Nas noites de Inverno, junto ao calor da chaminé, o meu avô falava dos ciganos velhos. “As coisas já não são como dantes” dizia-me. “Tudo mudou, dantes tínhamos pouco, mas éramos felizes e a família estimava-se e ajudava-se. Todos íamos em socorro daquele que não tinha. E agora temos pa comer de sobra e até televisão. Mas as coisas mudaram, já tudo nos aborrece, até que venha a família”. …
“LAS HISTORIAS DE MI ABUELO”
Nas noites de Inverno, junto ao calor da chaminé, o meu avô falava dos ciganos velhos. “As coisas já não são como dantes” dizia-me. “Tudo mudou, dantes tínhamos pouco, mas éramos felizes e a família estimava-se e ajudava-se. Todos íamos em socorro daquele que não tinha. E agora temos pa comer de sobra e até televisão. Mas as coisas mudaram, já tudo nos aborrece, até que venha a família”. …
O mundo que nos coube viver conhece um tempo de progresso, de dignidade da pessoa, de uma certa igualdade e respeito. Mas tudo isto que é tão bom, trouxe, para ciganos e não ciganos, a perda da família, do diálogo, da hospitalidade. …
Recordo uma família cigana que vendia cestos de cana; ela estava a fazer uma cesta e ele, enquanto cozia o enredado, cantava-lhe:
Esta liberdade que temos,
esta alegria que vivemos,
este pão que nos resta,
e este céu que nos cobiça.
Nem os reis no palácio,
nem os senhoritos no restaurante,
se estimam como tu e eu nos estimamos.
Não temos nada e tudo nos sobra.
Esta filosofia de vida é o dom mais precioso e o maior tesouro que um povo pode ter. Isto não é ser-se vago, não querer trabalhar; é, simplesmente, viver sem angústias, sem invejas, com a naturalidade dos que se sabem amados por Deus e que é dele que nos vem tudo. …
Agora a resposta é muito pessoal. Cada um deverá sentar-se e olhar para dentro de si. Hoje em muitas casas já não há chaminé, mas sim que haverá uma mesa camilha; posso interessar-me por conhecer os vizinhos do bloco, visitar os primos e tê-los presentes nos momentos importantes da minha vida, estar atento àquele que está a passar mal e ter o melhor cadeirão da casa para essas pessoas que guardam a melhor história que eu possa escutar.
E dar graças a Deus por tudo o que Ele nos dá.
P. António Jesus Heredia Cortés
Tradução de excertos de conto do Autor (2004)