“Mais vale cair em graça do que ser engraçado”

O ponto é sabermos de quem é a graça em que caímos. Muitas vezes, cair em graça de alguém é prender-se à desgraça desse alguém. Raramente é seguro cair em graça, se perdemos independência. É claro que há sempre quem saiba aproveitar-se tanto da graça como da desgraça dos outros.
Na 1.ª leitura, foi David quem caiu em graça, embora não fosse ele, mas Eliab, o mais engraçado.
S. Paulo dá uma volta ao provérbio: se não nos fazemos engraçados perante Deus, não conseguimos cair na sua graça.
Quanto a S. João, apresenta-nos uma das histórias mais dramaticamente bem desenvolvidas de todo o Evangelho. O cego caiu na graça de Jesus sem sequer pretender fazer-se engraçado; fez-se engraçado perante os fariseus e só lhes caiu na desgraça; finalmente seguiu o conselho de S. Paulo: mostrou a Jesus a sua maneira de ser engraçado e Jesus revelou-lhe o segredo e a força da sua graça.
O provérbio em questão é exemplo de amarga sabedoria: dá conta de que o sucesso na vida depende mais do proteccionismo do que do valor pessoal. Mas também é um conselho de prudência e mesmo de esperteza: os poderosos não podem ser atacados frontalmente, e até se tornam fracos se lhes alimentamos a vaidade.

 

Manuel Alte da Veiga
m.alteveiga@netcabo.pt
(Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico)

 

 

Leia o artigo completo na edição em papel do dia 26 de março de 2014