Urgente mudar

Querubim Silva Padre. Diretor

Querubim Silva
Padre. Diretor

O assunto não é novo. Mas é cada vez maior a urgência de o encarar de forma corajosa e tomar decisões que ultrapassem as simples orientações. Aliás, corresponde a um desiderato do Papa Francisco: purificar a Igreja das tentações do mundanismo e potenciar a religiosidade popular como modo de verdadeira vida cristã. Trata-se, como se imagina, das “festas religiosas”.

O verão, que, sem ter chegado, se encaminha para o seu termo, foi farto de “chapéus religiosos” para dar cobertura às mais aberrantes manifestações de brejeirice, para as loucuras de insultuosos gastos, para desordens emocionais sem conta, às vezes mesmo violentas…
As estruturas de promoção das festas religiosas têm de ser elevadas à condição de comissões cristãmente convictas e exigentes, perfeitamente integradas num espírito de renovação eclesial, apoiadas por pastores conscientes e dados a um projeto de nova evangelização que apresente as motivações e os caminhos da verdadeira alegria, solidariedade cristã e elevação espiritual que a piedade popular pode proporcionar e desenvolver.
Não podem ser grupos estranhos à vida da comunidade, quando não hostis, a liderar estas iniciativas. Movimentam-se muitos milhares de pessoas nestas manifestações “religiosas”, que têm o direito de auferir de um alimento que não seja uma panaceia. O enquadramento de “cerimónias religiosas” deixou de ser uma séria preparação, para ser a justificação de noitadas antes do dia D. Inverteram-se os papéis: o essencial agora são os arraiais, ornamentados com alguns “números religiosos”. Naturalmente que, nestas circunstâncias, nem sequer é possível preservar o condigno espírito de alegria cristã do serviço religioso.
Para já não falar na distorção litúrgica que é a mudança de conveniência das festas litúrgicas para ocasiões que permitam juntar maior número de romeiros. A presença dos nossos emigrantes no verão pode ser assinalada e valorizada com outros tipos de iniciativas festivas e conviviais, sem lhes indexar as festividades religiosas locais.
Seremos suficientemente corajosos para dar passos em frente nessa direção? Tivemos, na diocese, exemplos bem firmes no passado. Depois, fomo-nos deixando embalar nesta onda de “gargalhada de caveira”. É tempo de mostrar a genuína Alegria do Evangelho!