Conversão na alegria da Boa Nova

Neste primeiro domingo da Quaresma, Marcos inicia o seu Evangelho proclamando a encarnação do Filho de Deus. Jesus é plenamente homem, pois é tentado, e plenamente Deus, ao manifestar a vitória do amor sobre o mal. Faz uma declaração: cumpriram-se os tempos. Dirige-se a um povo que espera um Messias que estabelecerá um Reino novo, bem próximo, que vem precisamente trazer a esperança a todo o povo. Mas Deus não impõe a sua vinda, Ele faz-Se desejar. Aqui, duas atitudes do coração são necessárias: a conversão, mudando de vida e voltando para Deus, e a fé, aderindo plenamente com todo o ser à Pessoa de Jesus Cristo.

Aí está a Quaresma, conotada como tempo de penitência, de sacrifícios de toda a espécie, de resistência às tentações, à imitação de Jesus no deserto. Tempo não muito entusiasmante se houver esta acentuação sem partilha concreta! Porém, na breve passagem do Evangelho, Marcos fala duas vezes da Boa Nova, que dilata o coração, traz alegria. Porque não falar de alegria durante a Quaresma? Será que isso desvirtua o seu sentido? Trata-se de conversão. Converter-se é certamente deixar de cometer pecados e voltar a uma vida moralmente pura e reta. Mas a verdadeira conversão é “acreditar na Boa Nova”. E esta é a manifestação do verdadeiro rosto de Deus em Jesus: um Pai que é puro Amor, a fonte absoluta do Amor.

Às vezes, a primeira tentação, a mais terrível, consiste em transpor para Deus as nossas maneiras de amar, de compreender a justiça e o poder. Ora, não é Deus que é à nossa imagem, nós é que somos à sua imagem. A verdadeira conversão consiste em mudar as nossas conceções de Deus para acolher um Pai que nunca para de nos amar, que nunca nos rejeita. E quando recusamos o seu amor, Ele só tem um desejo: manifestar-nos ainda mais o seu amor, até nos dar o seu Filho, para que nos deixemos amar. Quaresma são 40 dias! Não é demasiado tempo para descobrir este Deus!

Ao longo desta primeira semana da Quaresma, vale a pena retomar o Salmo 24 da liturgia deste domingo e rezá-lo em cada manhã, lentamente. Pode ser meditado, “ruminado”. Por exemplo, memorizar um versículo para cada dia: “Tu és o Deus que me salva”… “Lembra-te, Senhor, da tua ternura”… Repeti-lo várias vezes ao longo do dia, em caminhada com o Senhor. Será uma maneira de viver a exortação à oração em segredo, escutada na Quarta-feira de Cinzas.

Com esta autêntica atitude orante, veremos que os jejuns, abstinências e esmolas só podem ser expressão do amor de Deus, nunca tomados caricaturas de práticas exteriores sem coração. Aí está a verdadeira conversão na alegria da Boa Nova.

Manuel Barbosa, scj
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