Em fevereiro passado, quando da saída de D. António Francisco para o Porto, prometi que quando fosse possível o iria visitar à sua nova Diocese, e prometi que se me fosse possível levaria comigo esta fantástica aragem de Aveiro a cheirar a maresia.
Usando na altura o “santo praguedo” da gente de Aveiro, dizia que estava muito chateado com a sua saída da nossa Diocese. Mas como tenho o Porto como a minha segunda cidade, e como vejo os portuenses como se fossem de Aveiro, não tinha, e continuo a não ter, a menor das dúvidas de que ele iria ser recebido nesta cidade com a mesma abertura, e com a mesma simpatia, e com a mesma esperança cristã como havia sido recebido na minha terra.
O que nos últimos dias se tem passado na paróquia de Canelas da Diocese do Porto, não tem nada a ver com as pessoas da região do Porto.
O que a televisão trouxe a minha casa, foram imagens de ódio, de intolerância, de frases cheias de maldade, de ataques soezes ao Bispo e aos Padres de que não gostam. Mas o pior e o mais grave é que assisti, e toda a gente pôde ver na televisão, o desprezo absoluto que aquela gente mostrava por Cristo e pela sua – e nossa – Igreja. Porque o celebrante não era o seu padre, recusaram-se a entrar na Igreja, provocando um sururu ensurdecedor no exterior, como se celebrassem a sua missinha lá fora. Nem repararam que quem estava dentro da Igreja era Cristo, de braços abertos à espera que todos entrassem na sua Igreja. Naquela multidão, pelo que nos disseram, estavam catequistas, escuteiros, e tantas outras pessoas ligadas à paróquia. Ou têm andado distraídos na sua prática religiosa, ou pela sua intolerância, ia a dizer até pelo seu ódio, nem tiveram a consciência de que estavam a virar as costas a Cristo, que estava dentro da Igreja à sua espera.
Pelo que me chegou através dos relatos dos jornais, tenho de chegar à conclusão de que ainda há muita gente que está na Igreja por causa de causas menores, como no caso presente pela simpatia para com certo padre, e não por causa de Cristo.
Apetece-me perguntar: que raio andou a fazer o ex-pároco de Canelas naquela paróquia, que andou ele a pregar por aquelas terras durante oito anos, que bastou o seu afastamento, para que as pessoas mostrem tanta fragilidade na sua adesão à Igreja? As pessoas não estão na Igreja por causa de Cristo, mas estão pela sua adesão a um padre Roberto qualquer?
Quando em Fevereiro passado manifestei o meu desgosto pela saída para o Porto de D. António Francisco, escrevi: “E o facto de me manifestar neste momento, muito “chateado”, pode ser motivo de escândalo para alguns. Desculpem-me por isso. A Igreja tem-me ensinado que só por ser Cristão, tenho a obrigação de lutar pela justiço, pela verdade e pela dignidade. Não me custa reconhecer que a história da Igreja está cheia de ações perfeitamente condenáveis, ou reprováveis, dos próprios cristãos. E por vezes há erros, que não sendo condenáveis ou reprováveis, não deixam de ser erros. Erros que eu suporto como elemento desta Igreja. E se algum elemento desta Igreja comete uma “argolada”, essa “argolada” também me atinge a mim.”
Sinto-me profundamente atingido pelo espetáculo degradante que os cristãos da paróquia de Canelas, do Porto, ofereceram a todo o País.
E até me apetece tornar público um facto que um dia se passou na minha vida de militante cristão: Tive um dia um grave desaguisado com um alto responsável da Igreja da minha Diocese. E eu lembro-me de ter dito, no calor da refrega, mais ou menos isto: “Pode V. Excelência cometer comigo todas as injustiças, que nada me levará a afastar da Igreja. É que meu patrão não é o senhor. O meu patrão é Cristo, e é por causa dele que eu continuo a andar por aqui”. Já me penitenciei pelo calor que na altura pus nesta discussão.
E lembrei-me agora deste facto, porque me parece que para aqueles manifestantes de Canelas, o patrão religioso não é Cristo, mas um qualquer padre Roberto.
Todos estes acontecimentos têm provocado em mim uma grande tristeza: não apenas por se passarem na minha Igreja; não apenas por se passarem com meus irmãos em Cristo; mas também, e principalmente, porque aquelas pessoas escolheram para vítima um grande Bispo. Aquelas pessoas ainda não tiveram tempo para conhecer o grande Bispo que Deus lhes deu. Não tenho dúvida alguma, que todos aqueles manifestantes, quando reconhecerem o enorme sofrimento que por certo estão, neste momento, a provocar em D. António Francisco dos Santos, serão os primeiros a penitenciarem-se.
Nas palavras que escrevi em Fevereiro, dizia: “É certo que o barco vai ser outro. Eu por mim continuo a preferir a leveza e a elegância do moliceiro, se comparado ao rabelo. Mas rezo a Deus para que os remos não sejam mais pesados, e que os colaboradores que vai encontrar sejam igualmente dedicados e ao seu lado em todas as circunstâncias. Que Cristo estará ao leme desta sua nova barca, disso não tenho a mínima dúvida.”
Dizia na altura, e repito hoje: “Estou certo que por aqui ficarão, nesta retaguarda da ria, um grande exército de voluntários a torcerem, a rezarem, para que também nessa terra do Porto, se sinta em casa. Deus que lhe pediu este sacrifício, estou certo de que estará sempre ao seu lado”.