Mensagem para a Semana dos Seminários 31 out. - 7 nov. 2021
Seminário: estar com Cristo para ser enviado
Na Semana dos Seminários de 2021 somos iluminados pela frase do Evangelho de Marcos ─ «Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar com o poder de expulsar demónios» (3, 14), depois de, no ano passado, nos termos inspirado no versículo precedente ─ «Jesus subiu a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele» (3,13).
A referência ao Evangelho, sempre decisiva em todos os aspetos da vida cristã e da ação pastoral da Igreja, ajuda-nos a olhar para a realidade dos seminários como um tempo e um espaço para que aquele que é chamado à vocação presbiteral esteja com Cristo, aprofunde a sua intimidade com Ele, faça caminho com Ele, para depois ser enviado a proclamar a boa nova e servir os seus irmãos. O estar com Jesus aparece como condição prévia e indispensável para o envio em missão.
O seminário é, pela sua natureza, uma comunidade formativa, um tempo de «caminhar juntos». Cada membro tem a possibilidade de estar com Cristo e de O seguir como discípulo, experimentando a familiaridade com a sua pessoa e aprofundando o conhecimento da sua palavra. Este percurso pessoal, favorecido e estimulado pelo contexto comunitário, deverá ser o de uma progressiva e gradual «configuração do seminarista com Cristo, Pastor e Servo, para que, unido a Ele, possa fazer da sua vida um dom de si aos outros» (RFIS, 68).
Correspondendo à fase da formação inicial, o seminário sempre teve, e continua a ter, um papel determinante no estilo, no modo de ser presbítero em cada diocese. Contudo, não podemos esquecer ou diminuir, neste processo formativo, a importância da família ou da comunidade cristã, do meio escolar ou do grupo de amigos, dos movimentos e outras realidades eclesiais, bem como a influência crescente de uma cultura cada vez mais digital.
Esta semana é oportuna para reconhecer que os seminários são instituições marcantes em cada diocese. São lugares que evocam memórias únicas, momentos e vivências inesquecíveis do percurso pessoal e da história das Igrejas locais. Mas é sobretudo ocasião para tomar consciência da realidade atual, que, em alguns casos, não deixa de ser preocupante, dado o reduzido número de alunos. Diga-se, porém, que esta situação não é nova, mas tem sido constante nas últimas décadas.
Olhar com fé e realismo para o contexto presente leva-nos também identificar e valorizar os sinais promissores e as tendências que alimentam a esperança que, importa sublinhar, radica sempre na convicção de que o Senhor da messe não deixa de chamar e enviar «trabalhadores para a sua messe» (cf. Mt 9, 38). Um sinal digno de referência é a percentagem cada vez maior de candidatos ao seminário provenientes de novos meios sociais e culturais e com percursos pessoais diversificados. Por outro lado, merece ser sublinhado o esforço feito pelas equipas formadoras dos seminários em ordem a uma renovação e atualização dos processos formativos, com inspiração na Exortação Pós-sinodal de João Paulo II, Pastores Dabo Vobis, e na mais recente Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, da Congregação para o Clero.
Mais do que exaltar glórias do passado ou carpir preocupações do presente, será mais sábio e útil sonhar e preparar o futuro, tentando discernir os apelos do Espírito. De acordo com os desafios do Papa Francisco, a renovação do rosto da Igreja passará por ser mais sinodal e menos clerical. Será o de uma Igreja menos assente ou dependente da figura do presbítero; será o de uma comunidade cristã em que se articulam os ministérios do presbítero, do diácono e dos leigos. Este caminho de futuro pode começar a ser preparado nos seminários, mas vai precisar do compromisso de todos os cristãos. Aos presbíteros, os novos tempos vão exigir uma melhor formação em ordem ao cumprimento mais autêntico daquilo que lhes é específico: presidir, anunciar, santificar.
Esta semana é momento para que o clero e os fiéis reforcem a sua proximidade para com os seminários. É indispensável que todos os que deles fazem parte sintam a comunhão, a atenção e o carinho de toda a comunidade diocesana. Algumas expressões são particularmente necessárias e significativas, como a oração, a partilha ou outro tipo de apoio material ou espiritual.
Que Jesus Cristo, Bom Pastor, abençoe e proteja todos os seminaristas, as equipas formadoras e todos os colaboradores dos seminários. Maria, Mãe da Igreja, e São José os auxiliem com a sua poderosa intercessão.
+António Augusto de Oliveira Azevedo
Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios