Renegociar a dívida?

Questões Sociais Circulam, entre nós, várias ideias políticas tornadas slogans publicitários; ideias tais como: renegociação da dívida do país, crescimento económico e do emprego, mais solidariedade da União Europeia, saída do Euro… Em geral, não se esclarece o conteúdo destas ideias nem se referem os condicionalismos a ter em conta na sua aplicação. Sobre a renegociação da dívida, por exemplo, são vários os condicionalismos a ponderar.

A renegociação implica, antes de mais, que os credores estejam disponíveis para isso; caso não estejam, não é possível a negociação e, insistindo nós nela, corremos o risco de diminuir a nossa credibilidade externa. A renegociação implica também que os credores estejam disponíveis para nos financiarem enquanto decorre o processo negocial. Mesmo que os credores estejam disponíveis para a renegociação e se disponham a financiar-nos ao longo do processo negocial, não temos garantida a obtenção de resultados satisfatórios: primeiro, porque os credores podem não aceitar as propostas que mais nos convêm; depois porque, mesmo aceitanto-as, pode acontecer que, entretanto, os valores negociados fiquem aquém das necessidades devido a factores supervenientes, como por exemplo a conjuntura económica, as lutas partidárias e sociais, uma eventual crise política… Mesmo admitindo que tais valores correspondem às nossas propostas mais favoráveis, nada garante que sejam superiores ao que se tem conseguido até agora, mediante pequenos passos, baseados na credibilidade externa que o país vai adquirindo. Por fim, mesmo que tudo corra da melhor maneira, subsiste sempre o risco de novos agravamentos da situação económico-financeira e, consequentemente, da necessidade de uma outra renegociação.

Em suma: a renegociação da dívida ou acontece gradualmente, através da credibilidade que o país vai conquistando, ou pode trazer consigo o agravamento da situação; provavelmente, só com muita sorte se evitaria esse agravamento.