Saber ser

Poço de Jacob – 131 Quando lemos Santa Teresa de Jesus, Mestra e Doutora da Oração, vemos que a oração não é para nos sentirmos bem, embora, quando bem vivida e feita, cause, mesmo organicamente, alívio e paz.

A oração que é feita como encontro de intimidade com o Senhor existe para que aumentem em nós as virtudes que nos façam santos. Rezamos para ser melhores por dentro e nas atitudes.

Jesus condenava os fariseus por eles darem valor às coisas secundárias e desprezarem o Mandamento que, fundamentalmente, é o Amor. Por isso, tudo na vida de uma pessoa nos deve conduzir a crescer no amor que devemos a Deus e ao próximo, certos de que foi Deus que nos amou primeiro e Ele quer amar em nós. Temos de notar que não somos nós que amamos, mas é a vida espiritual que se alimenta no deixarmo-nos amar e deixar Ele amar os outros através de nossas atitudes, em seu Filho Jesus Cristo.

Se o saber estar, na Igreja ou fora dela, diz muito da pessoa e da sua educação, a verdade é que nos enganamos nos nossos juízos e não podemos, jamais, julgar alguém, pontualmente, por uma circunstância apreendida momentaneamente, quer para o bem quer para o mal. Mas devemos cuidar em não dar escândalo, como nos adverte o Senhor, pois o que mais convence os que nos rodeiam é o exemplo e o testemunho. Por isso, a nossa vida tem de ter essa unidade orgânica entre o saber estar e o saber ser, duas atitudes que Santa Teresa gostava de comparar com as duas irmãs do Evangelho, a Maria e a Marta. Uma não pode existir sem a outra.

Todo o homem tem de zelar pelo seu exterior e atividade e pelo seu interior de contemplação. Isto é, o seu ser. E quanto mais seguros no ser, mais corretos no estar. E, fundamentalmente, só uma coisa nos deveria interessar, no que se refere à nossa vocação cristã, que nos compromete diante de Deus e dos homens: ser santos. Não precisamos de ser padres ou freiras, casados ou solteiros. O batizado deve ser santo, pois essa é a sua maneira de ser e de estar na vida. Pecador, claro, pois a santidade nunca é reconhecida como tal por quem a vive.

O santo sente-se pecador e miserável, por vezes repugnante e infiel. Mas sabe que Deus, que nele começou a obra boa, Ele mesmo a levará a bom termo.

Gosto muito daquela canção que nos fala da luta que é esta vida: “Seduziste-me Senhor, e eu deixei-me seduzir [verso do profeta Jeremias]. Numa luta desigual [como Jacob, lutando com o Anjo], dominaste-me, Senhor… e foi tua a vitória”.

Vitor Espadilha