Vidas que marcam Morreu no dia 25 de Janeiro Leon Klenicki. O nome pouco dirá à maior parte dos católicos, mas Leon Klenicki, judeu, argentino de nascimento e norte-americano por opção, é um nome incontornável na boa relação entre judeus e católicos.
Nascido em Buenos Aires (7 de Setembro de 1930), de pais polacos, começou a estudar na universidade local mas acabou por formar-se numa universidade hebraica dos Estados Unidos, graças a uma bolsa de mérito.
Como director do sector da América Latina da União Mundial do Judaísmo Progressista, participou na conferência judaico-católica de Bogotá (Colômbia), em 1968 (só possível porque entretanto acontecera o II Concílio do Vaticano), quando Paulo VI visitava o país. No meio de rabis e bispos, Klenicki afirmou que ao longo de 2000 anos de história os cristãos “ergueram catedrais em direcção ao céu” enquanto remetiam “os judeus para o subterrâneo”. Porém, “o tempo da esperança chegou. A missão é dura, mas não impossível”, afirmou.
Em 1973, o rabi Klenicki foi nomeado director das relações Judaico-Católicas pela Liga Anti-Difamação, um organismo judaico muito influente nos EUA. Entretanto, fora autori-zado pela CELAM (conferência dos bispos da América Latina) e pelo Conselho de Judeus e Cristãos da Argentina a realizar um estudo judaico dos textos religiosos católicos – o primeiro do seu género na América Latina. Mais tarde colaboraria com a arquidiocese de Filadélfia na elaboração de uma explicação da Páscoa judaica para os católicos que pretendiam celebrar com judeus a ceia pascal (“seder”) – à maneira de Jesus!
Quando em 1998, por ordem de João Paulo II (o primeiro Papa a entrar numa sinagoga, depois de São Pedro – gesto que Bento XVI repetiu) foi publicado o documento “Nós recordamos: uma reflexão sobre o Shoah” (16 de Março de 1998), Leon Klenicki regozijou-se: “Agora os que negam o Holocausto na Europa têm que lidar com o Vaticano”. Porém criticou o documento “Dominus Iesus” (de 2000): “um passo atrás no diálogo”.
No primeiro encontro de Bento XVI com líderes judaicos, em 2005, Leon Klenicki esteve presente. Em 2007, o Papa nomeou-o Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno – um título raramente atribuído a não-católicos e que distingue homens e mulheres que são bons exemplos no serviço à Igreja, em trabalhos excepcionais, no apoio à Santa Sé ou no serviço ao seu próprio país.
J.P.F.