Este número da Caravana está focado na ousadia do Papa Francisco, na sua parrésia, termo que ele tanto gosta de utilizar. Num bairro da Eslováquia onde, com assinaláveis exceções, ninguém queria entrar, o Papa Francisco foi visitar ciganos ignorados pela sociedade. E depois da visita falou com entusiasmo de como foi ao encontro dos ciganos, de como falou com eles e os ouviu. O Papa Francisco foi assim dar exemplo urbi et orbi, do que é ser cristão: inclusivo e não exclusivo; de que não se pode proclamar como cristão e católico quem opta, tantas vezes publicamente, por discursos de ódio e de discriminação e ou com o seu voto, ou com as suas atitudes, ou com as suas teorias, por excluir alguém, ou ignorar alguém, ou categorizar alguém que já está nas margens da sociedade, como a excluir da sociedade, a não ser ajudado, a não ser apoiado nos seus esforços pela dignidade à qual, como o cristianismo ensina, todos sem exceção têm direito.
Mencionando, muito embora, notáveis iniciativas como a da próxima LEFFEST, este número inclui algumas notícias confrangedoras como a da paralisia que infelizmente tantas vezes infeta a política, com expressão na atitude das autoridades de Beja relativamente ao recurso aos novos meios de resolver os problemas endémicos de habitação de uma parte de forma alguma ignorável da população portuguesa, de concidadãos nossos, de irmãos nossos, de pessoas que têm os mesmos direitos que todos nós e que não podem ser vítimas da má gestão que as autoridades que são nossas fazem dos recursos que têm precisamente para darem prioridade a resolver os problemas mais fundamentais dessas pessoas.
Francisco Monteiro