A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagrou inegável avanço civilizatório em termos das garantias dos direitos inalienáveis da pessoa humana. O trecho acima, da Carta de São Tiago, foi uma antecipação do espírito da Carta da ONU sobre os direitos humanos, que aproxima o homem das leis de Deus.


PRECONCEITO A UMA ETNIA

“Meus irmãos, a fé que tendes em Nosso Senhor Jesus Cristo Glorificado não deve admitir acepção de pessoas. Pois bem, imaginai que, na vossa reunião, entra uma pessoa com anel de ouro no dedo e bem vestida e também um pobre com sua roupa surrada, e vós dedicais atenção ao que esta bem vestido. Dizendo-lhe: “vem sentar aqui, à vontade”, enquanto dizeis ao pobre: “Fica ai, de pé”, ou então: “Senta-te aqui no chão, aos meus pés” – Não fizestes, então, discriminação entre vós? E não vos tornastes juízes com critérios injustos?”(Tg 2, 1-4)
A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagrou inegável avanço civilizatório em termos das garantias dos direitos inalienáveis da pessoa humana. O trecho acima, da Carta de São Tiago, foi uma antecipação do espírito da Carta da ONU sobre os direitos humanos, que aproxima o homem das leis de Deus.
Mas, diante de algumas realidades vividas por estes dias, tenho me questionado sobre a plena realização do direito da Pessoa Humana. Atitudes do presente que lembram realidades medievais nos remetem à carta de São Tiago, nos levando a indagar se não “estamos nos tornando juízes com critérios injustos?”
Se examinarmos o que ocorre atualmente com algumas etnias, ficamos estarrecidos. É o caso da situação do povo cigano no Brasil e no Mundo, sentenciado a priori, pelo forte preconceito e injustiça contra a cultura e o povo cigano.
Um pequeno, mas contundente exemplo desse fato pode ser narrado com as vaias recebidas pela cantora Madonna em dos seus shows recente, no qual ‘ousou’ defender a cultura dos povos ciganos. O mais curioso é que isso aconteceu justamente na Romênia, o país com a maior população cigana do mundo.
Os noticiários da imprensa que repercutiram o fato expuseram os comentários de leitores ente os quais causaram perplexidades opiniões como: “devemos banir os ciganos desta cidade ou, tal cigano é muito perigoso e põe em risco a vida de várias pessoas” ou até mesmo “devemos voltar o regime nazista e exterminar os ciganos da face da Terra”. É difícil acreditar que isto acontece em pleno século XXI, mas existe e não muito longe de nós.
Outros fatos têm nos levado a ver de outro ângulo a realidade cigana em nossa região, como em toda a realidade brasileira,os ciganos têm sido “condenados” por uma ação individual e interesseira ou até mesmo para atingir certas realidades ou pessoas que muitas das vezes sempre acolheu, defendeu os ciganos e os mais necessitados, percebemos, muitas vezes, nestas ações um jogo diabólico na busca pelo poder e na falta de respeito pela Pessoa Humana e de seu Direito, infligindo assim o que diz a Declaração Universal dos Diretos Humanos que no seu artigo primeiro “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.”
É importante entrarmos em um caminho de conversão e revermos algumas atitudes para que possamos não nos tornamos, cada vez mais, “juízes com critérios injustos” e nos afastarmos completamente do respeito pela Pessoa Humana usando meios muitas vezes ilícitos para justificar e condenar. Atualizando filósofo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527) que em sua obra “Príncipe” diz: “Os fins justificam os meios”.
Em novembro de 2008, no sexto Congresso Internacional da Pastoral dos Nômades, em Freising – Alemanha. Um jovem cigano com palavras conclusivas ao Congresso fez um convite para derrotar o racismo: “Devemos combater o racismo não com as armas, mas, com o amor, o trabalho e a humildade, provando que para além dos nossos defeitos, também temos os nossos valores”. Portanto, considerando o tratado dos direitos humanos e o valor ético, social e cristão da pessoa, nunca deveríamos fazer acepção de pessoa.

Eunápolis, 09 de setembro de 2009.

Dom José Edson Santana Oliveira.
Bispo diocesano de Eunápolis.
Bispo Reponsável pela Pastoral dos Nômades do Brasil.
Texto amavelmente enviado pelo Pe. Wallace do Carmo Zanon, Director Executivo da Pastoral dos Nômades do Brasil