Nos peditórios da vida, dar o que somos

A liturgia da Palavra do 32.º Domingo do Tempo Comum fala-nos do verdadeiro culto que devemos prestar a Deus. A Deus não interessa grandes manifestações religiosas ou ritos externos mais ou menos sumptuosos, mas uma atitude permanente de entrega nas suas mãos, de disponibilidade para os seus projetos, de acolhimento generoso dos seus desafios, de generosidade para doarmos a nossa vida em benefício dos nossos irmãos.

A primeira leitura e o Evangelho recorrem ao exemplo de uma viúva para apresentar esta mensagem.

Na primeira leitura, a história da viúva, que reparte com o profeta os poucos alimentos que tem, garante-nos que a generosidade, a partilha e a solidariedade não empobrecem, mas são geradoras de vida e vida em abundância.

O evangelista Marcos diz-nos, através do exemplo de outra mulher pobre e viúva, qual é o verdadeiro culto que Deus quer dos seus filhos: que sejam capazes de Lhe oferecer tudo, numa completa doação, numa pobreza humilde, generosa e fecunda, num despojamento de si que brota de um amor sem limites e sem condições. Só os pobres, isto é, aqueles que não têm o coração cheio de si próprios, são capazes de oferecer a Deus o culto verdadeiro que Ele espera.

Tudo isto nos vem do exemplo de Cristo, na segunda leitura, como o sumo-sacerdote que entregou a sua vida em favor dos homens.

Fiquemos mais uns instantes no Evangelho e olhemos de novo para Jesus. Discreto no templo, vê os ricos, mas a sua atenção vira-se para a pobre viúva. Não com olhar curioso nem inquiridor. À maneira do seu Pai, Jesus ultrapassa as aparências, vê o coração. A viúva deu toda a sua vida, tudo o que tinha para viver. Não se questiona sobre como vai viver a seguir. Dá um salto no abandono total de si mesma ao Senhor. Ela é verdadeiramente filha de Abraão, o Pai da fé. Espera contra toda a esperança. Lança-se nos braços de Deus. Ao olhar esta pobre viúva, Jesus devia pensar certamente em Si mesmo.

Também nós somos reenviados a nós mesmos. Não se trata daquilo que damos no peditório da missa, em cada domingo, ou da esmolinha circunstancial ao pedinte na rua. Todos nós conhecemos momentos em que tudo escurece, em que não temos mais apoios, em que a nossa vida parece tremer. É precisamente aí que se pode verificar a solidez da nossa fé, da nossa confiança, da nossa solidariedade.

Que o exemplo da viúva, cheia de fé e de generosidade, dando tudo o que é e tem, nos motive a aumentar a nossa fé, que só deveria ser de entusiasmo em Deus, de plena adesão à pessoa de Jesus Cristo, de atitude atenta e solidária para com aqueles que encontrarmos ao longo desta semana.

Manuel Barbosa, scj
www.dehonianos.org