COMUNICADO DO OBSERVATÓRIO PARA A LIBERDADE RELIGIOSA
O Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR) pronunciou-se noutras ocasiões sobre atos terroristas e vê-se na contingência de voltar a fazê-lo, relevando o carácter simbólico do sequestro desta manhã, na sequência do qual morreu um padre católico de 86 anos.
As autoridades francesas adiantam que os autores reivindicaram ligações ao Daesh. O ataque a uma igreja, a uma comunidade religiosa reunida pacificamente em culto, revela desprezo pela vida humana e pela liberdade religiosa. É evidente que se trata de mais um atentado contra a Liberdade e as liberdades, contra o mundo livre.
Estes atentados são da responsabilidade de criminosos que, na verdade, “procuram limitar as liberdades – também a religiosa -, agindo em nome de ideais que, pretendendo instaurar o medo e a instabilidade, servem apenas a barbárie” (1), visam destruir a civilização da Liberdade e dos Direitos Humanos.
“Entre os equívocos do presente está a interpretação do fenómeno religioso, que grupos marginais, armados, atuando isoladamente ou em grande escala, procuram fazer impor, confundindo e abusando da essência da religião e da religiosidade. Não nos cabe fazer uma avaliação exegética ou hermenêutica dos (con)textos religiosos, mas a forma como a religião e o fenómeno religioso se manifestam ou podem manifestar na construção de uma sociedade integradora, plural e pacífica. Reclamando uma matriz religiosa, esses intérpretes da religião revelam ser assassinos e delinquentes, agindo de forma cobarde, atacando os mais desprotegidos e (…) a própria cidadania que nos estrutura e explica enquanto sociedade. (…) Assumem-se como representantes de uma religião que também lhes tem asco. Querem que o mundo acredite que atuam com um sentido religioso, quando as evidências revelam que professam, isso sim, a desumanidade” (2).
O OLR insiste: “Perante a ameaça permanente da imprevisibilidade do terrorismo; perante as mutações do modo de viver na Europa, casa de acolhimento de gente que procura a Paz fora da sua terra natal; perante a escalada da xenofobia e da intolerância, cada vez mais respaldadas à dimensão político-partidária; perante um pensamento desintegrador e hostil, difundido também por centros imanentes de ideologias construídas para o confronto e para a violência; perante tudo isto, é necessário, é urgente, alargar o espectro de uma reflexão pragmática” (1).
Palco ao longo da história das maiores atrocidades, também com o argumento da pertença a um grupo religioso, a Europa soube cruzar a razão com a fé naquele que será um dos seus maiores legados para a humanidade, e precisa de uma importante reflexão política e cultural, abrangente e inclusiva, sobre a sua realidade social e religiosa, sob risco de – até por força da ampliação mediática – acontecimentos violentos desencadearem intolerância e segregação, comprometendo as liberdades. “O cenário extremo do “terror” deve ter como resposta a firmeza da cultura europeia da Liberdade e da Justiça” (1).
Pela experiência histórica, sabemos que a religião, capaz de construir relações de solidariedade e compaixão, contribuindo para o edifício ético, é usada também como combustível de guerra. “Se é um desafio para todos os que sustentam e se guiam pelos ideais da Liberdade baseados nos Direitos Humanos, é também, e sobretudo, um desafio individual e coletivo para quem se diz islâmico” (3).
Em nome da liberdade religiosa, o OLR manter-se-á fiel aos seus valores: “respeito pelo princípio das liberdades associativa, individual e de consciência; facilitar processos de diálogo cultural, especificamente o diálogo entre estruturas de crença, promovendo o respeito pelas diferenças e a responsabilidade social, para uma cidadania plena e ativa; sinalização e análise do Fenómeno Religioso; estímulo às práticas de cidadania a partir da observação dos direitos e deveres inerentes à Liberdade Religiosa, como a importância do estudo e produção de conhecimento isento relativo ao Fenómeno Religioso” (4).
O OLR sublinha que estes atentados têm a visibilidade mediática que outros, um pouco por todo o mundo e das mais variadas formas, não têm. E solidariza-se “com todas as vítimas daqueles que procuram com a violência e o terror, o que a razão não lhes confere” (1).
Observatório para a Liberdade Religiosa, 26 de julho de 2016
(2) Comunicado A URGÊNCIA DE OBSERVAR O FENÓMENO RELIGIOSO, 21/12/2015
(3) Comunicado O TERRORISMO À PROCURA DO TERROR, 22/03/2016
(4) Carta de Princípios do OLR, 22/12/2014