propôs e que, caso contrário, dificilmente serão atingíveis.”
Santarém, 28 de setembro de 2019
Eugénia Costa Quaresma
Obra Católica Portuguesa de Migrações
Abr 24, 2019 | Artigo, Dioceses, Migrantes, Notícias, Recortes, Refugiados
As migrações fazem parte da nossa História enquanto Humanidade. A circulação de pessoas que ao longo dos tempos, atravessaram montanhas e vales, cruzaram mares e hoje cruzam os céus deveria ser natural, um ato verdadeiro de vontade; mas sabemos que nem sempre foi nem é assim. Infelizmente as migrações forçadas ainda hoje existem e assumem causas diversas, tais como perseguições políticas, étnicas ou religiosas, fugas de guerra, pobreza e catástrofes naturais, o sonho de uma vida melhor, o desejo de levar Deus a povos remotos; diante de cada um destes cenários, a resposta mais humana e edificante é a hospitalidade e não a hostilidade que, temos vindo a assistir em crescendo, expressa em discursos de ódio que revelam a xenofobia latente e resultados eleitorais perigosos para a democracia, em todos os cantos do globo.
O acolhimento exercido por todos aqueles que, em comunidade, em família ou a título pessoal, reconhecem as necessidades de quem passa ou chega constitui-se uma referência de estabilidade, um porto de abrigo, que a qualquer ser humano, deveria ser oferecido, principalmente quando se experimenta o imperativo de recomeçar.
Ser uma pessoa em contexto de mobilidade humana, implica escolher viver e essa opção acarreta o risco da vulnerabilidade e da incompreensão, suportar medos e discriminações, isolamentos e explorações, por vezes, mais difíceis de transpor que alguns muros físicos que ao longo do tempo e do espaço foram construídos, geraram periferias existenciais e refletem desequilíbrios urbanos.
Muito possivelmente por estarmos na era da globalização e da comunicação, assistimos todos os dias a terríveis atrocidades, que nos motivam e interpelam para uma consciência, cada vez maior, de que só trabalhando de forma articulada conseguimos obter resultados mais eficientes e duradouros.
Quem está no terreno e acompanha as pessoas em situação de mobilidade chega à conclusão de que só construindo pontes entre Comunidades, Regiões e Estados é possível fazer a diferença. Ousar a memória, aprender com a história, operacionalizar o que já está consagrado em Leis, Tratados e Convenções, honrar compromissos que colocam no centro a dignidade humana, a justiça e a coesão social, reconhecer os migrantes e refugiados como co-protagonistas do desenvolvimento é o caminho do futuro que precisamos de trilhar, hoje.
Nas Nações Unidas, os Estados têm assumido compromissos importantes que revelam a disponibilidade e vontade política para articular esforços ao nível da cooperação, segurança, hospitalidade, solidariedade, e assim enfrentar os desafios de um fenómeno que é legítimo. Contudo compete também ao cidadão comum reconhecer em quem migra uma pessoa com ou sem família, portadora de direitos, de uma bagagem cultural, valores, crenças, competências; aceitar o migrante como alguém que ajuda a construir a cidade do ponto de vista económico, cultural, social, espiritual, capaz de criar e participar em espaços de diálogo onde se aprende a afirmar que somos pessoas de saberes, hábitos, valores que na promoção do encontro vão amadurecendo. Compete a todos nós aprender a olhar e aceitar com gestos concretos o migrante como detentor de uma cidadania consagrada pela Convenção Universal dos Direitos Humanos e considerá-lo um merecido habitante deste Planeta Terra, nossa Casa Comum.
Partilhamos uma casa comum em pé de desigualdade, diariamente, somos recordados que as circunstâncias e os rostos da mobilidade também são mutáveis. Por isso importa conhecer e difundir os princípios e as leis que nos protegem, promovem a vida humana e ambicionam um desenvolvimento sustentável, como os 17 objetivos da Agenda 2030, assumidos pelos Governos de todo o mundo e Organizações Não-governamentais para o Desenvolvimento – ONGD, e que precisam ser cada vez mais conhecidos e apropriados pelo cidadão comum. Só desta forma tantos milhões de pessoas podem exercer o seu direito a não emigrar e permanecer no seu país de origem em condições dignas.
Importa também conhecer e acompanhar a implementação dos Pactos Globais para Refugiados e para as Migrações Ordenadas, Seguras e Regulares, aprovados em Dezembro do ano passado em Marraquexe, uma vez que estes visam proteger de forma global todas as pessoas que ponderem a necessidade de emigrar exercendo com liberdade esse mesmo direito.
Recentemente, em Janeiro deste ano foram publicadas pela Santa Sé as orientações pastorais sobre o tráfico de seres humanos, possíveis de serem consultados no site da Secção Migrantes e Refugiados. Um crime hediondo transnacional, que por assentar na exploração, desumanizar e transformar pessoas em mercadoria, precisa de ser conhecido e combatido.
A cada crente impõe-se o imperativo ético de não explorar, não lucrar, não usar de violência para com o seu semelhante, cuidar do valor da vida humana e proteger as potenciais vítimas da sedução e do engano.
As próximas Jornadas do Migrante e do Refugiado, irão assinalar-se no dia 29 de Setembro de 2019, em todas as paróquias e comunidades cristãs espalhadas pelo mundo e terão como tema: Não se trata apenas de Migrantes.
O Santo Padre confia a toda a Igreja, a partir da Pastoral das Migrações, a sensibilização para estas questões. Não se trata apenas de migrantes. São pessoas. Em Igreja afirmamos – São irmãos, não apenas migrantes. E ainda em Igreja recordamos que foi o próprio Cristo que se quis configurar com os mais pequeninos, isto é, os mais vulneráveis da mobilidade humana, deixando-nos como mandato o Acolhimento.
Em Cristo reafirmamos que a Hospitalidade faz parte do nosso ADN e colocamos os migrantes e refugiados no coração da Igreja, isto é, Papa, bispos, sacerdotes, religiosas e religiosos, leigos e leigas, que deixando-se conduzir por Deus se constituem em comunidades de fé.
Deus visita o seu Povo nos migrantes que chegam até nós, Deus faz-se companheiro de caminho através dos missionários e agentes pastorais que vão ao encontro de outros povos, e no fim, a missão é só uma constituir uma só família humana, apesar da diversidade cultural que constitui os povos. Através da hospitalidade Deus fala ao seu povo reunido de todas partes, unidos pela fé, pela gramática do amor que gera comunhão. Deus quer através daqueles que se apresentam como forasteiros, revelar-se como bom Samaritano, que quer curar-nos do egoísmo, da indiferença, do isolamento, da xenofobia.
Se nos deixarmos conduzir por Cristo, através dos migrantes, descobriremos terrenos novos e novas atitudes a semear. Encontrar e acompanhar a via-sacra dos migrantes e refugiados, confronta-nos com as injustiças da lei ou de quem as aplica, isso interpela-nos a uma nova cultura.
O conflito, o confronto sem violência, faz parte desta exigência de crescimento, a mudança interior é inevitável. Em Deus, nasce a fraternidade, apesar das diferenças.
Para prosseguirmos juntos temos que ousar reconciliar a memória, isso implica tratar as feridas e as mágoas do passado, para construirmos um futuro juntos como uma só família humana. Este sonho de Deus, atravessa o pessoal, o comunitário, o nacional até chegar ao global.
Cresce a consciência de que só de forma interligada podemos responder aos desafios, só contando com os migrantes e refugiados como co-protagonistas do desenvolvimento teremos sociedades mais justas e fraternas. Seremos mais Igreja, na medida em que soubermos trabalhar em conjunto, e por consequência mais eficazes.
Deus através do seu filho Jesus Cristo, que se revela nos mais vulneráveis e desprotegidos, aponta-nos o caminho, da misericórdia e da justiça. Quer gerar comunidades verdadeiramente abertas que afirmam a sua identidade, sendo porta que escuta e acolhe a diversidade daqueles que procuram Cristo; derrubando os muros que nos impedem de ser Igreja Católica, mãe de todos sem fronteiras.
EUGÉNIA QUARESMA
DIRECTORA DA OBRA CATÓLICA PORTUGUESA DE MIGRAÇÕES
Publicado in Diário do Minho, 4 de abril 2019
Abr 9, 2019 | Artigo, Dioceses, Migrantes, Notícias, Recortes, Refugiados
Conferência «Olhares sobre as Migrações»; Fotografia Ana Pinheiro em jornal Diário do Minho
Braga: Arcebispo assinala que «ninguém pode ficar indiferente» aos refugiados ou migrantes que pedem proteção
Braga, 06 abr 2019 (Ecclesia) – O arcebispo de Braga disse que só “uma verdadeira ação concertada dos Governos” responde à crise migratória, esta sexta-feira, na abertura da conferência ‘Olhares sobre as Migrações’, a última sessão do Ciclo Nova Ágora 2019, no Auditório Vita.
“Nenhum país resolverá o problema sozinho, só uma solução intergovernamental onde a solidariedade entre os Estados se torna efetiva e duradoura resolverá este terrível problema que envergonha os países desenvolvidos”, disse D. Jorge Ortiga.
O arcebispo de Braga, na abertura da conferência ‘Olhares sobre as Migrações’, assinalou que “só uma verdadeira ação concertada” dos Governos da Europa, referindo-se ao “Velho Continente”, vai ser capaz de responder à crise migratória e “poderá defender com humanismo os migrantes dos traficantes ou da morte do Mediterrâneo”.
“E criará como algo imprescindível e prioritário as condições para que possam permanecer nos seus países de origem terminando com os conflitos bélicos”, acrescentou.
Para D. Jorge Ortiga “ninguém pode ficar indiferente” aos milhões de refugiados ou migrantes forçados que pedem “proteção internacional” e às vítimas do tráfico e das novas formas de escravidão nas mãos de organizações criminosas.
Aos participantes da última sessão do Ciclo de Conferências ‘Nova Ágora’ 2019, lembrou que o Papa “desafia” as comunidades cristãs “a conjugarem quatro verbos – acolher, proteger, promover e integrar” – e cada um “encerra um programa” que diz que “não basta fazer de conta que problema não existe e solução diz respeito a outros”.
Para apresentarem os seus ‘Olhares sobre as Migrações’ a Arquidiocese de Braga convidou o diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações, António Vitorino, o Alto-comissário para as Migrações, Pedro Calado, e José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades Portuguesas.
“O que faz falta são vozes razoáveis, ponderadas a discutir este tema. O Papa Francisco tem sido das poucas vozes que se tem levantado a defender valores que são católicos mas não são exclusivos: Dignidade da pessoa humana, obrigação da proteção internacional, respeito pelos Direitos Humanos dos migrantes”, disse António Vitorino.
Segundo o diretor-geral da OIM, o número de pessoas que tentam atravessar o Mediterrâneo da Líbia para a Europa “diminuiu no último ano cerca de 80%” mas as políticas dirigidas às causas das migrações “são de longo prazo”, “exigem sustentabilidade no tempo”, e não se podem criar “expectativas infundadas”.
“Não há arame farpado que detenha o desespero humano; É preciso olhar para as migrações de uma maneira completamente diferente”, acrescentou, observando que “é uma agenda difícil”.
António Vitorino explicou que “às causas tradicionais” – pobreza, doença, fuga dos conflitos – a mobilidade humana é originada, cada vez mais, motivos “ligados aos desequilíbrios demográficos, as epidemias e as alterações climáticas”.
“O ritmo das migrações vai no sentido crescente e reside um paradoxo, vai crescendo a rejeição das migrações, em muitos países de destino; A realidade dos números mostram que as migrações sul-sul, entre países em via de desenvolvimento no sul global, superam em número as migrações sul-norte”, observou, dando como exemplo a que “apenas 20%” dosa africanos migra para fora do próprio continente.
Sobre o ciclo de conferências, o arcebispo de Braga explicou quando deram início “à experiência de Nova Ágora”, há cinco anos”, foi para “ouvir”, saindo dos espaços eclesiásticos, “o que o mundo sussurra com ténues gemidos ou através de gritos humanitários”.
“Caminhamos juntos para construir uma cidade dos homens mais aberta aos valores universais, aos direitos fundamentais e à dignidade de todos”, destacou D. Jorge Ortiga.
Para além das “Migrações”, ‘Poder e Corrupção’ e ‘Populismos’ foram outros temas em análise no ‘Nova Ágora’ 2019 que se descentralizou e as primeiras sessões foram em Guimarães, Vila Nova de Famalicão.
CB
Mar 13, 2019 | Artigo, Dioceses, Informações, Notícias
Integrada na campanha internacional “Partilhar a Viagem”, promovida pelo Papa Francisco, O Secretariado Diocesano das Migrações e Turismo recebeu a “Mala da Partilha”, que está a percorrer algumas dioceses do nosso País, para recolha de testemunhos de quem aceitar partilhar a sua aventura migratória.
Todo o Migrante tem uma história de vida. O que se pede é que escrevam relatando a sua experiência de imigração/emigração, que irá certamente contribuir para levar à sociedade uma visão mais esclarecedora do fenómeno migratório, com tudo o que ele provoca de positivo e negativo. A partida implica sempre alguma ruptura (cultural, afectiva…) e qualquer ruptura é sempre dolorosa. Há depois dificuldades, maiores ou menores, de adaptação, de aprendizagem da língua, , procura de trabalho, documentação… E há, felizmente muitas vezes, histórias de sucesso.
Depois de ter passado na Diocese de Bragança – Miranda, a Mala da Partilha, foi entregue à Diocese do Porto, onde ficará por duas semanas, à responsabilidade do Secretariado Diocesano das Migrações e Turismo, que, por sua vez, a passará, depois, à Diocese de Aveiro.
A Mala da Partilha passará pelas dioceses que aderiram e no final do percurso, em Maio, a Caritas Portuguesa entrega todas as cartas à Caritas Internacional, promotora deste evento a nível mundial, e esta por sua vez, as fará chegar ao Vaticano, às mãos do Papa Francisco.
Set 14, 2018 | Dioceses, Recortes, Refugiados
Bragança, 14 set 2018 (Ecclesia) – O Serviço Diocesano das Migrações e Minorias Étnicas de Bragança-Miranda está a acompanhar migrantes venezuelanos que escolhem a capital nordestina para viver e destaca-se em especial uma jovem família, com um filho que já nasceu em Portugal.
“Foi acarinhado pela Cáritas Diocesana e pela Associação Entre-Famílias que conseguiram, a tempo, providenciar o essencial para o enxoval do bebé”, disse a diretora Serviço Diocesano das Migrações e Minorias Étnicas.
Na nota enviada hoje à Agência ECCLESIA, pelo Secretariado das Comunicações Sociais
da Diocese de Bragança-Miranda, Fátima Castanheira conta que Diego, filho do jovem casal, nasceu nos primeiros dias de setembro.
“A equipa deste serviço diocesano apoiou e organizou a casinha que foi preciso pintar, compor, recuperar mobílias, tudo de forma rápida porque o pequeno venezuelano estava para chegar”, explicou.
Fátima Castanheira contextualizou ainda que a pequena casa que a jovem família alugou “precisava de quase tudo, desde mobílias, loiças, roupas entre outros bens essenciais”.
Segundo a diocese transmontana têm chegado ao seu território “venezuelanos à procura de um futuro melhor” e esperam, “para breve”, que cheguem outros elementos desta família que também escolheram Bragança para recomeçar as suas vidas depois de saírem da Venezuela, país que acolhe a segunda maior comunidade estrangeira de portugueses e vive uma crise económica e política.
Recentemente, na sua passagem por Portugal, a irmã Maria José Gonzalez, representante da Cáritas da Venezuela, alertou para o impacto da crise alimentar, da pobreza e da imigração, “um sofrimento de partir o coração”.
“Atinge os mais vulneráveis, os que vão sofrer danos irreversíveis, as crianças até aos 5 anos. Pedimos que a comunidade internacional torne esta crise visível”, destacou em declarações à Agência ECCLESIA e Rádio Renascença.
De assinalar que na Ilha da Madeira, de onde são provenientes muitos dos emigrantes portugueses atualmente radicados na Venezuela, a Paróquia da Sagrada Família também está a ajudar a integração de lusodescendentes.
CB
Migrações: Bragança-Miranda apoia família refugiada da Venezuela