Síntese de apresentação de D. Ciriaco Benavente, Promotor da Pastoral dos Ciganos da Conferência Episcopal Espanhola no Encontro dos Directores Nacionais da Pastoral dos Ciganos na Europa, em Roma de 2 a 4 de Março de 2010 em Diálogo Gitano (Abr-Jun, 2010)


A PASTORAL DOS CIGANOS EM ESPANHA
Síntese de apresentação de D. Ciriaco Benavente, Promotor da Pastoral dos Ciganos da Conferência Episcopal Espanhola no Encontro dos Directores Nacionais da Pastoral dos Ciganos na Europa, em Roma de 2 a 4 de Março de 2010 em Diálogo Gitano (Abr-Jun, 2010)
A Pastoral específica dos ciganos no contexto da pastoral territorial. Propostas para incrementar o diálogo e a colaboração intra e extra Igreja
Os ciganos sempre foram profundamente religiosos e, à sua maneira, na sua maioria, católicos, ou pelo menos baptizados na Igreja católica. Mas, salvo excepções, nunca estiveram no seu conjunto, plenamente integrados na Igreja católica, nem a sentiram como sua. Era a Igreja dos paios. É de assinalar a rápida penetração da Igreja Evangélica de Filadélfia, (em Espanha “os Aleluias), nas práticas religiosas e vitais de numerosas famílias ciganas; iniciado em França na década de 1950, chegou a Espanha nos anos 60 e actualmente já abrange entre 50% a 70% dos ciganos espanhóis, apesar de os seus pastores serem acusados de falta de reivindicação social e de problemas formativos. Devemos perguntar-nos porquê o êxito maciço do “Culto” em apenas 50 anos. Uma cigana responde: “é que isto é dos ciganos”. No Culto “os ciganos têm a palavra, cantam, expressam os seus sentimentos, (o cigano move-se mais por sentimentos do que por grandes raciocínios), e faz-se referência às realidades concretas da vida cigana, aos seus problemas e aspirações.
Na Igreja Católica temos uma excelente teoria: desde o Evangelho (Mt. 28,19), ao Vaticano II (LG 13; SC 37.77 e 119 e CD 18) às Orientações do Conselho Pontifício (CP) de 2006, às declarações de João Paulo II no IV Congresso Mundial promovido pelo CP.
A especificidade da pastoral com os ciganos não precisa de justificação: o que a Igreja precisa de se perguntar é se tem tido em conta tal especificidade ou se lhes temos oferecido antes, a nossa pastoral ordinária, só que para os ciganos. Provavelmente encontramos aqui uma das causas da nossa falta de “sucesso”. A pastoral com os ciganos frutificou onde se incorporaram as formas e expressões do génio cigano, como aconteceu em algumas paróquias de Andaluzia.
João Paulo II apelava aos bispos africanos em Nairobi, em 1980, a que respeitando, preservando e favorecendo os valores próprios da cultura das suas populações, poderiam levá-las a uma melhor compreensão do mistério de Cristo que deve ser vivido no contexto da vida africana. Embora a globalização tenda a unificar as culturas, a etnia cigana tem uma forma especial diferente de ser e de sentir. Cada grupo humano é diferente e concretiza o seu património de identidade na sua cultura. Se se tiver isso em consideração, evita-se que as diferenças se transformem em conflitos e em preconceitos. É verdade que todo o grupo humano aspira à universalidade, pela sua implantação na natureza humana. Nenhuma cultura é autenticamente humana se não levar em si mesma a capacidade de se abrir às outras culturas. O pluralismo não deveria ser a justaposição de mundos antagónicos, mas antes a complementaridade de riquezas multiformes.
Em 1992, ao aprovar o Documento sobre a “Pastoral dos Ciganos”, a Conferência Episcopal Espanhola debateu a conveniência de criar uma Prelatura pessoal para os ciganos tal como existe para os militares.
A pastoral com os ciganos continua a ser um desafio para a nossa Igreja: deve ser objecto de reflexão continuada nas Conferências Episcopais, nas dioceses e paróquias onde vivem ciganos, nas congregações religiosas.
A maioria dos ciganos vive em situações de exclusão: são estes que sofrem a maior rejeição por parte da sociedade. A encarnação na Igreja no mundo cigano continua por fazer: os ciganos vivem outro clima cultural. É necessário que sejam os ciganos os agentes evangelizadores dos próprios ciganos. Há componentes importantes na cultura cigana, como a música, a dança, etc., que devem ser utilizadas na acção evangelizadora da Igreja de modo a criar-se proximidade e empatia entre a Igreja e os ciganos para se conseguir chegar aos seus corações. A fé não pode ir por um lado e a cultura por outro. É necessário lutar para destruir estereótipos contrários à dignidade dos ciganos. A missão da Igreja é religiosa, mas abrange o homem todo. A Igreja deve colaborar com todas as pessoas e entidades que se comprometem em melhorar a situação dos ciganos. Apesar de, devido à prosperidade económica em Espanha na última década, muitas famílias ciganas terem melhorado a sua situação e de a Fundación Secretariado Gitano, com o apoio dos Fundos Europeus de Coesão ter contribuído decisivamente para isso, em Autonomias e Municípios, um estudo do Ministério do Trabalho de 2007 concluía que se está longe de se conseguir uma redução das desigualdades. Em algumas áreas, o fosso aumenta. A actual crise financeira está a afectar especialmente as pessoas e os grupos mais vulneráveis. Os imigrantes romenos, entre outros factores, provocam o aumento do racismo e da xenofobia indiscriminados. A União Europeia deve dar especial relevância imediata às políticas de inclusão, incluindo na sua estratégia a comunidade cigana, as políticas antidiscriminatórias velando pela aplicação da respectiva normativa europeia e a aos Fundos Estruturais tornando-os no principal instrumento de eficácia contra a exclusão social, promovendo o financiamento de projectos para a inclusão dos ciganos que são a maior minoria étnica da Europa.