Não fui à Cova da Iria para participar presencialmente nas cerimónias do dia 13 de maio deste ano da Celebração do Centenário das Aparições de Nossa Senhora aos Pastorinhos. Mas tive a possibilidade de poder ver e ouvir as comunicações do Papa Francisco: na sexta-feira, dia 12 à chegada, na Capelinha das Aparições, à noite, antes da procissão das Velas e na Homilia da Eucaristia de Domingo.
Não posso dizer que passo o ano a correr para Fátima, mas tenho inscritos na alma muitos traços da mística Mariana.
Foi a Juventude Agrária Católica (JAC) que primeiro lá me levou, na década de cinquenta, de comboio até Chão das Maçãs (Fátima) e depois de camioneta. Para três dias de estudo e recolecção no antigo Seminário do Verbo Divino. Marcou-me espiritualmente e ensinou-me a ser gente. Depois voltei muitas vezes para Cursos, Conselhos Nacionais e Semanas de Estudo.
Fátima era o local preferido, porque só lá é que havia casas com condições para a Ação Católica realizar as suas atividades: salas para reunir, quartos, camaratas e locais para as celebrações. E, manhã cedo ou noite dentro, íamos à Capelinha falar com Nossa Senhora.
Mas não fiquei moldado à rotina das idas por ir, e trazer medalhas e medalhinhas como recordações, sem menosprezo pelos que o fazem.
Em 12 e 13 de maio de 1963, fui a primeira vez com os meus pais e um dos 7 irmãos – cada um de nós com a sua scooter levando os progenitores. Foi memorável, para eles e para nós, dormimos no recinto e participamos em todas as cerimónias do dia 12 e do dia 13.
Esta visita precedeu a de uma das mais importantes da nossa vida: no dia 28 de dezembro, no altar do Francisco Marto (Santo desde sábado passado) eu e a minha esposa celebramos o nosso matrimónio. Depois disso fazemos por ir uma vez por ano, com os nossos filhos e, agora também os netos, agradecer a vida e a família que somos.
Há cinquenta anos vimos pela televisão a transmissão da vinda do Papa Paulo VI e, depois a de João Paulo II, que também fomos ver em pessoa a Coimbra e, confesso que nos sentimos atraídos por ele, talvez por já nos ter saudado da janela da sua residência de Castelgandolfo, respondendo ao nosso grito de Portugal com a expressão Fátima. Da visita de Bento XVI fixámos muito pouco pela distância a que dele nos sentimos, tal como de Paulo VI.
Com Francisco foi completamente diferente de todos os anteriores. Ele faz-nos sentir como se estivéssemos junto dele, pelo modo como fala, pela serenidade comunicativa, pela bondade irradiante. A voz macia e aveludada e a doçura das expressões vão-nos direitas ao coração. A sua presença inspira confiança. Mesmo quando denuncia o que não está bem fá-lo em tom delicado e caridoso. Mas não deixa por dizer o que deve ser dito, como na Bênção das Velas na sexta-feira, dia 12: “Peregrinos em Maria … Qual Maria? Bendita por ter acreditado, sempre e em todas as circunstâncias, nas palavras divinas, ou então uma “santinha” a quem se recorre para obter favores a baixo preço? (…)”
No regresso a Roma, já dentro do avião, em conversa com os jornalistas e dirigindo-se mais para o interior da Igreja preveniu para que fujamos do clericalismo. “O clericalismo é uma peste na Igreja, que afasta as pessoas”.
Reconhecendo não ter uma especial vocação mariana tocam-me muito as manifestações a Nossa Senhora e, este treze de maio coincidiu com a peregrinação de Nossa Senhora de Fátima da minha Paróquia pelas Igrejas dos Lugares, tendo estado precisamente de 12 a 15 na nossa. E o Povo viveu-os intensamente, rezando, cantando e meditando com o Papa Francisco, pelo livro “Nas Mãos de Maria”. Eu confesso que também fui abanado pela Oração do Papa na Capelinha bem como pela profundidade da Homilia, sobretudo quando proclamou com voz quente e húmida: “Queridos peregrinos, temos Mãe, temos Mãe. Agarrados a Ela, como filhos, vivamos da esperança, que assenta em Jesus (…)”
Acordei, compreendi! Algumas mães que geraram a nossa vida humana já partiram, como a Virgem Mãe de Jesus. Mas esta Mãe, que nos foi dada no Calvário, continua connosco, em Casaldima, na Cova da Iria, no mundo inteiro a velar por nós, não para receber recados e fazer favores, como observou o Papa, mas para assumir o seu integral papel da Mãe perfeita que faz felizes os filhos que a ela se acolhem. Sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho, disse o Santo Padre. Meditemos nesta expressão “acreditar na força revolucionária da ternura e do carinho”.
Bendita a hora em que o Espírito Santo inscreveu o nome de Jorge Mário Bergoglio no livro dos Pastores da Igreja Universal como o seu 266º Papa.
Caríssimo Santo Padre, com a vossa vinda a Fátima, como peregrino da paz e da esperança, Silhueta Branca no meio de irmãos de vermelho e de homens de poder, sem com eles se misturar, mas com o povo anónimo se confundir, com o vosso acendrado amor à Virgem, a vossa fé em Jesus e sua Mãe, que converte os mais duros corações, com o vosso exemplo, que arrasta e comove, vós que deste nova luz e força universal à Mensagem de Fátima, reacendendo a esperança e a paz Vós, Francisco, fizeste-nos acreditar que, pela oração, venceremos a indiferença, a pobreza, a miséria e … as guerras, que se propagam um pouco por todo o mundo, ameaçando esmagar povo inocente.
Convosco Santo Padre e com os Santos Francisco e Jacinta, a partir deste 13 de maio de 2017 nada será como dantes, nem em Fátima, nem nos nossos corações, nem no Mundo! OBRIGADO!