Demos um pontapé na preguiça!

Educar… hoje É a preguiça que me traz aqui hoje. Sei de uma turma de alunos que, na área de Formação Cívica, está a desenvolver trabalhos sobre esta temática. Em grupos de quatro, há sempre um que se assume como preguiçoso e conta o que faz, ou não faz, e os outros questionam-no, descobrindo os momentos em que se deixam levar pela indolência e as motivações contrárias à mandriice. Desde uma encenação, a cartazes com o estudo de casos (os deles próprios), passando por jogos de palavras e pela referência ao mamífero do Brasil de nome Preguiça, os alunos desenvolvem o espírito crítico e criativo. Mas o mais importante é o facto de aprenderem a questionar comportamentos, muitos deles sem qualquer justificação que não a de um metabolismo psicologicamente responsável pela ociosidade e pela desistência crónica, face à mais pequena contrariedade.

Ora pensar a preguiça é uma actividade que se integra numa dinâmica bem definida de responsabilização de atitudes, para já não falar na aprendizagem mais ampla de valores. Mais: integra-se num esforço (que deve ser continuado) da descoberta de problemas e suas resoluções, que a Escola procura desenvolver nos alunos.

E não será a preguiça um obstáculo à urgência, proclamada em muitos discursos que se ouvem ultimamente no nosso país: o grande desafio é a qualificação? (Vejam-se, a propósito do nosso grau de qualificação e escolarização, os dados da OCDE.)

Em paralelo com esta premência, surge outro alvo: a saúde. É o senhor Presidente da República que alerta para a necessidade de se formarem consciências através da educação para a saúde, na sua jornada de quatro dias sobre “envelhecimento e autonomia”. É um comentador, a propósito do Relatório do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência deste ano, que relata que Portugal continua a ser um dos países da UE com maior índice de infecções pelo HIV (em 2003) entre consumidores de droga injectável. Dizia ele que os profissionais de saúde têm de encontrar os meios para levar a população a comportamentos seguros e correctos. É o Conselho Nacional de Educação, que publicou um Parecer sobre a Educação Sexual nas Escolas, de 27 de Outubro. É o Grupo de Trabalho de Educação Sexual, coordenado pelo Professor Daniel Sampaio, com um Relatório Preliminar sobre a mesma matéria, de 31 de Outubro. Estes dois documentos encontram-se acessíveis na página da internet do Ministério da Educação*. Bom seria que tais textos originassem uma discussão generalizada na comunidade educativa local e nacional. A ler, pelo esclarecimento de ideias, pela actualidade e pelas pistas de trabalho.

Digo eu: pais, professores/educadores, funcionários administrativos e auxiliares da acção educativa, e alunos, por que não?!, têm de encontrar os meios para que os comportamentos da população estudantil sejam os seguros e os correctos, contrariando a preguiça ou a desistência enganadoras. Difícil? Muito. Faz-se na Escola? Sim, em muitos estabelecimentos públicos e privados, de forma mais pontual ou planificada a longo prazo. Mas o esporádico não chega.

* http://www.dgidc.min-edu.pt/EducacaoSexual

http://www.dgidc.min-edu.pt/EducacaoSexual/Parecer_Final_CNE.pdf