Novo paradigma

Querubim Silva Padre. Diretor

Querubim Silva
Padre. Diretor

A leitura da recente exortação apostólica do Papa Francisco “AMORIS LAETITIA” (“A Alegria do Amor”) exige longo tempo e concentração aturada, para lhe perceber toda a riqueza, lhe beber toda a alegria e nova coragem, para a tornar o guia atual da pastoral da Família.
Entretanto, merecem sublinhado imediato algumas frases que apontam para um novo paradigma, seja na preparação do Matrimónio, seja na vivência da vida conjugal e familiar, seja na consideração do acolhimento e orientação na diversidade dos casos especiais de relação familiar, que tratamos como “situações irregulares”. Fico-me, hoje, por esta última temática, considerada no número 300 dessa exortação.
E a primeira grande afirmação é esta: “Se se tiver em conta a variedade inumerável de situações concretas, como as que mencionamos antes, é compreensível que se não devia esperar do Sínodo ou desta Exortação uma nova normativa geral de tipo canónico, aplicável a todos os casos.”
Porque essa é a tentação pastoral muito frequente: padronizar a atuação – o que facilita muito o trabalho pastoral, com grave prejuízo para a sua justiça e eficácia! – confundindo o tratamento de igual dignidade com o legalismo de “receita ou pena igual” para todos. Ao contrário desta atitude, Francisco entende possível apenas “um novo encorajamento a um responsável discernimento pessoal e pastoral dos casos particulares”. Porque “o grau de responsabilidade não é igual em todos os casos”.
Isto exige um acompanhamento personalizado das pessoas interessadas, com um trabalho de discernimento, à luz da doutrina da Igreja e sob a orientação do Bispo da Dio-cese. O caminho será de um sério “exame de consciência”, com etapas de reflexão, mo-mentos de contrição e arrependimento.
A situação dos divorciados recasados reclama um percurso de discernimento, no foro interno, sobre a realidade da vida conjugal e familiar vivida anteriormente, as razões e factos da rutura, o impacto da mesma na vida do outro, dos filhos, a situação atual dos intervenientes no drama, seja o cônjuge, sejam os filhos.
Este caminho deverá levar a que se os interessados cheguem a uma consciência clara diante de Deus da sua situação espiritual e dos eventuais obstáculos a uma participação plena na vida da Comunidade. E esse é o ponto de partida para os passos a fazer. Tudo sempre sob o lema da verdade na caridade; tudo sempre em clima de humildade e privacidade, na busca da fidelidade a Deus e do amor à Igreja. Desse modo se encontrará a vontade de Deus e a resposta ajustada a essa vontade.
Um novo paradigma pastoral! Exigente, sem dúvida. Mas o único que conjuga a fidelidade a Deus com o respeito e o humilde serviço que a Igreja deve prestar à pessoa humana!