Confissão

Poema Quantas vezes, cansado, em ar furtivo

eu venho encarcerar-me no meu quarto…

Quando do mundo já me encontro farto

dos seus rostos, do triste ou do festivo!

Procuro aqui sossego, o lenitivo

para os males que tenho e não reparto.

A sombra faz-me bem. Da luz me aparto,

que apenas este ambiente é compassivo.

Sentindo do silêncio o peso brando

e enquanto à volta tudo vai parando

desço-me à noite, Amigo, e não existo.

Escondo-me no escuro onde já moro

mas indo tapo o rosto. Então eu choro…

Separo-me de mim… e penso em Cristo!

José Martins da Silva

Soneto originalmente publicado neste jornal, na edição de 3 de fevereiro de 1962. De José Martins da Silva (Glória-Aveiro, 1930 – Estarreja, 2010), como se noticiou na edição da semana passada, será lançado em Estarreja, no dia 23 de novembro, sexta-feira, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal, o livro “Versos que vão no vento”. O autor, funcionário da Cires durante 32 anos, foi diretor do jornal “O Concelho de Estarreja” (1978-2012) e colaborador e dirigente de várias coletividades.