Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos

Família Cristã ( Mai)
Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos
Quebrar os muros do preconceito
Há cerca de quarenta mil ciganos em Portugal. Quase vinte por cento vivem em barracas em condições miseráveis. Mas o maior problema continua a ser a discriminação. A pastoral dos ciganos quer acabar com os preconceitos de todos, a começar pela Igreja.
Dinis Abreu, Presidente da Ciglei, uma associação de ciganos de Leiria, refere que o papel da sua associação está bem definido: “Temos a tradição que temos que manter, mas temos de evoluir na mentalidade. O meu objectivo é esse: manter com inovações”. Mas identifica dois obstáculos: “muita discriminação e muito racismo”.
Dinis Abreu que se queixa da desunião entre os ciganos, tem contado muito com o apoio da ONPC: em 2005 representou Portugal na Primeira Assembleia Geral do Fórum Europeu de Ciganos, em Estrasburgo. Tem a ideia de vir a fazer uma programa semanal ou quinzenal na televisão sobre os ciganos onde dê a conhecer as suas tradições e festas. Para isso conta com o apoio de Francisco Monteiro (FM), Director Executivo da ONPC. FM que há uma década trabalha com os ciganos revela a paixão com que se dedica a esta missão de evangelização e acção social. Segundo ele, “muitas coisas mudaram, mas a discriminação e os preconceitos continuam a ser os principais problemas da comunidade cigana em Portugal.” E acrescenta que a ONPC dá um apoio social importante a associações de ciganos por todo o país e às comunidades.
A luta contra os preconceitos é uma batalha diária. Os ciganos são frequentemente expulsos de lojas e mesmos das localidades por onde passam. E apesar de a mensagem de amor que Deus nos deixa, esta discriminação existe também por parte dos católicos. “A Igreja, muitas vezes, absorve a cultura ambiente. Se a cultura ambiente é não querer ciganos… muitas vezes, a Igreja não quer falar de ciganos.” E recorda que a caridade é para toda a Igreja e não só para a pastoral dos ciganos. Lembra ainda o Comité Católico Internacional para os Ciganos que defende que “que os ciganos têm todo o direito de preservar a sua cultura: a cristianização terá de se operar no interior dessa cultura e é aí que os agentes da pastoral os poderão ajudar e acompanhar.”
A habitação e a escolarização são outros problemas da comunidade cigana, nomeadamente a escolarização das raparigas, porque retiram estas das escolas quando chegam à fase da puberdade com receio que percam a virgindade antes do casamento. A falta de escolarização cria problemas para conseguir emprego. O Rendimento Mínimo Garantido tem ajudado mas só uma minoria tem avançado um pouco mais.
Em 2000, o projecto DIGNIDADE concluiu que 18% dos ciganos vivem em barracas, onde “não têm água, luz ou saneamento,” vivendo “abaixo do limiar da pobreza, em locais que representam forte perigo para a saúde pública, pois são autênticos focos de doenças.”
Para FM o realojamento dos ciganos é fundamental, devendo ser acompanhado “antes do realojamento mas também depois na adaptação a uma casa e à gestão do rendimento mensal.” Se tem tido momentos menos agradáveis, FM também recorda muitos aspectos positivos. FM considera que a Igreja Filadélfia tem tido benefícios para os ciganos: “tem ajudado muito a contrariar o alcoolismo, a desonestidade e a droga.”
Pela primeira vez comemora-se, este ano, o Dia do Cigano a 24 de Junho, sob o tema “Conhecer para a Interagir”. FM conclui: “Não peço a ninguém que ame os ciganos mas apenas que os aceite.”