Que Papa?

A curiosidade de muitos, a indiscrição não raro doentia de certos meios de comunicação social, os amigos da teia vaticana burocrática, por alguns desejada, sem dúvida complexa, envolvem a atual conjuntura eclesial de um misto de receio, de expetativa, de esperança.

Ocorrem-me, a propósito desta situação, as palavras de Bento XVI na sua primeira mensagem aos Cardeais que o elegeram. “Convivem no meu coração nestas horas dois sentimentos contrastantes. Por um lado, um sentido de inaptidão e de humana perturbação pela responsabilidade que ontem me foi confiada, como Sucessor do Apóstolo Pedro nesta Sede de Roma, diante da Igreja universal. Por outro lado, sinto viva em mim uma profunda gratidão a Deus, que, como nos faz cantar a liturgia, não abandona o seu rebanho, mas o guia através dos tempos, sob a guia de quantos Ele mesmo elegeu vigários do seu Filho e constituiu pastores (cf. Prefácio dos Apóstolos I).”

Estas palavras definem bem a íntima predisposição do eleito: a consciência da responsabilidade assumida e da exigência de capacidades específicas que ela comporta; e a certeza de que o único Pastor da Igreja é Jesus Cristo, que a guia pelo Espírito Santo. Afinal, a responsabilidade que se assume não é mais do que emprestar ao Senhor aquilo que se é, enquanto se for capaz de o fazer de forma digna e nobre.

E o Papa prossegue com ternura salutar. “Caríssimos, este reconhecimento íntimo por um dom da divina misericórdia prevalece, apesar de tudo, no meu coração. E considero este facto uma graça especial que me foi obtida pelo meu venerado Predecessor, João Paulo II. Tenho a impressão de sentir a sua mão forte que estreita a minha; parece que vejo os seus olhos sorridentes e que ouço as suas palavras, dirigidas neste momento particularmente a mim: “Não tenhas medo!””.

O teólogo lúcido e penetrante não tem receio de reconhecer a sua pequenez e a dependência da graça divina e do benefício da comunhão eclesial. É com elas que conta para o exercício da missão a que foi chamado.

Entendeu que as condições da sua saúde física e psicológica já lhe não permitem emprestar ao Pastor único as forças convenientes para guiar o rebanho. A mesma humildade do início leva-o a perceber que o seu ministério terminou: completou a sua carreira; fez o que estava ao seu alcance; outro poderá tomar o seu lugar, com benefício para toda a Igreja. É a expressão clara do seu amor à Igreja!

Naturalmente que há questões práticas a resolver. E que se resolvam, sem preconceitos, nem interesses ocultos, sem receios de que o Senhor abandone a barca! Que não seja a intriga a inventar problemas onde eles não existem. Uma pessoa desta envergadura não está a fazer jogo de interesses, não criará obstáculos ao seu sucessor, não reclamará benesses do desempenho de um ministério que, em consciência e liberdade, entende dever ter um termo.

Venha outro Papa! Aquele que o Espírito Santo quiser. Mais novo?… Parece conveniente. Pastor?… Exigência fundamental! Preto, branco, amarelo?… Escolham, senhores Cardeais, com o Espírito Santo! De Fé inabalável, convicto de que a História da Salvação continua a desenrolar-se no mundo de hoje com a complexidade que ele tem! E será o melhor Papa!