“Quem precisa de luzes de Natal nas ruas quando temos de poupar energia para ter escolas abertas?”

Michael O’Flaherty (MOF) Diretor da Agência Europeia para os Direitos Fundamentais (FRA) diz que “há necessidades humanas básicas mais importantes do que ter ruas brilhantes”

excertos/síntese da entrevista dada ao Público na Web Summit do início de novembro em Lisboa

Referindo-se ao “impacto da situação (da guerra) da Ucrânia dentro da UE”, MOF diz que “houve um acolhimento fantástico, mas também houve problemas com diferentes impactos nos Estados-membros. Os ciganos, por exemplo. Estamos muito desapontados e preocupados com a forma como os ciganos provenientes da Ucrânia sofreram frequentemente um tratamento discriminatório. Isto é um problema que atravessa várias fronteiras.”

À pergunta do Público se “existe um problema sistémico de discriminação na Europa” da população cigana, MOF respondeu: “absolutamente. A situação dos direitos humanos da população cigana é um desastre e uma vergonha. Deveríamos ter vergonha. Existem seis milhões de ciganos na UE e não há nenhum indicador em que não estejam nas margens da sociedade.  Têm em média menos dez anos de esperança de vida do que as restantes pessoas e 80% são pobres. Isso é inaceitável e não é culpa dos ciganos, é das nossas sociedades. O racismo não é culpa das vítimas, é dos racistas.

Publicámos há dias (ver Caravana nº 106 e o presente número) os dados sobre a situação dos ciganos na Europa, e Portugal não se sai nada bem, tem dos piores dados a nível europeu. É muito importante que neste país haja uma conversa nacional sobre isto. Portugal tem bons indicadores no que respeita aos direitos da comunidade LGBTI+, porque é que não tem para a comunidade cigana?”

À pergunta: “em Portugal, a conversa sobre ciganos foi iniciada pela extrema-direita. Como é que outros países europeus têm feito?”, MOF respondeu: “bem, para começar, ninguém está a fazer um trabalho particularmente bom no que toca à comunidade cigana. Em nenhum lugar se pode dizer que os ciganos são respeitados como concidadãos numa sociedade de iguais. E temos de começar por reconhecer que é um problema nosso. Não vejo isso acontecer em toso o lado. Em segundo lugar, temos de investir fortemente junto da comunidade cigana, o que significa fortalecer a sua sociedade, porque é realmente muito importante percebermos o que é que eles querem e depois abordar esses assuntos. … Temos de ter planos nacionais de ação que abranjam educação, habitação, saúde, segurança social, com prazos e medidores de sucesso.”