Com a novidade do Papa Francisco, nunca se viu um Papa ser tão deturpado nas afirmações que faz pelos meios de comunicação social. A sua simpatia e proximidade geraram uma onda de afirmações que exigem que a Igreja negue o que pregou durante séculos. Para muitos, a era de Francisco será a permissividade e tudo será autorizado. As doutrinas anteriores caem por terra, os papas anteriores perdem autoridade, a sombra de Ratzinger foi excluída, e mesmo que o Papa cite afirmações de Santo Agostinho ou de papas anteriores, tudo parece que é original dele, que o mundo ouve essa realidade pela primeira vez. Qualquer afirmação mais ou menos ambígua é logo interpretada de diferentes modos, e uma entrevista a um jornalista passa a ser doutrina “ex cathedra”. Tudo está absolvido. A Igreja só se preocuparia com os pobres.
O Papa telefona para toda a gente. As famosas bênçãos papais dadas por carta escrita desde o Vaticano pelo assessor do mesmo passa a ser notícia de televisão e de jornal. O Papa escreveu a esta pessoa ou a este sacerdote. Sabemos bem que toda a gente pode escrever para o Vaticano e que a resposta não é do Papa mas da equipa que com ele colabora, que carimba uma assinatura. São milhares de cartas respondidas cada mês. Não foi o Papa quem as escreveu. Há dias, para justificar o desejo de batizar na minha paróquia, uma senhora disse: “Sou amiga do Papa! Achei graça e perguntei: “Como?” “Sou amiga no Facebook…” O mundo anda assim.
O relativismo e a mediocridade é a doença desta Igreja que se torna um festival. Para sabermos o que o Papa diz, temos de recorrer a informações fidedignas, como a agência Ecclesia ou o jornal “Osservatore Romano”… A televisão e o Facebook permitem o desfile da ignorância e da maliciosidade, quando não do ataque premeditado contra a Igreja, por vezes bem subtil.
Do outro lado do mundo, os cristãos vivem o dia a dia de perseguições e massacres e não sabem o que é ter casa, bens, igrejas… Vivem refugiados e perseguidos, terminando muitos com mortes crudelíssimas. O mundo pensa nas férias de verão, na Europa. Os do Médio Oriente, em conservar a fé e a dignidade e ver se sobrevivem, ou morrem sem negar a Cristo… No ocidente, as afirmações da Igreja para os católicos levam o mundo a revoltar-se. Movimentos feministas, de gays… atacam Jesus Cristo e atacam sacerdotes e religiosas que se atrevam a ir identificados como tal. Seitas proliferam extorquindo o dinheiro da aflição casada com a ignorância.
No interior da própria Igreja ainda há quem lute contra os que amam Maria, os que rezam “muito” e contra os que amam e servem. Muitos sacerdotes tornaram-se profissionais de religião, e maus funcionários, pois nem têm gestos de educação para atender o próximo. A Igreja continua com leis que dividem, negando o Batismo a muita gente, quando Jesus queria que todos se batizassem. E isso em nome de uma formação que mal existe, pois a catequese é um falhanço já comprovado, basta ver que no verão as crianças não frequentam a Igreja na sua grande maioria. Confessar-se, hoje, é uma obra de investigação, pois os confessionários estão vazios de padres. Embora haja penitentes, a maioria deles ansiosos, não pelo perdão, mas para contarem o romance de sua vida dolorosa, confundindo atendimento com sacramento. Tradicionalistas insultam modernistas. Defendem-se Missa tridentinas diante das chamadas “de Paulo VI”. Quem se veste de padre pensa que é mais sacerdote do que os outros. Religiosas comem-se vivas nos mosteiros. O Papa é criticado por uns e outros. Não sabemos que Igreja queremos. Os princípios da oração perdem-se submersos num mundo de atividades pastorais. Muita festa. Pouco encontro com Deus. Pouco amor de perdão efetivo.
O fundamentalismo islâmico, hindu e judeu queima igrejas e cristãos, desde o norte do mundo até aos confins de África. A Igreja Petrina parece não ter de ser igreja Mariana. Formação é o grito de guerra, e nunca tivemos tanta presunção e tanta ignorância. Um caos? Fim do Mundo? Não. Como diz a Bíblia: “Nada de novo debaixo do Sol”.
Mas vivemos uma época, apesar de tudo, apaixonante, em que o equilíbrio se impõe de dentro de nós para fora, de dentro da Igreja para o mundo. Sem ser do mundo, de mãos dadas com ele sem se negar a si mesma. E prontos a dar a vida, pelo próximo e pela verdade da fé se isso nos exigir, construindo, com atenção, cada dia, no desejo de fidelidade. Nunca foi tão bom ser cristão. Sempre foi arriscado. Voltamos à época dos nossos inícios. Uma Igreja apertada por todos os lados. Um pequeno resto de multidão que segue o Papa. Ama-o, incondicionalmente, unidos aos bispos e presbíteros, construindo comunhão, de mãos dadas com os homens mesmo de outras confissões. E com o sentido do sobrenatural diante dos olhos, unidos aos anjos, aos santos e a Maria, de alma eucaristizada, desejando ser santos do nosso tempo, certos de que, nesta luta, Cristo já venceu!
Vitor Espadilha