Dia dos Ciganos: Comunidade ainda é alvo de racismo, segregação e apartheid
Lusa (7 Abr)
Dia dos Ciganos: Comunidade ainda é alvo de racismo, segregação e apartheid
A comunidade cigana continua a sofrer de racismo, clandestinidade, segregação e apartheid escolar, alertam antropólogos e representantes da comunidade no Dia Internacional dos Ciganos, que se comemora no dia 8 de Abril.
José Gabriel Bastos, antropólogo da UNL, considerou que “os ciganos são os pretos da Europa”, já que tudo o que é associado ao racismo norte-americano contra indivíduos da raça negra – xenofobia, segregação, marginalização, violência contra um grupo – acontece ainda hoje contra a etnia cigana, não só em Portugal, mas em toda a União Europeia. E cita um estudo de uma equipa europeia que trabalhou em escolas, onde se conclui que 32% dos jovens têm comportamentos racistas e 66% dessas atitudes eram dirigidas a ciganos.
Artur Carmo, cigano de 25 anos, exemplifica que sempre que os ciganos vão a centros comerciais são “olhados como cães”. Diz nunca ter negado que é cigano, mas sente que não tem as mesmas oportunidades de emprego por ser da etnia. E acrescenta: “quando vou à procura de trabalho, reparam na minha cor e sou excluído por causa disso. Dizem que a vaga já está preenchida, mas quando saio continuam a fazer entrevistas às outras pessoas.”
Conta ainda: “quando o meu pai morreu, eu tive de deixar crescer o cabelo e a barba e vestir-me de preto (tradição do luto cigano). Assim que isso começou a notar-se mandaram-me embora”, lamentando o facto de ter sido despedido por ter cumprido uma tradição familiar.
Além da discriminação no emprego, os investigadores apontam outros problemas, como a “segregação”, tanto “habitacional” como “educacional”. Daniel Seabra Lopes, do Instituto de Ciências Sociais, critica as autarquias por “cederem a pressões de moradores não ciganos para segregar as outras comunidades”, e declara que criar “bairros sociais longe do centro da cidade e só com ciganos pode originar guetos e isso é mais uma desvantagem para a comunidade.” Questionado sobre as escolas que criaram turmas específicas para alunos ciganos, José Gabriel Bastos acusa o Estado português de estar a ser o promotor de “um apartheid escolar”.
Como forma de acabar com a segregação, os investigadores considerados pela Lusa apontam soluções como a discriminação positiva (reserva de uma parcela dos empregos públicos para a etnia e integração das famílias na malha urbana). Sobre a fraca frequência escolar, António Pires Nunes, presidente da Associação Cristã de Apoio à Juventude Cigana (ACAJUCI), considerou que seria importante que houvesse um ensino da cultura e da língua da minoria, ideia que foi corroborada por José Gabriel Bastos. O presidente da ACAJUCI defende ainda que “seria bom que se mobilizassem as mães para estar com as crianças na escola ou que se incentivasse a formação de professores, escolhidos por nós, da etnia cigana, uma vez que estamos muito preocupados com as nossas tradições. Outras medidas passariam ainda pela criação de um provedor dos ciganos (para impedir situações de discriminação), a educação das polícias contra o racismo e a criação de um dispositivo anti-racismo.