A HOSPITALIDADE MÚTUA, CCIT
De 22 a 24 de abril realizou-se o Encontro anual do CCIT (Comité Católico Internacional para os Ciganos) na abadia de St. Ottilien, Baviera, Alemanha. O tema do encontro foi “A hospitalidade mútua”.
O Cardeal Michael Czerny S.J., Prefeito ad interim do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral, na sua mensagem aos participantes no Encontro, afirmou: desejo exprimir a cada um e a cada uma a gratidão do Papa e a de toda a Igreja por terdes escolhido estar entre irmãos e irmãs que, infelizmente, fazem parte dos últimos, dos marginalizados de longa data nas nossas sociedades ditas avançadas. O tempo do COVID talvez tenha posto mais em relevo o grau de marginalização, ou mesmo de esquecimento, ou ainda a função de bode expiatório destas comunidades que pagaram um preço muito elevado em todos os lugares onde estão. É por isso que desejo unir-me a estes agradecimentos, porque o cuidado pastoral pelos ciganos é uma preocupação que temos a peito no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral ao qual presido, e não apenas por isso é mencionado na nova Constituição Apostólica Praedicate Evangelium.”
“O Papa Francisco recorda-nos que esta opção pelos últimos decorre do timbre trinitário que transforma o cosmos num entrelaçado de relações, o que torna propícia uma espiritualidade do acolhimento e da solidariedade global no diálogo (cf. Veritatis Gaudium, 4 (a). De facto, o caminho da hospitalidade não deixa ninguém para trás, porque acontece no interior de um povo, não é um caminho solitário. Esta perspetiva de vida abre-se naturalmente ao próximo.”
“O CCIT vive a dimensão da espiritualidade do acolhimento, que permite construir uma relação de amizade baseada num verdadeiro intercâmbio, em pé de igualdade entre Ciganos e Gadgé. Esforça-se por manifestar e por viver a mensagem do Evangelho que encoraja a acolher os outros, sobretudo aqueles que são os mais frágeis na sociedade, como ” encarnações vivas de Cristo”. Os seus membros esforçam-se por construir pontes entre dois mundos culturais diferentes, na tentativa de construir uma comunidade em que a hospitalidade e a fraternidade cristãs universais que são proclamadas se tornem verdadeiramente realidade. Isso exige também que as comunidades de fiéis pratiquem diferentes formas de hospitalidade e de acolhimento para com os ciganos que chegam.”
Na homilia de Sábado, o Bispo Dr. Mathias Herinric disse: “No que diz respeito aos ciganos, existem numerosas imagens e representações que estão profundamente enraizadas nas nossas sociedades, que demasiado frequentemente se tornaram preconceitos e que causaram danos terríveis na nossa história.
Devemos lutar sempre e em todo o lado contra estas imagens negativas e contra estes preconceitos. É por isso que a regra também aqui se aplica: não deves conceber uma imagem – sobretudo uma imagem falsa – mas deves deixar-te ir ao encontro do que de início parece estrangeiro ou estranho.
É por isso que temos necessidade de uma cultura da hospitalidade que se abra verdadeiramente ao outro, que o aceite e o respeite precisamente na sua diferença.”
Na conferência principal, intitulada “Somos Ciganos e estamos sedentos de hospitalidade”, Mons. Bruno-Marie Duffe, Secretário-Geral do Dicastério (Vaticano) para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (2017 – 2021) disse:
“Acolher, proteger, promover, integrar”
Estes quatro verbos que se tornaram famosos no ensino do Papa Francisco, a partir da sua mensagem para o Dia Mundial da Paz, no 1º de janeiro de 2018, sobre o desafio da fraternidade relativamente aos imigrantes, chamam-nos a desenvolver aquilo a que se poderia chamar uma missão de hospitalidade, de viver entre nós, com aqueles que vêm bater à nossa porta e com aqueles que nos pedem asilo e proteção. Mas, compreendemo-lo bem: estes quatro verbos podem e devem declinar-se e ser vividos de forma recíproca: acolher-se, proteger-se mutuamente, encorajar-se e integrar-se uns com os outros, numa comunidade que se tece, de geração em geração, como um grande manto para cobrir os ombros daqueles que têm frio.
A hospitalidade, na sua forma acabada – que é a forma última da caridade – introduz-nos numa relação de aliança que honra a dignidade do outro e se repercute em nós, na estima por nós próprios. Quando abro os braços e a inteligência, abrem- se diante de mim braços e uma outra inteligência. Assim, o acolhimento não consiste em mostrar ao outro que somos bons “para ele”, mas em viver “com ele”, uma consideração na qual ele me revela a mim mesmo e me mostra quem nós somos, um e o outro. Trata-se, portanto, de viver um COM, mais do que um PARA e um NÓS maior do que um EU. Descobrir o que o outro leva nele, mais do que lhe mostrar o que nós próprios levamos. De facto, o outro oferece-nos a chave da compreensão do amor ao qual aspiramos e que não se vive plenamente senão na partilha. Tu trazes-me o que me falta e, na nossa partilha, o nosso pão e a nossa humanidade ganham um gosto e um sabor novos.
Ao descrever a situação dos ciganos na Alemanha, o Diretor Nacional da Pastoral dos Ciganos, P. Jan Opiela que organizou o acolhimento do Encontro, disse que a estrutura da Pastoral para toda a Alemanha que abrange 27 dioceses é de um bispo, um diretor nacional, cinco encarregados de missão para seis dioceses, e um funcionário que é também ponto de contacto e secretário. As principais atividades são participar em “jornadas católicas”, estar presente nas escolas e centros comunitários, dar a conhecer a vida e a cultura dos Roma (ciganos), estar próximo das pessoas, acompanhá-las nas suas situações pessoais, sejam elas quais forem. Com o afluxo de refugiados, muitos Roma de países de fora da União Europeia viram as suas hipóteses [de integração] desaparecerem, tanto mais que os procedimentos de identificação duram anos, o que de modo nenhum favorece a integração e o incentivo à educação, e que, pelo contrário, leva alguns a aproveitarem-se disso para ganhar dinheiro ilegalmente. No entanto, trabalhadores migrantes vindos da Roménia e da Bulgária, que fazem parte da União Europeia, conseguiram integrar-se no mercado de trabalho na Alemanha. Por exemplo, a cigana Nizaquete (Niza) Balimi, nascida em 1979, chegou com os seus pais à Alemanha com 14 anos, como sobrevivente do Kosovo; desde 2014, trabalha como advogada.