À Luz da Palavra Domingo V da Quaresma
Leituras: Jer 31, 31-34; Salmo 50 (51); Hebr 5, 7-9; Jo 12, 20-33
Esta semana, a Palavra de Deus convida-nos a mergulhar no dinamismo da vida e do amor de Deus que quando se entrega dá muito fruto. S. João, já nos introduziu aí na semana passada quando nos falava do Amor que Deus nos tem ao entregar o Seu Filho para que tenhamos Vida (cf. Jo3,16). Esta semana, ele aproxima-nos mais do momento em que esse amor chega ao seu extremo. O Evangelho mostra-nos que Jesus toma consciência de que “chegou a hora”. Essa hora que ao longo do evangelho de S. João vai sendo anunciada através das palavras e acções de Jesus, agora, vai ser realizada plenamente na entrega da sua vida toda, sem deixar nada por dar, sem se prender a nada nem a ninguém. Ele sabe bem que é preciso morrer para nascer de novo, como tinha dito a Nicodemos, e que o grão de trigo precisa ser lançado à terra e morrer para dar fruto (Jo 12,24). No entanto, chegou o momento de aceitar e assumir essa realidade até às últimas consequências.
Também nós sabemos, quando tomamos uma opção por seguir Jesus em algum projecto da nossa vida (família, evangelização, serviço na comunidade, voluntariado…), chegaremos a essas horas em que nos custa continuar, aceitar e assumir que é preciso “morrer”. É preciso deixar cair por terra as nossas expectativas, a nossa ilusão de que tudo seria fácil e belo, de que teríamos sempre forças para sair de nós próprios, para perdoar e aceitar a debilidade dos outros, etc. Isto é na verdade um “Getsemani” pelo qual temos de passar para que seja Deus a fazer brotar com a Sua força, a Vida nova da Páscoa.
“Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu che-guei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome.” (Jo 12,27 ) Jesus deixa transparecer que esse momento é de perturbação e de luta, mas também deixa transparecer a beleza do seu interior. O seu coração está em sintonia com a vontade do Pai. O desejo de Jesus é dar glória a Deus, ou seja, deixar que toda sua vida deixe transparecer como Deus ama, perdoa e salva.
A aliança nova, anunciada por Jeremias na primeira leitura, é plenamente realizada em Jesus pois está inscrita no íntimo do seu ser, gravada no seu coração (Jer 31,33). O coração, sede da liberdade, dos desejos e decisões, é onde nasce o mais belo e o mais repugnante do ser humano. Como disse o P.e Raniero Cantalamessa na sua primeira pregação de Quaresma, “a beleza consiste em ser conformes à vontade de Deus e à imagem de Cristo, passando do homem velho ao homem novo”. Por isso, tal como Jesus, deixemos que o Pai faça brotar do nosso coração o desejo de ser cada vez mais livres para obedecer à sua vontade, a fidelidade ao seu plano e a determinação para entregar a vida nas “horas” de cada dia.
Neste sentido, que a Eucaristia deste Domingo crie em nós um coração mais belo e faça nascer dentro de nós um espírito firme (Sl 50,12) para que aceitemos viver o dinamismo do grão de trigo que quando se entrega dá fruto.
Filipa Amaro, FMVD