Novos dados sobre os antigos conventos de Aveiro

Fernando Marques, Silvestre Lacerda, José Berger e Porfírio Correia

O Mosteiro de Nossa Senhora da Misericórdia, também conhecido por Mosteiro de S. Domingos, era um imponente edifício com três pisos, com um claustro e um pátio (aberto num dos lados), e uma vasta cerca onde se erguiam alguns anexos, conforme revelam as plantas que, até há pouco, eram praticamente desconhecidas para os historiadores aveirenses, e que se encontravam no Arquivo Histórico Militar, e que depois de devidamente estudadas, foram dadas a conhecer durante as Jornadas “Memórias Gráficas de Antigos Conventos e Mosteiros de Aveiro”, realizadas nos dias 7 e 8 de abril, por iniciativa de uma equipa de investigadores e pelo Arquivo Distrital de Aveiro.
Os documentos agora divulgados trouxeram nova luz também sobre outras antigas casas religiosas de Aveiro, com destaque para o Convento da Madre de Deus de Sá e o Convento de Santo António, as quais, juntamente com o Convento de S. Domingos, por motivos diversos, estiveram total ou parcialmente tutelados pelo Exército. Assim, é possível conhecer as plantas desses imóveis (a maioria posteriores a 1834), as alterações projetadas para acolher as funções militares, entre outros dados.
A par dessas antigas casas religiosas de Aveiro, também a documentação existente naquele arquivo militar, e ainda documentos que estão à guarda da Arquivo Nacional da Torre do Tombo proporcionou informação até agora desconhecida sobre esses mesmos conventos e mosteiros, bem como sobre o Mosteiro de Jesus, o Convento do Carmo, o Convento de S. João Evangelista (ou das Carmelitas) e o Recolhimento de São Bernardino.
Na Torre do Tombo encontram-se os inventários exaustivos e pormenorizados que foram efetuados no período imediato ao encerramento dos conventos e mosteiros ocorrido após a lei de 1834. Todos os bens moveis (dos objetos da cozinha e da botica, às alfaias litúrgicas, passando pelos livros e outros documentos) existente nessas sete antigas casas religiosas de Aveiro foram então inventariados por uma equipa liderada pelo juiz de fora, inventário que inclui ainda bens imóveis (edifícios e outras propriedades), foros, arrendamentos e respetivas formas de pagamento. Por isso, é possível saber o que existia em cada uma dessas casas na data do seu encerramento, e o respetivo valor. Em alguns casos, também há indicação sobre vendas, com os respetivos valores e compradores.
De realçar que a Torre do Tombo tem praticamente todos estes inventários disponíveis em formato digital e que, por enquanto, podem ser consultados livremente na Internet, conforme revelou Silvestre Lacerda, diretor-geral da Direção Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, entidade que tutela a Torre do Tombo.
As jornadas incluíram ainda duas visitas guiadas, uma ao Convento do Carmo (igreja, área museológica, e restos do antigo convento) e outra ao Convento de Santo António (igrejas de Santo António e de S. Francisco, sacristia e claustro).
As comunicações, bem como algumas das plantas dos antigos conventos e mosteiros de Aveiro executadas por engenheiros militares, estão reunidas em livro, que foi lançado no primeiro dia das jornadas. C.F.