Dignificação salarial

Acácio F. Catarino Sociólogo, Consultor Social

Acácio F. Catarino
Sociólogo, Consultor Social

Apesar da tendência para a degradação salarial, existem dinamismos que atuam em sentido contrário; talvez que o mais meritório seja a luta pela subsistência. Nesta luta encontram-se empenhadas as famílias em geral, os trabalhadores e empresários comprometidos na viabilização das empresas e na obtenção de rendimentos condignos. Provavelmente, a maior parte das famílias, bem como dos trabalhadores e empresários encontra-se empenhada nesta luta. Também provavelmente, uma alta percentagem de jovens – licenciados ou não – realiza, em péssimas condições, um trabalho extraordinário a favor da dignificação salarial: aceita salários inferiores às suas expetativas, procura valorizar as atividades profissionais e não perde de vista as melhorias salariais a que aspira. É igualmente notável o trabalho da negociação coletiva entre representantes sindicais e empresariais que, sem alardes e no meio de dificuldades extremas, procuram os entendimentos possíveis.
Porém, as forças promotoras da degradação salarial, referidas no artigo anterior, continuam a prevalecer sobre os dinamismos promotores de dignificação; recordo que se destacam, nelas, a opressão ancestral, as ditaduras do capitalismo e da contestação sistemática e os limites naturais ao crescimento. As duas ditaduras correspondem aos dois contendores na luta de classes: o capital e o trabalho, quando empenhados na destruição mútua. O grande capital atua no plano transnacional, e é inacessível às lutas laborais internas, que acabam por contestar, sobretudo, o capital nacional, que é relativamente pequeno, e o governo; contestam, precisamente, as forças com as quais precisariam de cooperar para enfrentarem o poder transnacional… Deste modo, quanto mais se «entretêm» nas lutas internas mais esse poder fica liberto para intensificar a degradação salarial; e melhores condições se criam para a prosperidade dos seus alidados internos – os empresários sem escrúpulos.