Quando em outubro de 2013 o P.e Antonio Spadaro esteve em Fátima, nas jornadas das comunicações sociais promovidas pela Igreja católica, foi inevitável que se gerasse um espaço para que ele falasse do Papa. O padre jesuíta italiano, diretor de “La Civiltà Cattolica” e Consultor do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais, estava em Portugal para falar de “Ciberteologia” e sobre como “pensar o cristianismo no tempo da rede”. Mas a curiosidade dos participantes das jornadas e principalmente dos jornalistas virou-se para a entrevista que fizera ao Papa em nome de 16 revistas ligadas aos jesuítas (entre as quais a portuguesa “Brotéria”; refira-se, aliás, que a ideia de entrevistar o Papa nascera numa reunião de responsáveis editoriais jesuítas em Lisboa).
A certa altura, Antonio Spadaro revelou em Fátima que tinha como projeto escrever um livro sobre o Papa Francisco a cada seis meses. Ora, passado um ano sobre a eleição de Jorge Mario Bergoglio, cá estão dois livros sobre o Papa. Para já, está a cumprir. E supomos que, perante a atividade e a novidade constante do Papa argentino, não terá dificuldade em produzir os tais dois livros por ano.
“Temos de ser normais” é uma partilha sobre os bastidores da tal entrevista das revistas dos jesuítas (e publicada ao longo de várias semanas na última página do Correio do Vouga). Spadaro reflete sobre o que o Papa disse, dá contexto, aprofunda, acrescenta episódios, gestos e expressões. “Temos de ser normais”. E os episódios dos bastidores mostram um “papa normal”, que pergunta ao entrevistador se quer sumo de alperce ou limonada. “Fiquei surpreendido com tão insólita alternativa. Escolhi o alperce, supondo que o papa ia pedir a alguém que trouxesse o sumo. Na realidade, porém, ele é que se levantou, pegando no copo, numa mesinha na garrafa de sumo de alperce e servindo-me (…)” (pág. 126). O Papa quis limonada.
“O Sonho do Papa Francisco. Os jovens no coração da Igreja” é a tentativa de “perceber o significado profundo” dos “dias brasileiros” (Jornada Mundial da Juventude, de 22 a 28 de julho de 2013, no Rio de Janeiro) para o rosto futuro de Igreja.
Mais uma vez somos surpreendidos neste livro com a normalidade de Francisco, para lá das notas eclesiológicas e pastorais que o autor acrescenta. Quando um Papa é normal, temos uma surpresa enorme. Perguntaram-lhe o que levava dentro da pasta preta. É pouco usual um pontífice levar consigo a sua pasta. “Não era a chave da bomba atómica!” – comentou ao regressar do Brasil. E disse que tinha dentro da pasta uma navalha da barba, o breviário, a agenda, um livro para ler, uma imagem Santa Teresinha, de quem é devoto. “Sempre andei com a pasta, quando viajo: é normal. Mas devemos ser normais. (…) Devemos habituar-nos a ser normais. A normalidade da vida” (pág. 9) – no início deste segundo livro, mais uma explicação para o título do primeiro.
Jorge Pires Ferreira