VER
A desvalorização do trabalho humano, a precarização laboral e o desemprego estrutural continuam a ter um efeito devastador na vida de tantos homens, mulheres, jovens, adolescentes, crianças e suas famílias.
Podemos dizer que este é hoje o grande problema do país. Sublinhamos como consequências desta situação as dificuldades crescentes na vida das pessoas e com efeitos imprevisiveis, o agravamento dos impostos, a diminuição dos salários dos trabalhadores, o empobrecimento do país.
Esta instabilidade tem levado a que os jovens, muitos até com estudos elevados, deixem o país porque não encontram aqui oportunidades de trabalho nas suas áreas de formação, nem noutras.
A situação atual tem conduzido a um acréscimo das carências sentidas pelas famílias. Não se pode ignorar que se tem agravado a precariedade em que vivem muitas crianças e adolescentes no país, tanto a nível material, como a nível afetivo em resultado da desagregação familiar, associada à procura pelos pais de emprego noutros países e/ou pelas dificuldades económicas no seio das famílias portuguesas.
Quem governa em Portugal e na Europa não está a pensar uma sociedade baseada no ser humano, mas sim, nas forças que têm poder e interesses, que apenas se preocupam em tirar proveito financeiro das pessoas e das sociedades, para favorecimento dos grandes grupos económicos.
A recessão económica, a austeridade e o ataque generalizado e rápido ao Estado Social, são consequências dessas políticas, que vão eliminar ou reduzir aos minímos a qualidade da assistência na saúde, na educação pública e na segurança social.
JULGAR
“O desemprego no Ocidente está a fazer aumentar de modo preocupante os limites da pobreza. E não há pobreza material pior, faço questão de o frisar, da que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho… Eis então a exigência de «reconsiderar a solidariedade» não já como simples assistência aos mais pobres, como reconsideração global de todo o sistema, como busca de vias para o reformar e corrigir de modo coerente com todos os direitos fundamentais do homem, de todos os homens. (papa Francisco 25/5/2013).
A Palavra de Deus e o Ensino Social da Igreja impelem-nos a ser apóstolos e profetas no mundo do trabalho, a sermos sinais de esperança:
– Acreditando e fazendo trabalho nas periferias, com os mais pobres, desfavorecidos e marginalizados, confiando na presença de Deus que faz caminho connosco;
– Estando ao serviço dos outros, pensando como comunidade e não apenas em nós próprios,
– Sendo capazes de reivindicar em prol da dignidade humana da justiça e sermos protagonistas na vida,
– Sendo revolução no dia-a-dia, portadores de esperança e animando no meio do desânimo e transformando as realidades sociais.
Somos chamados a acreditar nas pessoas e a descobrir nos outros valores que os tornem, também, profetas e a sermos agentes de mudança de mentalidades, tendo, sempre como orientação, a busca do bem comum.
AGIR
Adultos, jovens, adolescentes e crianças, esforçamo-nos por encontrar soluções para as dificuldades nas famílias operárias, por vezes, procurando responder a necessidades imediatas que são vividas, tendo sempre em vista, a formação e o empenhamento para que se encontrem soluções de médio e longo prazo com a participação dos próprios implicados e daqueles que os rodeiam.
É fundamental denunciar profeticamente as situações de injustiça laboral e social a nível local, nacional e internacional, apoiar as pessoas e ajudá-las a tomarem consciência das realidades.
Urge procurar propostas arrojadas, contra a corrente estabelecida: por exemplo, a redução dos tempos de trabalho e a idade das reformas, para que mais trabalhadores e trabalhadoras, principalmente jovens, possam ter trabalho e haja uma maior partilha da riqueza e emprego para todos.
Temos o dever de ser audazes em implementar e experimentar uma nova vivência social, baseada nos valores cristãos, onde se possa testemunhar que uma outra organização económica e social e política é possível, tem que ser possível.
É necessário incentivar os desempregados e outros cidadãos em geral que tenham ideias e o mínimo de condições para avançarem com projetos de criação de emprego e não só, para que não desistam e se esforcem, para que procurem apoios e parcerias.
A sociedade precisa muito do esforço e protagonismo de todos na procura de soluções para os problemas individuais e da comunidade. Foi neste sentido que, recentemente, o Papa Francisco nos fez este desafio: sermos Igreja e Povo de Deus, onde cada pessoa se sente acolhida, amada, perdoada e encorajada pela esperança no seu caminhar, mantendo as portas abertas da Igreja para que todos possam entrar e, também, para que nós possamos sair e anunciar a vida nova do Evangelho.
Comissão Nacional da Pastoral Operária
Aveiro, 29 de Junho de 2013