Com o novo Bispo, uma nova oportunidade

FLAUSINO SILVA Empresário

FLAUSINO SILVA
Empresário

É a segunda vez depois da Restauração da Diocese, que um novo Bispo entra sem que o seu predecessor esteja presente ocupando a cadeira de Bispo Residencial. Aconteceu com o Senhor D. Manuel de Almeida Trindade, nomeado em 16-09-62, com a tomada de posse em 8 de Dezembro do mesmo ano. D. António Manuel Moiteiro Ramos, o nosso novo Pastor, ora nomeado, entrará na Diocese, oficialmente, no próximo dia 14 de Setembro.

D. João Evangelista
A idade permitiu-nos conhecer todos os Bispos que orientaram os destinos da Diocese depois da sua restauração, que ocorreu, precisamente no ano em que nasci. Não tivemos uma relação de proximidade com o Senhor D. João Evangelista de Lima Vidal, mas admirávamos a bondade e o calor humano que irradiavam da sua presença.
Mas o Senhor D. João foi um Bispo distante de nós, os leigos, mesmo dos que tínhamos alguma responsabilidade nos organismos da Acção Católica, implantados na Diocese depois da sua restauração.

D. Domingos
Essa distância foi extraordinariamente encurtada com o Senhor D. Domingos da Apresentação Fernandes, nomeado Bispo Auxiliar em 13-12-1952 e Bispo Residencial em 11-08-1958, com a morte do Senhor D. João Evangelista.
O Senhor D. Domingos fez uma mudança radical no modo de conceber e realizar a Igreja na Diocese, antecipando o que muitos anos mais tarde o Concílio Vaticano II consagrou, nomeadamente quanto à dignidade e missão dos Leigos.
Vale a pena recordar, a propósito, o que ele escreveu, na sua carta de 31-08-1959, dirigida à Comissão Pontifícia Antepreparatória do Concílio, da qual retiramos o seguinte excerto: “Determine-se, com maior precisão, a doutrina sobre os leigos” e quais são “os seus deveres e os seus direitos”; “diga-se estritamente o que é a Acção Católica”.
Ele tinha uma profunda ligação ao trabalho pastoral de base e aos Movimentos da Acção Católica, de que foi um dos maiores dinamizadores. Não foi por isso de estranhar que, ao promover as conhecidas (?) Missões Regionais, ele tenha chamado a participar nas equipas de Missão os leigos mais responsáveis dos Movimentos Diocesanos, levando-os a ir às paróquias falar a jovens, a casais e adultos, numa ímpar acção evangelizadora.
Foi também ele que primeiro reconheceu a importância do trabalho dos Leigos na diocese, apoiando os Movimentos de forma decisiva e criando condições de trabalho para realizarem a sua missão. Chegou ao ponto de colocar o seu carro e o motorista à disposição dos dirigentes para os levar a participarem nas actividades nacionais. Eu próprio beneficiei deste incentivo.
Chamou as pessoas, motivou-as e confiou-lhes, sem reservas, a realização das missões de evangelização, das comunidades e dos ambientes, em verdadeira comunhão eclesial.
Foi precursor na organização e acção pastoral da diocese tendo a sua morte prematura, em 21-01-1962, interrompido um fecundíssimo múnus episcopal.

D. Manuel
Seguiu-se-lhe o Senhor D. Manuel de Almeida Trindade, vindo de Coimbra com a auréola de Bispo intelectual, mas que, bem depressa, se revestiu de grande importância para a diocese, pela profundidade do saber e pelo peso institucional que assumiu, nomeadamente na Conferência Episcopal Portuguesa.
O Concílio Vaticano II foi o acontecimento que concentrou as atenções da Igreja no período da sua realização – 1962 a 1965 – e que reconheceu aos leigos a dignidade de membros de pleno direito da comunidade eclesial, bem como os seus direitos e deveres, como D. Domingos tinha preconizado na carta acima citada.

D. António Marcelino
A chegada de D. António Marcelino, em 1980, com a sua formação e o seu dinamismo pastorais, exercitados como assistente da Acção Católica, enquanto Sacerdote, como 0 paladino da divulgação dos documentos do Vaticano II e, depois, como responsável pastoral pela zona do Oeste do Patriarcado, vieram dar à diocese um novo impulso, tornando-a, em muitos aspectos, uma das mais desenvolvidas do país.
Foi com estes dois Bispos que atravessamos o período da mudança política subsequente ao 25 de Abril, mantendo a diocese coesa e forte, mau grado as incidências e os efeitos sociais e religiosos que a revolução arrastou.
Foi com o Senhor D. António Marcelino que se realizou a comemoração do Cinquentenário da Restauração da Diocese, iniciada com uma caminhada preparatória de mais de um ano, em que, leigos de todas as actividades e profissões, se reuniram em grupos e reflectiram sobre o seu papel de cristãos em Igreja .
Esta caminhada foi concluída com a realização de umas jornadas, de 8 a 11 de dezembro de 1988, com a participação de mais de 400 cristãos, culminando com o Congresso Diocesano dos Leigos, que teve o seu epílogo no desfile de milhares de pessoas pela Avenida Dr. Lourenço Peixinho e na apoteose realizada no pavilhão octogonal da antiga Feira de Março, ao som da cantata escrita pelo Cónego Ferreira dos Santos.
Mas a Diocese não ficaria por aqui com o Bispo D. António Marcelino: a realização do Sínodo, de 1990 a 1995, e as conclusões assumidas pela Igreja Diocesana e publicadas em livro foram um passo de gigante, pela profundidade das análises, das discussões, e da validação das propostas que brotaram do trabalho de base de centenas de grupos sinodais constituídos por toda a diocese.

D. António Francisco
No espaço de tempo que ocupou a cadeira episcopal – 2006 a 2014, o Senhor D. António Francisco dos Santos fez jus ao trabalho dos seus antecessores: tornou-se muito próximo, tanto dos Sacerdotes, como dos religiosos e dos Leigos, desceu às paróquias, suscitou a sua vivencia cristã, mexeu com os seus membros, aproximou-se de todos, quase que um a um.
Empreendeu, com a Missão Jubilar, uma nova restauração pastoral, na celebração dos 75 anos da diocese. E interrompeu, de forma inesperada, para ele e para nós, a continuidade dos dinamismos gerados pela missão.
D. António Moiteiro
E eis que está a chegar o novo Bispo!
Com ele abrir-se-á, como aconteceu com os seus antecessores, um novo ciclo de vida da Igreja Diocesana. Cremos que, pela sua juventude e formação, trará muita energia vital de que a Diocese carece para prosseguir na senda da Nova Evangelização. Mas a Diocese também precisa de criatividade e de inovação no processo de Pastoral.
Há um enorme acervo de estudos, trabalhos e orientações, acumuladas pelo trabalho desenvolvido com o Congresso de Leigos, com o Sínodo Diocesano e com a Missão Jubilar, para só falarmos das realizações mais importantes levadas a cabo nos últimos 25 anos. Será que a maioria dos Leigos e Sacerdotes conhece e tem presentes estes resultados, doutrina e orientações acumuladas?
Ao recebermos o novo Bispo sejamos capazes de evidenciar o que já foi feito e de lhe propor que ponhamos em prática as orientações e planos traçados, em consonância com o Vaticano II e com as recentes orientações do Papa Francisco de irmos ao encontro do Povo de Deus, sobretudo do que que se situa nas periferias. Que se coloque no topo da agenda diocesana o papel dos Leigos e dos Movimentos evangelizadores, bastante esquecidos e desvalorizados com os novos tempos.
Porque muitos já não conhecem e nem sequer ouviram falar, nem no Seminário, nem nas paróquias, destes Movimentos, cuja missão é evangelizar as pessoas e os ambientes, ligando a Fé à Vida, para a tornar mais alegre e feliz.
Há centenas, senão milhares de jovens e adultos, que fizeram caminhada em Movimentos e em Igreja, que trabalharam em grupos e que correm o risco de ficarem à margem por não se verem envolvidos!
Os futuros Planos Diocesanos de Pastoral tem de envolver a Igreja toda como um todo!
É essa a esperança que depositamos com a vinda do novo Bispo!