Constatámos que as dificuldades por que passam os trabalhadores no mundo do trabalho, dominado, globalizado e desvalorizado pelo sistema económico e financeiro e pelos detentores dos meios de produção e de consumo, mostra que as situações de injustiça e desigualdade que sofrem os trabalhadores, junto com suas famílias, e as preocupações pelo seu futuro são semelhantes em Portugal e Espanha.
As reformas laborais têm provocado a destruição do emprego, a instabilidade laboral e o retrocesso na negociação coletiva o que, também, tem levado à redução salarial e das condições de trabalho, com maior empobrecimento dos trabalhadores.
A crise não se instalou só na economia, mas, também no coração de muitos trabalhadores que se resignaram à sua condição social precária, desenvolvendo um processo de descriminação social, de angústia, de tristeza e infelicidade que tem levado muitos à desistência de uma vida ativa e de cidadania. Ao mesmo tempo, e de um modo geral, no seio da Igreja vive-se numa certa apatia em relação a estas problemáticas: o sofrimento dos trabalhadores, as suas causas e como agir para transformar a realidade.
Devido aos cortes nos mecanismos de solidariedade social e à desregulamentação do mundo do trabalho tem vindo a acontecer, como Bento XVI afirma na encíclica Caridade na Verdade, nº 25, “a desregulamentação do mundo do trabalho implicou a redução das redes de Segurança Social acarretando grande perigo para os direitos dos trabalhadores, os direitos fundamentais do Homem e a solidariedade realizada pelas formas tradicionais do Estado social”.
Entretanto, parece existir uma tomada de consciência individual e coletiva de que é necessário mudar este estado de coisas. Em quase todos os sectores da sociedade os trabalhadores e a população em geral tem reagido das mais diversas formas, contra as políticas de austeridade, de cortes de salários e de pensões e de redução dos direitos sociais.
Assiste-se a algum acordar das pessoas a olhar para o seu semelhante, a combater o egoísmo, a sentir que não estão sós e que fazem parte de um todo, que também são responsáveis pelos que estão ao seu lado. Vai-se notando um maior sentido ético e de indignação contra as injustiças e a corrupção e o reconhecimento da importância e da necessidade da unidade, acreditando que outra sociedade, justa e sustentável é possível. Sociedade com trabalho digno, justamente remunerado que é pilar fundamental do progresso, prioriza a justiça social, a distribuição da riqueza e respeita a sustentabilidade dos recursos naturais, tal como o papa Francisco afirma na sua exortação apostólica Alegria do Evangelho nº 192: “Não se fala apenas de garantir comida ou um digno sustento para todos, mas prosperidade e civilização nos seus múltiplos aspetos….”.
Com a certeza de que é pelo testemunho de vida e pelo envolvimento cívico nas organizações culturais, sociais, sindicais, políticas e eclesiais que materializamos a nossa vocação, como Igreja enviada a evangelizar o mundo do trabalho, queremos:
Denunciar as situações da crescente desigualdade social e injustiça laboral, de precaridade da vida, de empregos instáveis, de desemprego de longa duração e ao mesmo tempo referir o pouco acolhimento que o sofrimento destas pessoas, nomeadamente dos jovens, tem tido no seio da Pastoral da Igreja.
Afirmar a nossa Fé em Jesus Cristo, com a esperança que brota da ação do Papa Francisco e da reação e intervenção ativa das populações na mudança que nos leve à defesa do bem comum e da dignidade humana e apoiar as pessoas na tomada de consciência destas realidades.
Valorizar a participação de todos como contributo para as mudanças, agir e incentivar ao associativismo na procura de respostas para os problemas sociais. Nomeadamente, promover cada vez mais a celebração do dia do trabalho digno (7 de Outubro) envolvendo outros organismos eclesiais e civis.
Acordar os que ficam indiferentes e comodamente instalados perante as injustiças cometidas contra os mais desfavorecidos da sociedade e, cumprindo os nossos deveres cívicos e políticos, ser agentes de transformação no implementar de uma nova vivência social, baseada nos valores cristãos.
Testemunhar como os encontros entre a LOC/MTC e a HOAC, fortalecem e animam a missão que nos está confiada pela Igreja nos nossos respectivos países, e por isso propomo-nos dar-lhes continuidade.
Covilhã, 15 de fevereiro de 2017
Equipa Executiva da LOC/MTC e Comissão Permanente da HOAC