As sementes, as técnicas e as árvores

MARTA OLIVEIRA
Mestre em Ambiente e Comunicação

Com alguns meses de intervalo, tive a oportunidade de visitar dois locais onde se ergueram duas árvores centenárias, da mesma espécie. No primeiro, junto à antiga escola que frequentei, já só restava o espaço, vazio; perguntei a um jardineiro da Câmara pela árvore. Explicou-me que esta tinha adoecido e morreu, e, por isso, cortaram-na. No segundo local, apesar da azáfama dos trabalhadores da empresa de construção, a árvore mostra-se firme, dentro da estrutura protetora que lhe colocaram em volta; quando terminarem as obras e os novos edifícios estiverem concluídos, será possível admirar a antiga árvore, onde sempre esteve.
Wangari Mathaai (1940 – 2011), ativista ambiental, professora e política do Quénia, distinguida com o Prémio Nobel em 2004, disse certa vez: “Uma coisa é plantar uma árvore, outra é fazê-la sobreviver.” Wangari fundou o Green Belt Movement (“Movimento Cinturão Negro”) em 1977, numa altura em que as mulheres do campo e da cidade se aperceberam que não havia fruta, água nem lenha suficientes para as necessidades das suas famílias. Apesar de sentirem que não dispunham de conhecimentos, dinheiro ou tecnologia, seguiram em frente; muitos foram os que não acreditaram que iriam conseguir plantar os quinze milhões de árvores a que se propunham.

 
Como não tinham dinheiro para comprar as sementes, produziram as suas próprias sementeiras. Como não dispunham de tecnologia avançada, decidiram plantar as sementes da mesma forma como faziam com o milho e outros cereais seus conhecidos; por forma a que as galinhas e as cabras não comessem as sementes, desenvolveram “técnicas avançadas”: colocavam os vasos num sítio alto.
A plantação de árvores também contribuiu – e contribui – para evitar a erosão dos solos, e ter sombra.
Para Wangaari (na imagem ao lado) e suas companheiras de luta, o gesto de plantar árvores era um símbolo de esperança e capacitação. As suas vidas não foram, de todo, fáceis. Wangari foi ameaçada várias vezes e chegou a ser detida – vale a pena ler o livro* “Indomável – Uma luta pela liberdade” e espreitar o sítio da internet da Fundação Calouste Gulbenkian, em https://gulbenkian.pt/os-direitos-humanos-e-os-desafios-do-seculo-xxi/manual/wangari-maathai/, onde se pode ler uma entrevista baseada no livro de Kerry Kennedy, “Diz a Verdade ao Poder” (2000).
Numa altura em que se celebra o Dia da Terra, talvez seja útil pararmos um pouco para pensar se estamos a cuidar das árvores que plantamos. Se podemos colocar em prática algumas “técnicas avançadas”, ou perguntar a quem sabe mais do assunto, que técnicas inovadoras poderemos usar…

 


*Wangari Mathaai. Indomável – Uma luta pela liberdade. Editora Bizâncio (2007).