À Luz da Palavra VI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO B
Leituras: Lev 13, 1-2.44-46; Salmo 31 (32), 1-2.5.7.11; 1 Cor 10, 31 – 11, 1; Mc 1, 40-45
Se recordarmos o Evangelho da semana passada, lembraremos que Jesus, depois de ter realizado diversas curas, retirou-se para um lugar afastado, onde passou a noite em oração. Embora muitos o quisessem reter ali, Jesus percebe, no diálogo com o Pai, que é preciso continuar o caminho e diz: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim” (Mc 1, 38).
Jesus não veio para ficar restrito a um lugar, a algumas pessoas consideradas puras pela religião judaica, ou a um povo. A sua vida e as suas palavras são manifestação do próprio Deus vivo, no meio da humanidade, para todos sem excepção. É isto o que progressivamente se irá manifestando nos Evangelhos. E é também o que vemos no Evangelho deste domingo, quando Jesus se aproxima de um homem leproso (impuro, segundo a Lei), escuta-o e cura-o.
A primeira leitura, tirada do livro do Levítico, ajuda-nos a entender melhor quanto foi significativo o gesto de Jesus para com o leproso. Este texto explica-nos qual era a conduta correcta de um judeu em relação a um doente com lepra, segundo a Aliança que Deus fez com o povo de Israel.
Na cena narrada por S. Marcos, vemos como o leproso se dirige a Jesus, reconhecendo-o como alguém que tem poder para fazer algo por ele: “Se quiseres, podes curar-me” (Mc 1, 40). Diz-nos o Evangelho que Jesus compadeceu-se. Compadecer significa “sentir com”, é entrar na realidade do outro, é sentir a sua dor por ser excluído da sociedade e do culto. Mas não só! É também comprometer-se para que a situação que gera o sofrimento e a exclusão deixe de existir. Para se compadecer, é preciso não apenas olhar, mas é necessário ver: ver a pessoa, vê-la na sua globalidade, sintonizar com as suas necessidades e anseios mais profundos. Então, é possível “tocar” o outro com um toque que cura e que salva. Salvar é restituir a saúde integral da pessoa, não apenas a física. O leproso curado volta a fazer parte da sociedade, tem direito a uma vida digna, é-lhe dado o acesso ao Templo e a possibilidade de louvar a Deus.
Na segunda leitura, S. Paulo diz aos cristãos de Corinto: “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo”. Será que podemos dizer que somos imitadores de Cristo? Sabemos ver as pessoas para além da aparência? Reconhecemos a sua necessidade de cura? Sabemos realmente o que é compadecer-se? A nossa compaixão move-nos ao compromisso real com os irmãos?
Podemos pensar que o que S. Paulo diz é uma ousadia e que é algo só para alguns: pôr-se como exemplo de seguidor de Cristo a quem se pode imitar como se se imitasse o próprio Cristo. É verdadeiramente uma ousadia, mas à qual todos os cristãos são chamados. Em todos nós actua o mesmo Espírito Santo. Todos nós somos desafiados, pelo compromisso que vem do nosso baptismo, a sermos canais por onde a graça possa alcançar a muitos e a sermos portadores da salvação que nos traz o Senhor. Estamos dispostos a acolher esse desafio?
Priscila Cirino, FMVD