Palavra… e gesto

1 – A retórica é venenosa. As palavras permitem ocultar incompetências, servilismos ideológicos, interesses ocultos. Os ouvintes acreditam, suspeitam, duvidam, não acreditam… Mas, quando se trata da vida política, suportam as consequências desta forma “politicamente correta” de contornar os problemas, camuflar a verdade, ludibriar as pessoas. E, quando uma comunicação social se delicia a empolar, a baralhar esta retórica, os céus toldam-se de nuvens densas de incereteza.

Continuamos a pensar que a nobreza da gestão da “coisa pública” tem de se libertar de teias ideológicas, de amarras partidárias. Outras formas de organizações cívicas, centradas nos problemas reais, nos recursos possíveis, na transparência das decisões, na sobriedade dos meios, poderão reconstruir um tecido social sadio, onde desabrochem os verdadeiros políticos. Só colocando a pessoa humana e a sua circunstância social como motor de arranque de reformas e propostas sociais que superem todas as crises.

2 – Os gestos, ao contrário, são águas límpidas, que se tornam o espelho da alma, desmascarando, mais cedo ou mais tarde, a metáfora enganosa da retórica. Assomam, nas atitudes, as convicções profundas da consciência, os princípios fundantes dos rumos traçados.

Continua a surpreender o mundo a simplicidade, o puro espírito franciscano do Papa Francisco. A simplicidade no vestir, a dispensa dos adereços preciosos, a permanência em habitação que proporciona relacionamento quotidiano com as pessoas, permitindo uma vivência constante de efetivo pastoreio, de relacionamento eclesial, exprimem uma alma primaveril, traçam um rumo de reencontro com as origens, semeiam um clima de Boa Nova, consolidam horizontes de esperança!

As palavras que brotam, em consequência, são necessariamente de humildade, de ternura, de perdão, de diálogo… Apelo constante a uma transformação pessoal interior, que desencadeie a verdadeira renovação da Igreja, com o sangue novo de pessoas que vivam a Páscoa sem rodeios: entrega, dedicação, ocultação, que conduz à Alegria plena.

A aurora surgida com o Vaticano II ganha novas tonalidades. Não será preciso um novo Concílio. Urge é que cada um de nós, os nossos grupos e estruturas eclesiais, façamos a verdadeira receção ao Vaticano II.