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Nice: um quase ultimato às lideranças religiosas e politicas na Europa

Nice: um quase ultimato às lideranças religiosas e politicas na Europa

Comunicado do Observatório para a Liberdade Religiosa

(acolhido na área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona)

 

Nice: Um quase ultimato às lideranças religiosas e políticas na Europa

A estratégia do terror manifesta-se de novo e ainda na Europa. Como o Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR) referiu noutras ocasiões, “não importa o lugar onde o horror se ergue com aquele formato da cobardia que o torna só aparentemente triunfante. Será sempre um lugar onde se acoitam os assassinos” (24.05.2017).

Não importa se é Nice ou qualquer outra terra sem nome. Religiões que fazem o Ser humano no primado da ética, da relação e da consciência, não dão a ninguém o direito de atentar sem vislumbre mínimo de respeito pela vida humana.

“Estes que matam arriscam-se a não merecer outros e não têm o direito de reivindicar um qualquer Outro, porque, como dizem crentes da mesma religião que alegadamente professam, não há um Outro que os justifique. Assassinos são assassinos, mesmo que mudem de nome, roupa, pronúncia ou arma. Agem pela instrumentalização de interesses dominados pelo ódio e pela subjugação. Quem mata assim anda perdido num corredor de ódios, mas representa também um desafio de humanidade, porque ao Ser humano, sobretudo em contexto religioso, nenhuma expressão de ódio deve ficar indiferente”.

Na declaração conjunta “A FRATERNIDADE HUMANA EM PROL DA PAZ MUNDIAL E DA CONVIVÊNCIA COMUM” (Abu Dabhi, 04.02.2019), o Papa Francisco e o Grão Imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, defendem que “o primeiro e mais importante objetivo das religiões é o de crer em Deus, honrá-Lo e chamar todos os homens a acreditarem”, num dom “que ninguém tem o direito de tirar, ameaçar ou manipular a seu bel-prazer”.

O terrorismo que espalha o pânico, o terror e o pessimismo é “execrável”, e “não se deve à religião – embora os terroristas a instrumentalizem – mas tem origem no cúmulo de interpretações erradas dos textos religiosos, nas políticas de fome, de pobreza, de injustiça, de opressão, de arrogância”.

O processo histórico não isenta de responsabilidades alguns países que hoje são vítimas desta inquietante expressão de violência. É necessário “interromper o apoio aos movimentos terroristas através do fornecimento de dinheiro, de armas, de planos ou justificações e também a cobertura mediática, e considerar tudo isto como crimes internacionais que ameaçam a segurança e a paz mundial. É preciso condenar tal terrorismo em todas as suas formas e manifestações”.

Citamos, na íntegra, o que os líderes, cristão e muçulmano, declaram com firmeza:

“As religiões nunca incitam à guerra e não solicitam sentimentos de ódio, hostilidade, extremismo nem convidam à violência ou ao derramamento de sangue. Estas calamidades são fruto de desvio dos ensinamentos religiosos, do uso político das religiões e também das interpretações de grupos de homens de religião que abusaram – nalgumas fases da história – da influência do sentimento religioso sobre os corações dos homens para os levar à realização daquilo que não tem nada a ver com a verdade da religião, para alcançar fins políticos e económicos mundanos e míopes. Por isso, pedimos a todos que cessem de instrumentalizar as religiões para incitar ao ódio, à violência, ao extremismo e ao fanatismo cego e deixem de usar o nome de Deus para justificar atos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão. Pedimo-lo pela nossa fé comum em Deus, que não criou os homens para assassinarem ou lutarem uns com os outros, nem para serem torturados ou humilhados na sua vida e na sua existência. Com efeito Deus, o Todo-Poderoso, não precisa de ser defendido por ninguém e não quer que o Seu nome seja usado para aterrorizar as pessoas”.

O Papa e o imã de Al-Azhar destacam ainda “a convicção de que os verdadeiros ensinamentos das religiões” estão ancorados nos “valores da paz”, apoiando “os valores do conhecimento mútuo, da fraternidade humana e da convivência comum”, restabelecendo “a sabedoria, a justiça e a caridade” e despertando “o sentido da religiosidade entre os jovens, para defender as novas gerações a partir do domínio do pensamento materialista, do perigo das políticas da avidez do lucro desmesurado e da indiferença baseadas na lei da força e não na força da lei”.

Se “a liberdade é um direito de toda a pessoa”, então “cada um goza da liberdade de credo, de pensamento, de expressão e de ação”, por isso é inaceitável “forçar as pessoas a aderir a uma determinada religião ou a uma certa cultura, bem como impor um estilo de civilização que os outros não aceitam”.

Os investigadores do Observatório para a Liberdade Religiosa entendem que é inequívoca a urgência de reforçar, em particular na Europa multicultural e multireligiosa, por via das multifacetadas estruturas de crença e formação cívica, a compreensão da religião, da fé e da espiritualidade, na relação dialogante com a razão e a cidadania.

Episódios como o ocorrido em Nice representam um quase ultimato às lideranças políticas e religiosas – locais, nacionais e regionais – para que, paralelamente a adequadas políticas de prevenção e segurança, incentivem a educação para a convivência e o respeito, valorizando o fenómeno religioso, as religiões e vivências religiosas, em pluralidade e diversidade. As escolas, como as próprias comunidades religiosas, podem e devem ser espaço e ter tempo para esta pedagogia do encontro e do diálogo, na base do conhecimento mútuo. 

Este é um dos princípios do OLR, que nasceu por iniciativa cívica e académica e tem como missão “acompanhar e facilitar processos de diálogo cultural, especificamente o diálogo entre estruturas de crença, na forma de religiões e/ou espiritualidades, promovendo o respeito pelas diferenças e a responsabilidade social, para uma cidadania plena e ativa, tendo como principal missão a observação do Fenómeno Religioso, no respeito pelo princípio das liberdades associativa, individual e de consciência” (Carta de Princípios do OLR, 2014).

  1. 10.2020

Os investigadores do OLR

Alexandre Honrado

Joaquim Franco

Paulo Mendes Pinto

Rui Lomelino de Freitas

Na Casa do Pai – Pe. Manuel Soares

Na Casa do Pai – Pe. Manuel Soares

Comunicado de D. José Ornelas, Bispo de Setúbal, a toda a Diocese (26/09/2020)

Acabo de receber a notícia da partida para os braços de Deus do nosso Padre Manuel Bernardo Nobre Soares. Encontrava-se desde a semana passada no hospital de cuidados paliativos Nossa Senhora da Arrábida, em Azeitão, onde, apesar das limitações atuais, teve a possibilidade de ser visitado pela família e por alguns membros do nosso presbitério e por mim próprio.

Vivemos este momento com o luto doloroso que encerra, mas igualmente com a paz e gratidão que nos merece a vida que ele partilhou connosco no serviço da Igreja. Damos graças a Deus pela sua dedicação e bondade, pedimos que o Senhor, Bom Pastor, o acolha nos seus braços poderosos e carinhosos e que faça germinar e frutificar as sementes de humanismo e de fé que o Padre Manuel semeou ao longo da vida.

À família do Pe. Manuel, que, com tanta atenção e carinho o acompanhou na vida e especialmente nestes últimos tempos, exprimo sentidas condolências, em meu nome e em nome da Igreja de Setúbal, dando graças a Deus pelo muito que recebemos deste seu fiel servo.

Agradeço igualmente a dedicação profissional e a proximidade humana das pessoas que acompanharam o Pe. Manuel Soares nos serviços do Hospital Garcia de Orta e do Hospital Nossa Senhora da Arrábida, contribuindo para um percurso de dignidade, de consciência e de esperança, nesta última etapa da sua vida.

+ José Ornelas Carvalho

Bispo de Setúbal

NOTA: O corpo poderá ser velado a partir das 8h30 de segunda-feira, dia 28, na igreja de Santa Maria, Barreiro. Às 11h00 serão celebradas as exéquias presididas por D. José Ornelas, Bispo de Setúbal. 

 

Nota biográfica do Padre Manuel Soares, pelo Padre José Lobato, Vigário Geral da Diocese de Setúbal

O Padre Manuel Bernardo Nobre Soares nasceu no Barreiro em 28 de abril de 1938 e foi ordenado presbítero pelo Cardeal Manuel Cerejeira em 15 de agosto de 1963.

A sua primeira nomeação foi para a paróquia do Lumiar, Lisboa, como vigário paroquial, sendo depois nomeado sucessivamente vigário paroquial de Almada e de Cacilhas. Em outubro de 1984 foi-lhe confiado o cargo de Diretor Nacional da Obra das Migrações, que desempenhou até ao final do ano 2000.

Em 2002, D. Gilberto Canavarro dos Reis nomeou-o Diretor do Secretariado Diocesano das Migrações, exercendo em simultâneo o cargo de Pároco de Vale de Milhaços. A partir de 2014, foi cuidando de diversas capelanias, sendo a última a da Santa Casa da Misericórdia de Almada. 

Desde 2008 foi membro da Associação dos Padres do Prado. 

Faleceu, a 26 de setembro de 2020, no Hospital de Nossa Senhora da Arrábida, em Azeitão. 

Semeai Justiça entre vós e colhereis Amor

Semeai Justiça entre vós e colhereis Amor

Por ocasião do aniversário da sua visita a Lampedusa, há 7 anos, o Papa Francisco celebrou uma Missa em Santa Marta com os funcionários da Secção Migrantes e Refugiados, do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral.
A Missa pode ser acompanhada em directo nos link abaixo indicados

na página FB de Vatican News: https://www.facebook.com/vaticannews.pt/videos/623819215153239/

no canal youtube de Vatican media: https://youtu.be/M-RFWoMT574

 

Dia Mundial do Refugiado

Dia Mundial do Refugiado

Hoje, a PAR celebra o Dia Mundial do Refugiado, prestando uma homenagem a todos as pessoas forçadas a fugir do seu país. Estima-se que cerca de 1% da população mundial tenha sido forçada a abandonar a sua casa para sobreviver a conflitos armados, a perseguições e outros atos de violência que caracterizam o dia-a-dia de 79.5 milhões de pessoas. Homens, mulheres e crianças, iguais a nós, que fogem da iminência da morte, na esperança de encontrar a dignidade e a Paz que lhes foi retirada ao longo da vida e ao longo do seu percurso.

Urge encontrarem-se soluções duradouras. A União Europeia tem, neste momento, o desafio de criar vias legais e seguras de acesso ao seu território e, assim, evitar a morte de milhares de pessoas que se encontram em situação de desespero e que arriscam a sua vida em travessias inseguras, por mar e por terra, na esperança de encontrar uma oportunidade de reconstruir a sua vida. Temos o dever, enquanto europeus, de ajudar a Grécia, Itália e Malta e esforçarmo-nos por atingir um consenso em relação a uma política europeia de redistribuição solidária e que garanta os direitos fundamentais das pessoas acolhidas.

Devemos, para isso, ser capazes de construir comunidades que permitam dar uma oportunidade a quem procura encontrar uma vida melhor em Portugal. A criação da Plataforma de Apoio aos Refugiados, em 2015, é a prova do papel essencial da sociedade civil na criação de respostas de acolhimento e integração de refugiados que ainda hoje são necessárias assegurar.

Acreditamos, no entanto, que é sempre possível fazermos mais e melhor e que cada um tem um papel nesta missão de acolher e acompanhar os Refugiados durante o seu percurso de vida em Portugal.

A  PAR celebra este dia com outras organizações  com o movimento de sensibilização #oquenosune, que poderá ser acompanhado nas redes sociais de todas as organizações envolvidas: JRS, PAR, Humans Before Borders, Meeru, ComParte, Speak, Fó rum Refúgio e Comité Olímpico de Portugal

Conversas temperadas – É possível conversar sobre o racismo?

Conversas temperadas – É possível conversar sobre o racismo?

O debate tem levado ao extremar de posições. Porque é que é tão difícil falar sobre este tema? Sempre que este tema se discute no nosso país há quem se apresse a dizer “em Portugal não há racismo. Não haverá algum desfoque nesta visão da realidade?
Estas e outras questões numa conversa serena e profunda sobre um tema difícil.

Conversas temperadas – é possível conversar sobre racismo?