A OPÇÃO PELOS POBRES
A opção da Igreja pelos pobres (Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, nº 198) tornou-se real, visível e paradigmática nas notícias a que damos relevo neste número, protagonizadas pelo Cardeal Turkson, um dos colaboradores mais próximos do Papa Francisco e portanto mais em comunhão com os anseios do seu coração, movidos pelo Espírito que o inspira. Nem sempre esta opção é tornada realidade, pelo menos em todas as suas vertentes culturais. Entretanto há exemplos notáveis das sinergias que podem ser geradas pela colaboração entre uma entidade oficial, uma grande instituição de desenvolvimento social, uma importante instituição de apoio social e uma associação cigana, como foi o caso de Beja. Este é um exemplo dos resultados que uma associação cigana pode obter na prática e no terreno quando sabe solicitar e congregar apoios e financiamento. Importa ainda realçar a notável notícia de como uma Câmara municipal, a de Almeirim, soube atuar para dar emprego a ciganos contrariando fantasmas e inércias, mas em vez disso atuando, fazendo, realizando.
Numa segunda face da realidade cigana, temos ainda o triste e histórico fanatismo que as conveniências políticas e económicas tendem a calar e a esquecer e que resultou no martírio de 7000 ciganos, há pouco mais de um século, na Arménia. E os preconceitos que quando são investigados deveriam fazer corar de vergonha os seus autores e que infelizmente tendem cada vez mais a ser moeda de troca de votos e de popularidades.
Finalmente queríamos focar um tema recorrente nos dois últimos números da Caravana e que persiste em eternizar-se. Ao abrigo de normas e disposições camarárias de há muitas dezenas de anos e que são zelosamente invocadas e cumpridas por autoridades para quem o conceito de autoridade e as conveniências políticas apagam completamente ao ponto de ignorarem o conceito de compaixão, para não dizer de coesão social, os ciganos compulsivamente nómadas continuam a ser uma triste, lamentável e vergonhosa realidade. Expulsos de terra para terra porque não pertencem a nenhuma terra ou nenhuma terra quer aceitar que nasceram lá, estes ciganos que importa identificar, com nomes e logo com números, mas primeiro com nomes, porque os têm e são pessoas, que muitos gostariam que não fossem, mas são-no, gostariam de deixar de ser nómadas, anseiam por ter um poiso como qualquer cidadão que o são. Mas o passa responsabilidades é sistémico, tudo na mais estrita legalidade. Mas existe legalidade quando a pessoas lhes está a ser negada a legalidade da cidadania? Importa olhar de frente para este problema e resolvê-lo de uma vez por todas, de modo que brevemente e não no próximo século se possa dizer não há mais nómadas compulsivos em Portugal. Como pessoas bem intencionadas e determinadas um dia disseram: vamos acabar com as barracas. E muitas barracas acabaram. Se as barracas são importantes e não há dúvida que o são, as pessoas que nem barracas têm, não são ainda mais importantes?
Francisco Monteiro