A palavra do Papa Francisco é sempre provocadora e inquietante. Quem admira a sua pessoa e as suas intervenções só o faz sinceramente na medida em que se torna paladino da vivência dessa palavra e promotor da sua divulgação.
Na sequência dos textos evangélicos destes domingos últimos, apraz-me registar estas: «A pessoa humana está em perigo; isto é certo, hoje a pessoa humana está em perigo; eis a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave, porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é só uma questão de economia, mas de ética e de antropologia. O que manda hoje não é o homem, mas o dinheiro, é o dinheiro que manda! E Deus, nosso Pai, confiou a tarefa de conservar a terra não ao dinheiro, mas a nós, aos homens e às mulheres; somos nós que temos esta tarefa!»
As políticas dos Estados, a começar pelo nosso, e a política internacional entronizam a dignidade humana como prioritária, mas, em verdade, subsiste o domínio avassalador dos interesses económico-financeiros. E toda a vida e estrutura social é subjugada por essa rede de “máfia” do lucro.
A “ética” é talhada à medida dos interesses dos maiores. A antropologia assumida, vivida e ensinada, é a conceção materialista e economicista da pessoa humana. Despreza-se a pessoa humana integral. Os reflexos são evidentes. Outros caminhos é que darão frutos novos. Uma ecologia social, nas palavras de Francisco, “é necessariamente institucional e progressivamente alcança as diferentes dimensões, que vão desde o grupo social primário, a família, até à vida internacional, passando pela comunidade local e a nação. Dentro de cada um dos níveis sociais e entre eles, desenvolvem-se as instituições que regulam as relações humanas. Tudo o que as danifica comporta efeitos nocivos” – LS 142
A própria ecologia cultural sai ferida de uma visão consumista individualista da pessoa humana, uma vez que a “visão consumista do ser humano, incentivada pelos mecanismos da economia globalizada atual, tende a homogeneizar as culturas e a debilitar a imensa variedade cultural, que é um tesouro da humanidade”. Perde-se o horizonte do bem comum, quando “a ecologia integral é inseparável da noção de bem comum, princípio este que desempenha um papel central e unificador na ética social”. – LS 144
É um paradigma exigente. Mas é o único que poderá plasmar uma atividade política nobre, que resulte em proposta e organização social fiéis ao ser da pessoa humana – a libertação da política do freio, do condicionamento pela economia. “A política não deve submeter-se à economia e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana”. – LS 189
Será que estamos interessados em sermos apóstolos deste Evangelho?