A igreja em França, no panorama europeu, trilhou um caminho particular e muito próprio no que concerne a pastoral das migrações: o acolhimento, a participação, a integração, a reflexão pastoral e a organização pastoral das comunidades migrantes católicas. José soube integrar-se neste percurso não fácil para um português e não partilhado por outras conferências episcopais, entre as quais se situava a portuguesa. Todavia, ele soube iluminar uma prática pastoral inovadora estabelecendo fecundo diálogo e pontes seguras para o reconhecimento e nova vitalidade missionária das paróquias.
O José da Silva, leigo profundamente consciente das implicações da sua vocação baptismal, emigrante – esposo, pai e trabalhador – que experimentou na pele, com a sua família, as vicissitudes e adversidades da emigração (vivia na diocese de Orléans), militante comprometido nos movimentos eclesiais de base, rodeado, por isso, de outros companheiros sonhadores, em boa hora foi nomeado pelos bispos de França para Director Nacional da Pastoral da Migrações. Um leigo, um estrangeiro, num lugar até então reservado aos franceses, a teólogos e clérigos. Nomeado para animar, organizar e coordenar o serviço da Igreja para com todas as comunidades migrantes de vários continentes e latitudes, e não apenas a portuguesa e lusófona.
Como, missionário scalabriniano, cruzei-me, com ele, em muitos encontros bilaterais entre Portugal e França, fóruns e congressos a nível europeu e mundial. Era um homem sábio, afável, simples, humilde, dialogante e sumamente apaixonado pelo serviço que prestava à Igreja e, por esse facto, admirado e muito solicitado como conselheiro. Comunicava sempre que podia a sua experiência de emigrante que amava partilhar, fosse no Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), fosse nos congressos mundiais das migrações, organizados pelo Vaticano, fosse em encontros mais informais e locais.
Foi uma das figuras de proa no 1º Congresso Mundial das Comunidades Portuguesas, que ajudei a organizar, na cidade do Porto, nos dias 29 a 31 de Março de 2005, para, entre outras efemérides, assinalar o centenário da morte do Beato João B. Scalabrini, de quem José era grande admirador e considerava uma das suas fontes de inspiração relativamente à eclesiologia e profecia no apostolado entre migrantes.
As sinceras condolências da minha comunidade no Luxemburgo à esposa Sofia, filhos e restantes familiares, como também o nosso agradecimento à diocese de ….. por ter dado à Diáspora Portuguesa e ao serviço da Igreja, em favor das Comunidades portuguesas, um filho distinto e exemplar na sua vida, no trabalho e na militância cristã no mundo.
Rui M. da Silva Pedro cs