Missão – uma paixão

 

Querubim Silva Padre. Diretor

Querubim Silva
Padre. Diretor

O início de um novo ciclo pastoral na Diocese de Aveiro terá, necessariamente de trazer novidades. O Evangelho permanece; mas aqueles que o vivem e anunciam mudam, vivem circunstâncias diferentes. Urge, por isso, que retirem desse tesouro inesgotável a frescura da inspiração para cada tempo e cada circunstância cultural.
Julgo importante voltar a citar aqui palavras do Papa Francisco. Esta hora é de convocatória a todos para a missão. A formação cristã prévia, a qual, por princípio, é um caminho a percorrer, pode tornar-se uma praxe inócua, que “fabrica” diplomados sem alma, sem fogo apostólico. A história de todos os tempos, mas sobretudo a recente, prova isso à saciedade. Percursos, itinerários, cursos… e debandada geral com a “caderneta preenchida”. Diz o Papa: “A nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada um dos batizados. Esta convicção transforma-se num apelo dirigido a cada cristão, para que ninguém renuncie ao seu compromisso de evangelização, porque, se uma pessoa experimentou verdadeiramente o amor de Deus que o salva, não precisa de muito tempo de preparação para sair a anunciá-lo, não pode esperar que lhe deem muitas lições ou longas instruções” – EG 120.
Contagiar com esta experiência do amor de Deus, comunicar vida de alegria e esperança, estimular e acolher tudo o que há de bom em cada um, formar em contexto de experiência de vida comunitária fraterna, proporcionar o diálogo em todos os círculos possíveis, iniciar na simplicidade da oração… Tudo isto despertará, seguramente, o gosto da reflexão sistematizada, o apetite para receber o trabalho útil dos teólogos.
Outro aspeto que considero importante é fazer a receção adequada ao Concílio Vaticano II naquilo que aos leigos diz respeito. Nunca é demasiado insistir no caráter secular da espiritualidade dos leigos. O seu campo de santificação e de exercício de apostolado é o estatuto de vida que assumem e o mundo onde se movem diariamente: o trabalho, a atividade social e política, a intervenção artística e cultural.
Uma Igreja que conta só com ministérios e serviços – mesmo com muitos ministérios laicais – voltados para a sua própria vida é “autorreferencial” e torna-se incapaz de “sair”, de ser missionária. A promoção dos movimentos laicais, novos e menos novos, sobretudo aqueles que vivem no cerne do quotidiano do povo, é caminho de nova era para a Igreja e para o Mundo. Urge semear no coração desses militantes as motivações para a evangelização de que nos fala o sucessor de Pedro.
Antes de mais: “é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-lO cada vez mais” – EG 264. A certeza de que Ele caminha connosco, fala connosco, respira connosco, trabalha connosco e aperfeiçoa-nos. É senti-lO vivo connosco, no meio da tarefa missionária – cf. EG 266.
Depois, o gosto espiritual de ser povo. “É preciso também desenvolver o prazer espiritual de estar próximo da vida das pessoas, até descobrir que isto se torna fonte de uma alegria superior. A missão é uma paixão por Jesus e, simultaneamente, uma paixão pelo seu povo” – EG 268. Mesmo no cerne da vida contemplativa tem de estar presente esta paixão pelo povo, tem de ser ele o destinatário dos frutos dessa escolha de intimidade com Deus. Toda a diversidade de carismas e serviços urge que seja repassada por esta paixão. Há movimentos eclesiais vocacionados para dar visibilidade clara a esta paixão eclesial. Não estão ultrapassados! Necessitam de carinho e estimulo!
“Não há maior liberdade do que a de se deixar conduzir pelo Espírito, renunciando a calcular e controlar tudo, e permitindo que Ele nos ilumine, guie, dirija e impulsione para onde Ele quiser. O Espírito Santo bem sabe o que faz falta em cada época e em cada momento” – EG 280. Este é o sentido do mistério, que nos alimenta a esperança nas dificuldades ou mesmo fracassos.
É assim que esperamos e desejamos a vida da Igreja de Aveiro! Sempre com o sentido de intercessão uns pelos outros, para nos gastarmos generosamente na evangelização e procurarmos o bem dos outros.