Tijolo

S. Pedro compara cada pessoa como um tijolo colocado junto aos outros para a construção do grande edifício que é a Igreja. Unidos uns aos outros e à Pedra Angular, que é Cristo, o cimento que nos une, em harmonia e unidade, é o Espírito Santo.
A ação do Espírito Santo, na Igreja, é descrita por S. Lucas nos Atos dos Apóstolos, a que também chamamos “Evangelho do Espírito Santo. Diz-se que a Igreja nasce do Pentecostes. Verdadeiramente, ela nasce na Encarnação do Verbo… Mas a sua expansão missionária dá-se no dia do envio, prometido, do Espírito Santo.
E a Igreja chega até nós quando somos batizados. Passamos a ser tijolo na construção deste templo espiritual. Isto sugere-nos que, em primeiro lugar, somos indispensáveis, não dispensados, embora servos inúteis.
Cada um tem o seu lugar na Igreja. Deveríamos entender que cada pessoa vale muito para Deus. Já longe deveriam ir os tempos em que se sacrificasse uma pessoa para se salvar a instituição. Mas a verdade é que ainda acontece o sacrifício de muita gente… pelo facto de se ser diferente no pensar e no agir. Por vezes, parece que não se pode pensar e opinar.
Temos de andar num carril certo. Embora a obediência ao Magistério seja condição essencial para servir a Igreja, a verdade é que a nossa obediência é de adultos, que podem questionar, movidos pelo desejo da Luz. E sendo tijolos, S. Pedro diz que não somos meramente passivos, mas chama-nos “pedra vivas”. Ora, isso também nos sugere que, para um cristão, não há atos indiferentes. As nossas ações ou promovem o bem da Igreja e do mundo, ou o seu prejuízo.
O mesmo de diga das nossas omissões. É interessante que pouca gente se acuse de pecados como o desrespeito das leis de trânsito, excesso de velocidade… São pecados não considerados. Mas até o bem que não se faz prejudica o andamento harmónico do mundo. Isso levava os santos a pensarem que cada ação, por pequena que fosse, movida pelo amor, tinha poder para mudar o rumo de muitas histórias individuais e comunitárias.
Por isso, quando Filipe lhe pede “Mostra-nos o Pai e isso nos basta”, Jesus dá uma resposta que os deixa perplexos: “Há tanto tempo que estou convosco e não me conheceis? Quem me vê, vê o Pai…” Ser pedra viva é isso mesmo: mostrar o Pai-Deus. Quem me vê… que veja o Pai, não a minha imagem para uma vanglória, mas o PAI, e isso nos basta… Por isso, Jesus um dia disse: “Que vejam as nossas boas obras e glorifiquem o Pai”.
Ser pedra viva não é só fazer parte de um número ou estatística. É ser membro vivo que atua movido pelo Amor que salva. Quem ama está vivo, porque está em Deus, pois Deus é Amor. Quem não ama não conhece Deus. Não é só rezando que se constrói a Igreja, embora rezar seja imprescindível. Mas a construção deste edifício só se faz com pedras vivas, que só vivem porque amam. Por isso entendemos, que sendo Jesus o Guia da nossa fé, Ele mesmo se diga Caminho, Verdade e Vida…
O Espírito Santo faz-nos tijolos, pedras vivas na construção deste templo, para, através de nós, revelar o amor que Deus nos tem. Amar é mostrar Deus… e é isso que Jesus pede aos Seus discípulos: que se amem, como Ele, que está no Pai, nos ama.
A Pedra Viva também é chamada “semente de trigo que morre para dar a vida”. O edifício da Igreja também é comparado como corpo místico ou com a videira, e assim como o cimento une os tijolos, a videira tem a mesma seiva dos ramos, e o corpo o mesmo sangue… É o Espírito que nos une a todos e nos faz irmãos uns dos outros.
O Amor é a linguagem dos irmãos em Cristo… E só ele constrói o edifício espiritual da Igreja e do mundo.

Vitor Espadilha