A caminhada de Adento-Natal que a Diocese de Aveiro nos propõe é um itinerário muito simples, abrangente, provocador… Só quem se julga “puro”, sem necessidade de mudança, é que poderá ver nele um entretenimento para crianças.
Primeiro, partir da Palavra de Deus é princípio fundamental para todos os cristãos. Somos tão pouco cultos e cultores da Palavra que fixar uma expressão que acicate uma semana de espiritualidade, de interiorização e esforço de prática quotidiana, não é senão um válido instrumento educativo primário. E falta-nos a educação básica da fé, que nos inspire um caminho de ação-revisão-ação.
Depois, o hábito de palavras-chave, facilmente memorizáveis, que se façam permanentemente presentes no dia-a-dia, é um precioso auxílio, no meio desta profusão de informação, que nos chega em caudais avassaladores, para nos atermos ao essencial.
Uma fé que não se torna atitude e prática do dia-a-dia é uma ideologia, um papaguear de conceitos e ideias que nos deixam estagnados, que nos tornam contraditórios. Pequenas coisas, desde o exame de consciência a uma boa ação, desde o exercício do perdão ao aprimorar de um rosto que semeie esperança e alegria… são as formas existenciais de tornar visível a Alegria de sermos discípulos.
Orar e sentirmo-nos irmanados com um sem número de pessoas, repetindo a mesma pequena oração, a qualquer hora, em qualquer lugar, incute-nos esta atitude fundamental de quem se coloca diante de Deus, para agradecer e implorar, para louvar e adorar. E retomar uma dimensão importante da vida familiar que é fazer do domingo o dia da Família, dando-lhe como alicerce a Eucaristia participada de mãos dadas – pais e filhos – será luz para muitas hesitações, talvez remédio para muitas feridas iniciadas.
E, se nós somos seres sociais e primeiro círculo de socialização e educação é a Família, por que não ter um gesto em Família que nos sacuda mutuamente para esta urgência de progredir na fé? E, membros de uma Comunidade cristã, por que não tem um gesto, em contexto celebrativo, que desperte os adormecidos, que entusiasme os que querem crescer, que, porventura, interrogue os que andam alheados?
Esta pedagogia das coisas simples, mas concertadas, vale mais do que muitas aulas de teologia, talvez mais do que os cursos institucionais. Afinal, ela toca no nosso pensar e no nosso agir, alia o conhecimento e a prática, conjuga os passos pessoais com a caminhada em conjunto. É um processo catequético, que não corre o risco de conferir diplomas teóricos ou “fabricar” indiferentes ou descrentes.