Líder Cigano de Portugal partiu para a Casa do Pai
Os Ciganos regem-se pelos anciãos. Os anciãos têm uma grande influência na Comunidade Cigana. Deles se pode dizer o que se diz noutras comunidades em que o poder da tradição tem grande força: “Quando morre um velho enterra-se uma biblioteca”!
Foi o que aconteceu com a morte do Ti-João Cigano, em Castelo Branco.
Homem bom, honrado e respeitado, na Comunidade Cigana e na Comunidade não cigana.
A ele se recorria confiadamente, nas horas boas e nas horas más. A sua presença era sempre benfazeja e apaziguadora. Uma palavra sua era cheia de sabedoria, seguida e respeitada por todos. Poderia dizer-se que exercia na sua comunidade a missão de Juiz da Paz! Era chamado para dirimir questões controversas, estabelecer a paz entre clãs desavindos. Uma palavra sua era uma ordem, constituía lei oral, porque ele era intérprete das tradições antigas deste Povo e como tal ouvido e obedecido.
O Ti-João Cigano, de Castelo Branco, assim lhe chamavam e assim era conhecido por toda gente, era homem simples, afável, sorridente, bondoso, repeitado e respeitador. A sua presença era, já de si, irradiante de paz e confiança. As sua barbas brancas davam-lhe um tom patriarcal. Todos o acolhiam e era bem acolhido por todos.
Era um homem generoso e profundamente cristão. Ofereceu algumas passadeiras para a Sé da sua Cidade e carpetes para a Capela do S.S. Sacramento.
Foi escolhido pela comunidade cigana para a representar, em Roma, na Beatificação do bem-aventurado Zeferino Jiménez Malla, de Barbastro, Espanha, Mártir da guerra civil, por ser homem de bem, cristão-apóstolo, junto dos pobres e das crianças e devoto do terço do Rosário de Maria, que lhe quiseram roubar na prisão. A causa da sua prisão foi a de querer defender um jovem padre que levavam preso.
No dia 4 de Maio de 1997, lá estava, em Roma, o Ti-João Cigano irradiando simpatia, representando os Ciganos de Castelo Branco, que lhe pagaram a viagem. No dia 11 de Maio do mesmo ano, deslocou-se a Vila Viçosa, para participar numa homenagem ao Beato Zeferino, promovida pelo Secretariado Diocesano de Évora da Pastoral dos Ciganos, em parceria com o Secretariado Diocesano de Badajoz, com a presença dos dois Arcebispos destas Dioceses.
A sua memória será abençoada! Praza a Deus que seja seguida e imitada! Paz à sua alma!
Esperamos que, entre os jovens ciganos de hoje, continuem a surgir Homens bons, fiéis às tradições do seu Povo, tão ricas e tão preciosas, abertos à sua cultura e ao seu desenvolvimento espiritual, religioso, social, cultural, humano e material.
Pe. Filipe de Figueiredo.