A Caravana aproxima-se rapidamente do nº 100 da 3ª Série. A capa deste número é, intencionalmente, um grito. Tal como temos “gritado” tantas vezes no decorrer da já longa história da Caravana que ecoa de alguma forma o trabalho da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos, há 47 anos.

O grito deste número é bem evidente. Em pleno Natal, como é possível que seres humanos como nós, nossos irmãos em Cristo, vivam, em pleno século XXI, abandonados, escorraçados, excluídos, ignorados, exceto pelo bom “Samaritano” que se chama Fernando Moital que os conhece pessoalmente, que há muitos anos os assiste, como o bom Samaritano assistiu o homem assaltado e maltratado da parábola de Jesus? Segundo Fernando Moital, são dez as famílias ciganas nómadas compulsivas que estavam, neste Natal, acampadas em Évora, tendo cerca de 50 crianças, entre as quais estão as três crianças da foto. Ainda segundo Fernando Moital, haverá entre 30 e 40 agregados nas mesmas condições, presentemente no Alentejo.

Quem ouve este grito? Num tempo em que se agitam as ambições políticas, algumas fundadas em objetivos claramente definidos de “dividir para reinar”, espalhando o ódio, o desprezo pelo ser humano, a discriminação como instrumento para ganhar o voto, por quem se diz católico praticante. Mas quem faz parte das miseráveis percentagens que qual ouro de Ali Babá na sua caverna, são tão cobiçadas, a ponto de justificarem todos os meios e o desprezo de todos os princípios? São católicos? Não, não podem ser, porque a Igreja e à sua frente o Papa Francisco defende exatamente o contrário, basta abrir a recente Encíclica “Todos Irmãos”. Será que o Papa, para alguns católicos, se enganou e deveria ter escrito: “Apenas Alguns Irmãos”? Serão de cristãos os tão pretendidos votos? Não, não podem ser, porque Jesus Cristo disse, viveu, morreu e ressuscitou por todos os homens e mulheres e não apenas por alguns. E esteve sempre ao lado de quem era excluído: não pode ser cristão quem alinha com a exclusão.

Neste princípio de Ano Novo vamos todos refletir, a quem compete, agir e acima de tudo amar a quem, como no Grito de Munch, nos pede um pouco do nosso amor.

Francisco Monteiro