Dietrich Bonhoeffer: prisioneiro com Cristo

Vidas que fascinam 1939. Dietrich Bonhoeffer, alemão, pastor luterano e teólogo, encontra-se nos Estados Unidos, a convite de uma universidade. A II Guerra Mundial está prestes a começar. A tensão internacional assim faz prever. Bonhoeffer, proibido de ensinar na Alemanha desde 1936, e de residir em Berlim desde 1938, tem agora a oportunidade de continuar fora o seu país uma carreira brilhante de teólogo. Mas decide voltar ao país natal. “Tenho de viver este difícil período da nossa história nacional, com o povo cristão da Alemanha”, escreve no seu Diário. E ao teólogo norte-americano que o convidara, responde: “Não terei o direito de participar na reconstrução da vida cristã na Alemanha depois da guerra se não partilhar as dificuldades deste tempo com o meu povo”. Os poucos anos que lhe restam até ser enforcado pelos nazis, em 1945, com a guerra quase a acabar, são vividos como consequência da “espiritualidade do seguimento” de Jesus Cristo, a quem chamava “irmão mais velho” ou “o homem para os outros”.

Bonhoeffer (1906-1945) morreu com 39 anos e é um dos grandes teólogos do século XX. Preso pela Gestapo em 1943, é acusado de “contribuir para abrandar a moral vitoriosa do povo”, e implicado numa tentativa de assassinar Hitler. Na realidade, não participara no acto, mas era irmão de um e cunhado de dois dos que participam na conspiração.

Doutor em Teologia aos 21 anos, foi herói e mártir no momento da morte (ver destaque), mas já havia dado provas do seguimento de Cristo noutros contextos. Primeiro, porque se recusa a pertencer à facção da igreja luterana que vê com bons olhos o regime de Hitler. Depois, pelo seu empenhamento social. Antes da guerra, acompanha cristãos num bairro operário de Berlim e, de visita aos EUA, põe-se em contacto com o bairro negro do Harlem, conhecido pelos problemas sociais. Durante um ano acompanhou como pastor a comunidade alemã de Barcelona, o que lhe permitiu viver em ambiente católico e desfazer juízos críticos em relação ao catolicismo. Mais tarde (1941), passará várias temporadas no mosteiro beneditino de Ettal (Munique), sentindo a cordialidade dos monges e acrescentando novos dados à sua visão do catolicismo.

Dietrich Bonhoeffer nasceu num 4 de Fevereiro, há precisamente 103 anos. Se tivéssemos santos não católicos, este deveria ser um deles.

J.P.F.

Dados biográficos

1906 – Nasce em Breslau (hoje, Polónia), no dia 4 de Fevereiro

1928 – Pastor em Barcelona

1933 – Manifesta-se contra o nazismo. Adere à Igreja Confessante (cristãos protestantes que se opõem ao nazismo)

1940-43 – Escreve “Ética” (ed. port. Assírio&Alvim)

1943 – Preso pela Gestapo. Escreve as “Cartas do Cativeiro”

1945 – Enforcado no dia 9 de Abril (Hitler suicidar-se-ia no dia 30 do mesmo mês)

“Abandonado às mãos de Deus”

“Vi o pastor Bonhoeffer de joelhos, diante do seu Deus, numa intensa oração. A forma como este homem rezava, com uma submissão perfeita e com a certeza de ser acolhido, impressionou-me profundamente. No lugar da execução, ainda rezou, depois subiu corajosamente as escadas do cadafalso. A morte demorou poucos segundos. Em cinquenta anos de prática, nunca vi morrer um homem tão totalmente abandonado às mãos de Deus”.

Testemunho do médico do campo de concentração