O Dia Mundial da Criança, o Dia do Idoso, o Dia dos Avós… Não sei se sobra algum dia do ano sem uma atribuição específica, que vai das pessoas aos animais, à natureza, aos acontecimentos.
É bom acicatar as memórias adormecidas, é verdade. E, porque se multiplicam inúmeras atividades acerca dos motivos de celebração, há sempre algum resultado positivo na comemoração. Às vezes com gastos que em nada beneficiam a pessoa humana e o ambiente, também é um facto.
A minha questão é que esta fragmentação, que nos absorve energias polarizadas em cada um desses “dias”, nos faz perder a visão global da pessoa, em todas as suas idades e situações, na sua dignidade irrenunciável, na sua liberdade, na sua verdade. Tanta atividade sectorizada distrai-nos da busca permanente da harmonia com a natureza. E, mais grave, presta-se a todas as produções de lucro fácil, que redunda, não raras vezes, em despesismo incontrolado, que empobrece e cria dependências.
Sobretudo em relação às crianças, pululam as modas veiculadas pelos media, pretensamente com fins pedagógicos, mesmo psicológicos, cujos efeitos se esgotam no desespero de alguns pais impotentes para responder às pretensões ou exigências dos seus filhos.
Em vez disso, sem custos, seria de lhes dar tempo para brincar, para criar os seus brinquedos e os seus jogos…, que, infelizmente, já passaram ao rol de artigo de “feira à moda antiga” com os ditos “jogos tradicionais”. Andamos em busca da criatividade, do empreendedorismo. Mas oferecemos tudo feito ou com guia de instruções para montar.
Um dos Livros Sapienciais diz-nos que “há tempo para tudo”… E “quem não tem tempo arranja-o sempre”, para aquilo que é importante, como é essa proximidade constante da vida, sem dia marcado. “Quem tem tempo arranja desculpas”, para se acomodar ao descartável, mais cómodo, é certo, mas que não deixa memória.
Não é condenável continuar a celebrar os Dias disto e daquilo. Desde que seja apenas a ocasião de aferir como está a nossa relação com as coisas, com os outros, connosco mesmos e com Deus.