Projectos para tirar ciganos da sombra

Jornal de Notícias – internet (24 Mai)
Projectos para tirar ciganos da sombra
Olga Mariano decidiu, há sete anos, juntamente com quatro colegas dum curso de mediação sócio-cultural, fundar a Associação de Mulheres e Crianças Ciganas Portuguesas (AMUCIP). Considerada um marco histórico, Luís Pascoal, do Gabinete de Apoio à Comunidade Cigana (GACI) do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME), afirma que “até agora tínhamos muita gente a falar dos ciganos, mas poucos ciganos a falar”. O GACI identificou 18 associações ciganas com existência legal e iniciou contactos com cada uma delas, cujo objectivo é, segundo André Jorge, do mesmo Gabinete, “chamar à participação”.
Em todos os inquéritos os ciganos são o maior alvo de discriminação racial em Portugal, apesar de serem a maior minoria étnica na Europa, com 10 a 12 milhões, sendo crescente a pressão para novas soluções.
O antropólogo José Pereira Bastos, uma das vozes mais críticas em defesa dos portugueses ciganos, lamenta que os ciganos sejam “um assunto tabu”, já que até os números são um assunto tabu, porque a Constituição não permite o seu recenseamento. Estimando-se em cerca de 50 mil os ciganos existentes em Portugal, Luís Pascoal alega “estar mais preocupado com o que se faz, do que com a quantificação”. Uma das prioridades é o incentivo à escolarização e a capacitação para a vida no século XXI”. Estão actualmente identificados 16 projectos do programa Escolhas que envolvem ciganos (cinco na região Norte, igual número a Sul e seis no Centro).” Outras metas são o “valorizar experiências e dar formação sobre cultura cigana aos professores”.
Olga Mariano e as colegas da AMUCIP trabalham em escolas, hospitais e outros serviços onde lidam regularmente com ciganos. Mas as suas actividades abarcam toda a comunidade: criaram um grupo de dança (As Zíngaras), promovem tertúlias sobre temas concretos como a higiene ou o emprego, e fazem teatro.
Catarina Marcão, do Projecto Escolhas, na Ameixoeira (Lisboa), chega a acompanhar jovens à procura de emprego e afirma que a recusa, perante um cigano, “é real”. José Falcão da Associação SOS Racismo, afirma que “existem alternativas apresentadas por Associações Ciganas a quem não é dado apoio”. A APODEC foi obrigada a suspender o projecto formativo Oficinas Romani por falta de financiamento, e a Associação Música, Canto e Dança Cigana está há um ano e meio sem sede por causa da mudança promovida pela Câmara do Porto, do Bairro de S. João de Deus para o Lagarteiro.
A Igreja Evangélica Filadélfia Cigana é apontada como a religião maioritária dos portugueses ciganos, porque segundo o Pastor Sidney, a linguagem é adequada à realidade e problemas sentidos pelos ciganos.
Pereira Bastos defende políticas de discriminação positiva, por exemplo a consagração de uma quota de vagas em todos os níveis da função pública, à semelhança do que foi feito na Índia, para “intocáveis” e “tribais”. A Hungria e a Alemanha declararam formalmente os ciganos como uma minoria étnica. Alguns Partidos defendem que a etnicização é uma forma de guetização. Com o ataque à venda ambulante, José Pereira Bastos acusa as autoridades de estarem a fazer a “decapitação económica” dos ciganos.
Olga Mariano afirma que nem tudo é negativo na “liberdade forçada” dos ciganos já que “desenvolvemos um espírito de extrema solidariedade”. E é dessa união que nasce a alegria cigana. “Nós somos um povo que não programa e vive o presente.