Livro revela antiguidade da Capela de S. Gonçalo

Apesar desta lápide de 1712 e da data de 1714 por cima da porta principal, Amaro Neves sustenta que o templo é do séc. XVI

Apesar desta lápide de 1712 e da data de 1714 por cima da porta principal, Amaro Neves sustenta que o templo é do séc. XVI

A capela aveirense de S. Gonçalo é originária da segunda metade do século XVI e, nos seus primeiros tempos, serviu de igreja matriz da então recém-criada paróquia de Nossa Senhora da Apresentação.
Esta é a principal conclusão do livro “S. Gonçalo em Aveiro. Ermida. Igreja Paroquial. Capela”, da autoria do historiador aveirense Amaro Neves e editado pela ADERAV, recentemente apresentado pelo autor e por José António Rebocho Christo, diretor do Museu de Aveiro.
Amaro Neves aponta o provável início da construção da capela de S. Gonçalo para o período de 1550-1560, citando um documento que refere um possível enterramento naquele templo, ocorrido em julho de 1562, pelo que a capela já deveria estar concluída ou em fase final das obras.
A par desses dados documentais, o autor realça também que o estilo arquitetónico era o usual em meados do século XVI, mesmo que sejam notórias alterações de épocas posteriores, dando como exemplo algumas capelas quinhentistas, existentes em diversas partes do país, que apresentam caraterísticas similares com aquele templo aveirense.
Por tudo isso, Amaro Neves considera que a data de 1714, gravada por cima da porta é referente a eventuais obras de conservação e nunca à sua conclusão original, o mesmo se passando com a lápide, datada de 1712, que assinala a morte de um operário nas obras da capela. O autor refuta ainda a ideia, defendida por alguns historiadores, de que a atual capela tenha sido construída, nos inícios do século XVIII, sobre as ruínas de um templo mais antigo, o mesmo acontecendo com a hipótese da igreja de Nossa Senhora da Apresentação ter sido erguida sobre as ruínas de um antigo templo dedicado a S. Gonçalo.

 

Igreja paroquial durante quase meio século
Quando em 1572 o Bispo de Coimbra dividiu a paróquia de S. Miguel, de Aveiro, em quatro paróquias, entre as quais a de Nossa Senhora da Apresentação, na área daquela nova paróquia não havia ainda igreja matriz, pelo que a capela de S. Gonçalo, o templo com maior dignidade entre os poucos que nessa altura existiam na nova paróquia, teria sido escolhida para servir de igreja matriz enquanto decorresse o processo de construção da futura igreja de Nossa Senhora da Apresentação.
Apesar de Rangel de Quadros apontar o ano de 1615 como o da mudança da sede paroquial para a nova igreja, Amaro Neves sublinha que o novo templo ainda continuava em obras no ano seguinte. No entanto, o autor esclarece que a sacristia da nova igreja só ficou concluída no ano de 1626.
Outro dado revelador da capela de S. Gonçalo ter servido de igreja paroquial é, no dizer do autor, o povo passar a designar a nova igreja paroquial por S. Gonçalo em vez de Nossa Senhora da Apresentação, passando a capela a ser referenciada por S. Gonçalinho. Ainda no século XX essas designações eram usualmente populares, incluído por pessoas residentes na área da Gafanha.
Com a abertura ao culto da nova igreja paroquial de Nossa Senhora de Apresentação por volta de 1616, Amaro Neves revela que a capela de S. Gonçalo manteve-se aberta ao culto, de uma forma regular, por mais alguns anos, uma vez que passou a servir como “igreja conventual” aos frades carmelitas instalados a partir de 1613, numa casa nas vizinhanças da capela, pertencente a Gil Homem, onde se mantiveram até 1618, ano em que se mudaram para o palacete de D. Brites de Lara, então acabado de construir, e que após a saída dos frades para o novo convento do Carmo, acolheu as freiras carmelitas, palacete que ficou popularmente conhecido como Convento das Carmelitas.

C.F.