A LOC/MTC manifesta publicamente a sua apreensão face à incapacidade das instituições políticas, económicas e religiosas, fazerem valer a sua voz na promoção do diálogo livre e aberto que conduza à Paz plena entre os Povos e as Nações. Constatamos com tristeza e indignação que mais uma vez são os interesses económicos, de posse e domínio que se sobrepõem ao valor das Vidas Humanas e ao cuidado da Mãe Terra.

A guerra na Ucrânia, provocada pela invasão da Rússia, no continente Europeu, veio tornar ainda mais presente as duras realidades de muitas outras guerras e guerrilhas, que continuam bem acesas em outros lugares da África, da Ásia, da América e do Médio Oriente.

As perdas de vidas humanas; a destruição de bens essenciais como habitações, escolas, hospitais, campos agrícolas; o alastramento da pobreza e da fome; o êxodo de milhões de pessoas pelo mundo e a viver em campos de refugiados; a degradação do meio ambiente, são as consequências mais visíveis destas guerras e violências terroristas. As mesmas são a causa da destruição das economias locais, dos empregos e da sustentabilidade financeira, pessoal e familiar.

As guerras e a violência terrorista contra tantas populações pobres, em todos os continentes, são a expressão mais desumana e reveladora de como as pessoas e a criação ainda estão longe de serem o centro da economia, da política e em alguns casos das próprias religiões. Estas realidades desumanas importam-se apenas com o desenvolvimento da indústria do armamento e da manutenção dos exércitos, em detrimento de serviços tão importantes e civilizacionais como o trabalho digno, a educação, a saúde, a habitação, a proteção social, princípios fundamentais duma sociedade mais justa, fraterna, equitativa e sustentável.

A Igreja pela voz do Papa Francisco apela constantemente a que se “façam negociações reais, conversas concretas por um cessar-fogo e por uma solução sustentável. Ouçam o grito desesperado das pessoas que sofrem — vemos isso todos os dias na comunicação social — respeitem a vida humana, parem a destruição macabra de cidades e aldeias em todos os lugares”.

Estas realidades tão cruéis desassossegam e interpelam, sempre, o compromisso da LOC/MTC e dos seus membros. Estamos convictos que os caminhos da Paz constroem-se na base do diálogo permanente e no respeito pela dignidade das vidas humanas. Acreditamos que em cada pessoa está uma irmã e um irmão, filhas e filhos do mesmo Deus, que ama a todas e a todos por igual. Para Deus “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem ou mulher, porque todos sois um só em Cristo Jesus. E se sois de Cristo, sois então descendência de Abraão, herdeiros segundo a Promessa” (Carta de S. Paulo aos Gálatas 3,28-29).

Fiéis aos valores que animam os nossos estilos de vida quotidiana, preocupados com esta escalada de sofrimentos e de mortes, comprometemo-nos a combater continuamente as guerras e violências, a maldade, a ganância e os egoísmos humanos, que são o grande obstáculo à democracia, à liberdade, à justiça, à preservação da nossa Casa Comum, à fraternidade.

Por isso, a LOC/MTC e os participantes deste Congresso assumem a audácia de:

  • Afirmar a nossa solidariedade com todas as populações que sofrem as consequências desumanas das guerras e o compromisso de nos envolver em todas as ações pela paz, pedindo que o diálogo, a tolerância, a diversidade, a interculturalidade, prevaleçam nas relações entre os povos e as nações;
  • Unir as nossas vozes às do Papa Francisco e do Secretário-geral da ONU, António Guterres, no apelo para que se calem as armas, cessem as guerras e se conjuguem todos os esforços para “garantir o direito humano universal à alimentação” (Papa Francisco). Não é admissível que a fome subsista e aumente, como já está a acontecer em várias partes do mundo: “A guerra na Ucrânia está a desencadear uma crise global tridimensional – alimentar, energética e financeira – que está a esmagar as pessoas, países e economias mais vulneráveis. Quanto mais cedo esta guerra acabar, melhor – para o bem da Ucrânia, da Rússia e do mundo” (António Guterres).
  • Apelar ao fim das guerras e das violências armadas, ao desinvestimento na produção de armamento, ao fim das armas nucleares e à diminuição dos orçamentos militares. Que se reconvertam os apoios financeiros destinados ao armamento e aos exércitos destas guerras, em meios de ajuda à reconstrução das vidas das pessoas, das comunidades, dos empregos, dos serviços e bens essenciais promotores de dignidade, de humanização e de sustentabilidade ambiental.
  • Exigir dos líderes mundiais, em particular os líderes da União Europeia, de que fazemos parte, a promoção de respostas diplomáticas para o fim da guerra, e para, em vez de armas, enviar diplomatas que medeiem o conflito. A logica de cooperação e solidariedade, que esteve presente, por exemplo, no início da construção da União Europeia, que sirva agora para uma recuperação económica e social mais justa e equilibrada.

 

Acolhamos o repto lançado pelo Papa Francisco:

“Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver… possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade… Sonhemos com uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a sua própria voz, mas todos irmãos” (Fratelli Tutti nº 8 – Papa Francisco).

 Moção aprovada no Congresso Nacional da LOC/MTC

Luso, Mealhada, 10 e 11 de junho de 2022