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Aproximar-se para servir – a voz da Rufina

Aproximar-se para servir – a voz da Rufina

Como sabem, o Papa Francisco, inspirado na Família de Nazaré, escolheu para o  106º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, o tema: “Forçados como Jesus Cristo a fugir.”

São vários os subtemas que dão forma e completam este tema, contudo, escolhi falar sobre o subtema: “Aproximar-se para servir”, uma vez que esta minha escolha está intimamente ligada com o trabalho diário que venho desenvolvendo, voluntariamente,  com Migrantes e Refugiados, ao longo de quase 12 anos, muito em jeito de Acolhimento, Escuta, Compreensão, Aprendizagem mútua, e, principalmente, de não permitir que contem apenas como números para as estatísticas, pois, são “Pessoas como tu, como eu, como nós.”

Durante todos esses anos, foi fundamental perceber como a aproximação diária e o servir, independentemente da religião, da cultura, da língua, dos costumes,  permitiram vencer medos e preconceitos de parte a parte; aliás, obstáculos que  impedem fortemente de nos aproximarmos e de servimos com Amor, e, como conseguiram quebrar barreiras, valorizar o desconhecido, o diferente e fazer Caminho juntos.

Assim, perante uma situação que parece não ter fim e que tende a agravar-se e a aumentar,  é , pois, urgente, que, sem medo e sem preconceitos, nos aproximemos e que consigamos  ver em cada um dos Migrantes e dos Refugiados, o rosto de Jesus Cristo e ter a bondade e a humildade de abrirmos o nosso coração, num servir constante e generoso, capaz de envolver todos(as) num Amor que dignifique e adoce, e, que, igualmente, ajude a sarar as feridas tão profundas que trazem desenhadas no rosto e no olhar.

Sem dúvida, um Amor que seja capaz de, verdadeiramente, lhes devolver, a Dignidade, a Confiança, a Paz e a Esperança de uma vida melhor.

Rufina Garcia

Secretariado Diocesano da Pastoral Social e da Mobilidade Humana de Portalegre Castelo Branco

Escutar para reconciliar – a voz de Sara

Escutar para reconciliar – a voz de Sara

Nasci em Angola, em Junho de 1975, em pleno conflito armado. Da fuga da minha família para Portugal não me recordo, apenas sei que escapamos à morte por sorte.
 As primeiras memórias que tenho são dos meus quatro anos. Por essa altura, vivíamos o meu pai, a minha mãe, eu e o meu irmão num quarto de uma pensão, em Ovar. Nesse quarto tínhamos todos os nossos pertences ( que não eram muitos). Foram tempos muito difíceis. Felizmente, em 1980, os meus pais arranjaram emprego em Lisboa e puderam, a muito custo, comprar uma casa na margem sul do Tejo. É aqui, já com cinco anos, que tomo consciência de que era de ” cor”.
Eu o meu irmão estudávamos num colégio onde éramos as únicas crianças negras. Recordo -me perfeitamente de ouvir a minha professora dizer a outra: – a preta é inteligente. Na altura não tive a noção do alcance do comentário. Depois começaram os insultos dos colegas, que gozavam com o meu cabelo, a minha cor e me mandavam para a minha terra. E eu não percebia, para mim nunca tinha tido “cor”, era apenas eu. Depois disto comecei a assimilar que  me viam como uma pessoa diferente apenas pelo meu tom de pele. Foram muitas as vezes que fui alvo de racismo e do que hoje chamam buliyng. No entanto, os meus pais sempre ensinaram, quer a mim, quer ao meu irmão  a termos orgulho da nossa cor e origem e aos poucos deixou de me incomodar.
Hoje, com 45 anos, posso dizer que continuo a pensar em mim apenas como uma pessoa. Sou descendente de Portugueses, tanto do lado paterno como materno. Vivi sempre, porque já os meus pais assim viveram, mesmo antes da sua fuga para Portugal, no meio das duas culturas, sem nunca me sentir mais portuguesa ou mais angolana. E isto é algo difícil de explicar. Abraço a cultura do país em que nasci, porque assim me foi incutido e estou perfeitamente integrada neste país que me acolheu.
 Se me perguntarem se em Portugal há racismo, direi infelizmente que sim. Ainda somos olhados de lado, preteridos no que refere ao emprego e algumas vezes insultados. Existe racismo, ainda que encapuzado, pois existe a vergonha de o admitir.
Dirão que sou “sem terra”, eu direi que tenho o melhor dos dois mundos, sem sentir a necessidade de escolher.
texto: Sara Lopes
Ilustração: Luis David

Portugal: Diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações diz que «ainda há um longo caminho a fazer» para diminuir cenários de racismo e xenofobia

«É preciso sentar os extremos e conversar» para haver a reconciliação – Eugénia Quaresma

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Lisboa, 09 ago 2020 (Ecclesia) – Os recentes casos de racismo e xenofobia em Portugal levam a diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Eugénia Quaresma, a afirmar à Agência ECCLESIA que “é preciso sentar os extremos” para haver diálogo e surgir a reconciliação.

“Conseguir sentar os extremos e conversar, às vezes estão a dizer coisas verdadeiras em ambos os lados mas não se estão a ouvir, é preciso construir uma terceira via de encontro”, defende a responsável.

Eugénia Quaresma aponta que “há erros do passado que precisam de ser corrigidos” como a realidade urbana, os “realojamentos de pessoas que vivem nas periferias e sofrem todas as consequências de ali viver”.

“É preciso trabalhar na inclusão, trabalhar com os descendentes que estão afastados do percurso escolar e isso não está só nas mãos das escolas, há trabalho a fazer com a família e escola para que eles sintam que têm lugar”, justifica.

Uma das faixas etárias que preocupa a responsável são os jovens que não se sentem pertença ou integrados e “esse trabalho pode ser feito na Igreja e fora da Igreja, em conjunto”.

Os grupos de jovens são um exemplo de proposta de grupo de pares, é preciso aprender com o passado, para construir o futuro em conjunto; veja-se o exemplo que o confinamento nos trouxe, por exemplo, ao nível da música, é necessária esta riqueza da diversidade para descobrir o que nos une”.

Eugénia Quaresma citou um projeto de refugiados em Lisboa, um restaurante de comida síria, “que está sempre cheio” e que “são uma mais valia para a sociedade porque houve um processo de integração para depois promover as pessoas”.

“O ano de 2019 foi o ano nacional da colaboração e, de norte a sul do país houve iniciativas que mostraram que é possível colaborar e é urgente passar esta mensagem, o trabalho em conjunto, dentro e fora da Igrejas e entre instituições”, remata.

A Igreja Católica em Portugal vai promover de 9 a 16 de agosto a Semana Nacional de Migrações, inspirada pela mensagem do Papa Francisco, ‘Forçados, como Jesus Cristo a Fugir’, procurando apresentar “testemunhos de vida” sobre a realidade das deslocações forçadas, por causa da pobreza ou da guerra.

Durante esta semana decorre ainda a Peregrinação Nacional do Migrante e Refugiado a Fátima, nos dias 12 e 13 de agosto.

A iniciativa vai estar no centro do programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, este domingo, a partir das 06h00.

SN/OC

 

Programa 12 e 13 de Agosto de 2018

Programa 12 e 13 de Agosto de 2018

Programa

Domingo, 12 de Agosto

16:00 – Conferência de Imprensa de apresentação da Peregrinação, na Casa de Nossa Senhora do Carmo, promovida pela Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, em conjunto com o Santuário de Fátima.

18:30 – Inicio oficial da Peregrinação – acolhimento dos Peregrinos e saudação aos migrantes na Capelinha das Aparições.

21:30 – Bênção solene das velas e Rosário, na Capelinha das Aparições, seguida de Procissão das velas.

22:30 – Eucaristia, presidida por Sua Eminência o Cardeal Arlindo Gomes Furtado, Bispo de Santiago – Cabo Verde

Segunda-feira, 13 de Agosto

00:00 às 02:00 – Adoração ao Santíssimo Sacramento, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário

02:00 às 03:30 – Via-sacra, no Recinto (com início junto da Capelinha das Aparições)

03:30 às 04:30 – Celebração Mariana, na Capelinha das Aparições

04:30 às 05:30 – Eucaristia, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário

05:30 às 07:00 – Adoração e canto de Laudes, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário

07:00                – Procissão Eucarística.

09:00                – Rosário, na Capelinha das Aparições.

10:00               – Celebração da Eucaristia, presidida por Sua Eminência o Cardeal Arlindo Gomes Furtado, bispo de Santiago – Cabo Verde incluindo-se oferta do trigo, a bênção dos doentes, a consagração, terminando com a Procissão do Adeus.

 

Mensagem para a Semana das Migrações 2018

Mensagem para a Semana das Migrações 2018

Inspirando-se na Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, ocorrido este ano de 2018 a 14 de janeiro, a Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana (CEPSMH) escolheu como lema para a semana das migrações: Cada forasteiro é ocasião de encontro, Migrantes e Refugiados no caminho para Cristo. O ser humano realiza-se e é feliz no amor, para o qual foi criado, que apenas surge quando a pessoa se encontra com outra e nela descobre também a mesma dignidade e um companheiro no caminho da vida. Jesus Cristo na Sua mensagem evangélica concretiza este acontecimento, afirmando que sempre que fazemos o bem a alguém que precisa é a Ele mesmo que o fazemos e por isso temos parte com Ele na felicidade eterna (cf. Mt 25). Ora o migrante e refugiado encontra-se nessa situação e, por isso, quem se encontra com ele e lhe faz o bem, é ao mesmo Cristo que o faz, a quem os cristãos são chamados a seguir.

Na mensagem o Papa Francisco pede à Igreja e à sociedade civil para desenvolver uma ação clara em prol dos migrantes, refugiados e vítimas de tráfico humano. Pede também aos Estados membros da ONU, empenhados num Pacto Global, que enfrentem a questão migratória, propondo medidas de acolhimento, de proteção, de promoção e de integração destes irmãos nossos que batem às nossas portas, fugidos à fome, à guerra e à perseguição.

Sendo a mobilidade uma das características das sociedades modernas, é necessário que os países a integrem na sua legislação, de modo que se torne um fenómeno ordenado, legal e seguro e contribua para o bem dessas pessoas e para o seu desenvolvimento social e económico. Por isso a Conferência episcopal publicou uma nota pastoral, pedindo aos nossos governantes e à Igreja para que tenham isto em atenção.

Perante o drama dos refugiados, que fogem à guerra, à fome, à seca e à pobreza, muitos morrendo pelos caminhos perigosos, vítimas de máfias sem escrúpulos, como cristãos e seres humanos não podemos ficar insensíveis a tudo isto.

Não podemos ficar insensíveis a alguns atropelos que acontecem não apenas noutros países, mas também no nosso, muitas vezes vezes empregando pessoas de outras origens e culturas, sem lhes reconhecer os direitos a trabalho humano, remuneração justa, habitação digna, alimentação capaz, segurança social e saúde pública como aos autóctones. Ainda pior quando são vítimas de intermediários sem consciência, que lhes confiscam os documentos, os empregadores pagam os salários através destes, que ficam com parte do salário e ameaçam os seus familiares nos países de proveniência.

Algo semelhante acontece com empresas que recrutam mão de obra em Portugal para trabalharem no estrangeiro, prometendo condições vantajosas que depois não se verificam.

Embora muito se tem feito em Portugal pelo governo e sociedade civil, ainda nos resta um longo caminho a percorrer. Precisamos de rever a nossa legislação sobre as migrações, facilitando o acolhimento, a proteção, a promoção e integração dos migrantes e refugiados no país, fazendo leis justas de reunificação familiar e fiscalizando as empresas que recorrem a mão de obra estrangeira, para que para igual trabalho se pratique uma remuneração igual aos portugueses.

Também nas comunidades eclesiais há muito a fazer, prestando atenção aos estrangeiros que vivem na área das nossas paróquias, através de voluntários devidamente preparados, informando-se sobre as suas condições familiares, laborais, sociais e de culto, promovendo cursos de língua portuguesa para os que ainda sentem dificuldades de relacionamento com a nossa sociedade e, caso tenham alguma religião, ajudando-os a encontrar os ministros da sua fé. Se forem católicos, procurar nas paróquias a sua integração e, se necessário, buscar na diocese ou na Igreja em Portugal a assistência necessária, para que possam exprimir na sua língua materna a sua alma religiosa, sobretudo por ocasião das grandes festas.

É um longo e complexo processo, já em curso em Portugal, mas será o único capaz de fazer do fenómeno da mobilidade um fator de enriquecimento harmónico do mundo global em que vivemos, tornando os nossos ambientes, marcados pela mobilidade, mais pacíficos, dialogantes e integradores.

† António Vitalino, carmelita, bispo emérito de Beja e membro da CEPSMH